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Maria Rita Kehl 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona

 

Leonardo da Vinci, Embrião

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

 

 

 

Maria Rita Kehl


 

pompéia


Cachorros lâmpadas
pernas das meninas


rua de pedra se precipitando
do alto sobre o mundo incendiado


Avião furando nuvens
galho seco na sarjeta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

Maria Rita Kehl


 

corte de cabelos para ficar triste


Tipo faça-você-mesma. Trabalho incansável.

Pode durar uma noite -- ou mais -- fio por fio --

a memória na ponta da tesoura,

obcecada,

Medo crescente. Medo até a paixão.

Ou até conferir pelo espelho:

aquela lá morreu mesmo.

 

 

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

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Raymundo Silveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Exposition of Moses

 

 

 

 

 

Maria Rita Kehl


 

recurso


O método faz milagres.
Passar no quarto das crianças antes de deitar
só matar os insetos comprovadamente nocivos
sair lá fora no escuro, cinco minutos na primeira noite,
dez na segunda, até conseguir no mínimo uma hora de [contemplação
sem terror.


O método tece uma teia ——
horários —— rotas de ônibus —— receitas ——
telefonemas na 6a. ——
caderninhos ——


quando a trama é bem firme e cada gesto idiota adquire sentidos [surpreendentes
imprescindíveis depois de algum tempo
capazes de sustentar uma existência inteira.
 

 

 

 

Rembrandt, Holanda, 1606-1669, A volta do Filho Pródigo

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Ronaldo Costa Fernandes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

Maria Rita Kehl


 

mato grosso


Meu irmão é um cowboy guiando a kombi
calado,
premonitório.
Ele atravessa os véus dourados de poeira
estendidos na estrada a dois palmos do chão.


Outra vez é essa hora do dia
quando o olhar procura os últimos sinais de luz
entre a faixa violeta dos morros e a unha da lua


outra vez essa hora que unifica os mundos.


e em Minas Gerais, no Mato Grosso, litoral paulista,
em Manhattan que eu não vi, campos tristes,
outra vez, é essa hora,


quando as coisas se lamentam.
choro de bois, sinos graves,
mulher louca de sexo e tédio
desolada
porque tudo é tão lindo e nenhum deus existe.
 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

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Everaldo M. Véras

 

 

20.03.2006