Gilson Nascimento
Noite de São João
A festa qui nóis fizemo
No convite já dissemo
Mas car ece ispilicá
É pra mode arrelembrá
Do São João que se passou
São João das fogueira grande
Das labareda bunita
Que assubia lá pra riba
Lambendo a cara da noite
Levando junto com ela
O grito das meninada
Os papouco dos foguete
As reza da gente grande
O gargaiá da moçada
São João das bacia dágua
Friinha de fazê gosto
Pra gente oiá bem no fundo
E percurá pela cara
Quando a cara aparecia
Meu Deus, qui sastifação!
A criatura vivia
Inté o outro São João
Mais porém quando essa água
A cara do ente escondia
Valei-me, Virge Maria
Mal sinal, assombração
Pro mode qui a morte vinha
Dizia os véi, os antigo
Com a sua foice bem grande
Antes do outro São João
São João das comida boa
Faz minha boca miná
Cangica, pé-de-moleque
Pamonha, mi, aluá
São João das bomba estourando
Dos busca-pé percurando
Muié mode aperreá
Dos coió e das rodinha
Dos traque, das estrelinha
Quaje sem luz, pobrezinha
Num briava, mais porém
Infeitiçava o oiá
Afiado, afiada
Padrim, madrinha também
Dando volta na fogueira
Com as mão bem agrudada
Dando nó nas amizade
Arrochando os parafuso
Dos amô, das afeição.
São João qui taqui guardado
No meu véio coração
Coração já mei cansado
Mas quinda bate avexado
Toda vez que o calendaro
Me amostra na sua fôia
Que é noite de São João
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