Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Ana Cecília de Souza Bastos 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

Ana Cecília de Sousa Bastos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bernini_Bacchanal_A_Faun_Teased_by_Children

 

Da Vinci, Cabeça de mulher, estudo

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Ana Cecília de Souza Bastos


 

Bio-bibliografia


Nascida em Salvador, ela vem de uma família cearense. Por isso passou a infância, como diz, entre o mar da Bahia e o pé-de-serra da Chapada do Araripe, no Crato, Ceará. Quem sabe essa vivência entre o mar e o sertão tenha aguçado a observação da menina para ver e sentir coisas e pessoas e transfundi-las em versos, obedecendo "à doce tirania da palavra".

Psicóloga e professora da UFBa, ela escreve desde a adolescência. Fez uma edição de autor aos 22 anos e andou publicando textos esparsos. Em 1999, Ana Cecília conquistou o prêmio Copene/Fundação Casa de Jorge Amado, com o livro Uma Vaga Lembrança do Tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

Ana Cecília de Souza Bastos


 

Da dor


A dor é algo como se não fosse.
Derrapagem à beira do abismo
(aquele como se não estivesse).
Holofote sobre escura porção de sombras.
Eco à revelia do próprio eu
re-ver-be-ra-ção
por sobre o dia.
Fissura aberta minando,
ora esquecida ora sempre,
em alguma parte do corpo
como se fosse o todo.

Dasdô?
Na infância era uma prima
e seus olhos encovados.
 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), João Batista

Início desta página

Ronaldo Cagiano

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Memories, detail

 

 

 

 

 

Ana Cecília de Souza Bastos


 

Vestígios


Estranha pulsão, esta:
derramar no caderno porções de alma.
A mão, captando sinais invisíveis.
Lenta, no formigueiro em marcha.
Absolutamente só,
enquanto todos perseguem a sagrada hora do
[ trabalho
e dos compromissos bancários.

E depois, palavras escondidas em oculto caderno,
papel rasgado, para que delas não sobrem
vestígios.
 

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

Início desta página

Luís Manoel Paes Siqueira

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

Ana Cecília de Souza Bastos


 

Agenda


Decididamente não me interessam as vãs soluções,
nem as posições corretas
— essas respostas que a gente busca na opinião
[ informada,
antes de conferir o próprio desejo;
nem os dados que o banco ou a polícia já guardam por ofício,
nem como envelhecemos igual
— por força não da idade, mas do hábito.

De todas as perguntas,
só quero reter a centelha.

Desejo saber a que horas do dia encontro no céu
[ este azul de agora.
Desejo saber a que horas da vida há este sorriso
[ nos olhos dos filhos.
Desejo saber quanto dura a paixão pela vida.


 

 

 

Leonardo da Vinci, Embrião

Início desta página

Ildásio Tavares

 

 

 

 

 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

Ana Cecília de Souza Bastos


 

Jugo


Obedecer à doce tirania da palavra.
Anular censura, momento, lugar.
Deixar no papel o verso líquido,
esse pálido espelho da alma.
Enquanto deixo-me estar,
impressionada pela cor da palavra
"pálida".

 

 

 

Valdir Rocha, Fui eu

Início desta página

José Inácio Vieira de Melo

 

 

 

22.11.2004