Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Head of an apostle looking upward

 

Rubens_Peter_Paul_Head_and_right_hand_of_a_woman

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Aurelino Costa


 

Bio-bibliografia:

 

AURELINO COSTA
(Argivai, Póvoa de Varzim,1956). Poeta, Diseur, Advogado.

Obra:

  • Poesia Solar (Ed.Orpheu, Lisboa /92).

  • Na Raiz do Tempo (Ed.Tema, Lisboa 2000).

  • Pitões das Júnias – Tões de Aurelino Costa com Anxo Pastor-(Ed. Fluviais, Lisboa e Galeria Arcana/Vila Garcia de Arousa, 2002);

  • Amónio (Ed. Do Buraco, Lisboa/03);

  • Na Terra de Genoveva (Ed.Do Buraco,Lisboa/05)

Discografia :

  • Na Voz do Regresso.(Edição comemorativa do centenário do nascimento de José Régio. Ed.C.M. da Póvoa de Varzim/01,com António Victorino D’Almeida, J. Moura, Abel G.e L.Veloso.

Publicações digitais:

Antologias :

  • A Poesia é Tudo (Ed. Francisco Guedes / Correntes D’escritas/04)

  • Na Liberdade – 30 anos – 25 Abril (Garça Editores/Peso da Régua/04)

  • Vento/Viento -sombra de vozes/sombra de voces (Ed.C.M. do Fundão e C.E.L.Y.A/04)
     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

Aurelino Costa


 

Na Raiz do Tempo


Teu corpo
-ócio de alga e sal
na vastidão do azul

permanece

E o tacto do sol
Na vulva da ilha

Bebe-se
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Aurelino Costa


 

Pitões das Júnias


O vento escreve
Silêncio
Na neve

Era o olhar
De quem olhava mais longe

E afagava o gado mais

Que a mulher
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aurelino Costa


 

Amónio


É inverno a alma,
o espólio

restam ratazanas

o mais novo dos cabisbaixos
vai moendo o luto
o único
que fala directo

A maioria urinava no pátio e
Só um usava bigode, chamavam-lhe
O corno de leite.

Nenhum deles fumava e só um contava
Pelos dedos

-Falta entrar o José, Entrar!

O David irmão de Mariana
Por tradição

Tudo isto foi pensado
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aurelino Costa


 

Na Terra de Genoveva


o desejo afrontou os passeantes
os tão melancólicos
sorriam para o carro fúnebre

e despiam olhares finos
sobre o féretro

-pomba lúcida num desmesurado cansaço
posando para a eternidade

de encontro ao muro a urina dourada
de um burro

a compasso
o lastro dos santos
incomoda

no cilício do afecto
medra um gato

-sina de presbítero
este condão de adormecer para o mundo

sob o lajedo
um cão cata- se
em volvo chão

canções de caos menor
ululam no céu

a excomunhão facilitará o estado de pentecostes
a que chegaram os homens .

engordurado o medo atrai o fósforo e ataca o chão. Porque morde?

apenas no eco da chuva
o teu nome

chapinha.

Um coveiro toma chá
debruçado sobre a campa da mãe
e suplica que lhe paguem o serviço

Os cactos despontam
Filhos dispersos
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Aurelino Costa


 

O dia de hoje!


Cenouras nas árvores
em pampa lustrem as várzeas

bezerros lusófonos pastam de missal
pedros e putas ensaiam a imposição das cinzas
quando, claro orvalho?

Secam feéricas as bentas dos anos
Poejos de mel gotejam flácidos a borbulhar

Lúcifer afronta o quarto sujeito de ânus velho
papa a mosca na casta bulha do leite
e despe-se no espelho da fome …

Quando, claro orvalho?

Tulipas finas de teu rosto amarelo
Ensaibram as vestes coléricas de roma
E tomam o silêncio por vinho …

Sache em salto e pique a monda fetal danos d’hei
Claustro d’osso em circunspectos

ópera do mar em teus ombros

O claro orvalho na língua de fogo
êmbolo azul em domingo antigo
núncio d’astros num fulminado roseiral

mãe, antiga mestra de meu ósculo novo
agora sou bovino e touro, que fazer no jogo?
dorme a estátua branca em dentes d’ouro!

Látego filme do que não há na pele do gomo
Encanastra até ao gume tudo o que nos consome
amor dório em estardalho lume

foco a verruga no olho casto de santo – sanitário do fogo
mergulho o cabelo comprido no lago de teu rosto
dispo e unto o seio no húmus da luz cistina dos séculos

quando?, até quando sacro orvalho da manhã d’outono ?
 

 

 

 

 

 

 

 

14/07/2005