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Soares  Feitosa

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Soares Feitosa, dez anos
   
 
 

A menina afegã

Neste bloco:

Fernanda Benevides

Francisco Carvalho

Geraldo Oliveira Lima

Jaumir Valença

Millôr Fernandes

Nilto Maciel

Ozael Carvalho

Ruy Vasconcelos

 

 

Culpa

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

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Um cronômetro para piscinas

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal de Filosofia

 

 

A menina afegã

 

 

Ruy Vasconcelos


SF

o dístico inicial de seu poema 'habitação' ("nem sei dizer onde moro exatamente/ desconfio que habito dentro de meus dentes") foi uma das imagens mais bem apanhadas que li nos últimos tempos. uma beleza. também pela sonoridade (como todos esses "ds"  e "ts" aliterando-se). agora, a concepção que rege todo o poema - o corpo como casa ou templo - é bem interessante. e pela esteriotipia que põem em cheque já a partir desse soberbo dístico.

e quem somos nós para acharmos os limites precisos entre o que somos e o que deixamos de ser? 

falo em limites precisos, mesmo. fronteiras bem demarcadas. e desonfio que as vezes moramos fora de nossos dentes. em comunhão com lua ou mulher.

afinal, o corpo é mais que uma mala, um jarro. ou algo que a gente pode rebocar daqui pra ali. ou mesmo depachar na alfândega dos sonhos. tão-só "morada do espírito".  sorte de repositório, cisterna.  

mas, claro, é nele onde  ianugura o bom senso, a pureza d'alma. e possui o olho, esse milagre. essa janela mais porta ("o sol entra pela porta/ e o luar pela janela"), como diz certo refrãozinho de nossa terra --- talvez trazido de trás-os-montes.

parabéns pelo poema.

ruy

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

Millôr Fernandes


Rio, 26.10.94

Meu caro Zé Soares

Estou embaralhado com sua magnífica, estranha poesia (sociologia, filosofia? - bota ái) misturada no computador.

Meus parabéns, mas a não ser nisto, não me leve a sério.

Abraço Fraternal

do Millôr

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

José Saramago, Nobel

 

 

Fernanda Benevides


 

Tresvario

"Abram-se as janelas
que aqueles canários fugidos da gaiola
podem voltar."

Soares Feitosa

Inquieta fiquei, ao desvestir-te

Um vento forte perpassou-me o corpo, buliçoso,

trascalando imburana

 

E o sopro

b-a-l-a-n-ç-a-d-d-o   d-e-v-a-g-ar-i-n-h-o

acordou as traquinas carrapetas

num "quase estalar" de dedos...

 

11.08.1997

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

José Saramago, Nobel

 

 

Francisco Carvalho


 

O poeta Francisco José Soares Feitosa, cearense radicado na cidade do Recife, me aparece na Reitoria da UniversidadeFrancisco Carvalho Federal do Ceará, acompanhado do poeta Juarez Leitão, e, com aquela desenvoltura de um lutador de artes marciais, entrega-me denso volume de textos poéticos, através dos quais ele canta,   com verve poderosíssima e espantosa luxúria verbal, as terras, as águas, os ventos, as pedras, as areias, os rios e as diásporas do povo nordestino. 

Diz Gerardo Mello Mourão, que a primeira impressão que nos fica da poesia de Soares Feitosa é a de que ela nos entra “pela sala e pela alma como um vento elementar”.

Tem toda a razão o grande épico do Ceará, os textos poéticos de Soares Feitosa, concordemos ou não com as posições estéticas por ele adotadas, transmitem uma vigorosa sensação de força e de liberdade, como se as palavras consubstanciais ao poema fossem sacudidas por um “vento elementar”, vindo das profundezas da terra ou do Ser. Um vento que sacudisse a inércia do corpo e da alma, fazendo lembrar o sopro fecundoso e poderoso que assinalou os instantes inaugurais da criação do mundo. 

Confessa o poeta que, tocado por arrebatadora emoção, começou a sua escalada épica em setembro de 1993 e, de lá para cá, não mais parou de escrever, como se um ímpeto abissal o levasse a exprimir, numa linguagem incandescente permeada de signos poéticos irretocáveis, todas aquelas sensações que lhe devastaram a alma pela vida afora, mas que só agora, na maturidade de seus cinqüenta anos, vieram abruptamente à tona, com o dinamismo e aquela velocidade perturbadora das águas longamente represadas. 

Vários críticos e intelectuais já se manifestaram lisonjeiramente sobre as possibilidades técnicas e estéticas dos poemas de Soares Feitosa. E todos eles são unânimes em reconhecer a magnitude e a sedução desses textos, ao longo dos quais, de forma simplesmente prodigiosa, imaginação e irreverência se misturam, ensejando uma fusão do erudito e do popular, uma atmosfera de feitiço e de magia, e fazendo com que os versos do poeta cearense assumam, de vez em quanto, o timbre impressionante de um discurso profético. 

Confesso que, ao me defrontar com o poeta pela primeira vez, fiquei um pouco desconcertado com a sua ostensiva empolgação de noviço na arte literária. Mas, ao percorrer os densos volumes de sua obra poética, não me foi difícil compreender que aquela empolgação se fundamentava na convicção de quem acabou de decifrar os enigmas cruciais de um destino talhado para as peripécias da poesia. De outro modo, não se compreende que um homem dedicado às atividades comerciais, envolvido com todas as implicações inerentes a essa forma de vida, passasse, de repente, a produzir uma interminável constelação de poemas, como que tomado de um furor poético, e como se os tivesse guardado, durante todo esse tempo, nos subterrâneos da alma e do coração. 

Importa assinalar que Soares Feitosa é uma pessoa versada em línguas antigas e modernas, delas fazendo uso permanente na urdidura de seus poemas, que nem por isso deixam de transitar descontraidamente pelo universo encantado dos repentistas nordestinos, desses cantadores anônimos que se encarregam de predicar o imaginário popular, que falam de amor e de política, e que celebram as coisas simples da vida com a mesma ternura e a mesma irreverência de seus antecessores gregos. 

Outro dado importante a analisar, na escritura poética de Soares Feitosa, é a extraordinária familiaridade do poeta com a linguagem sofisticada da informática. Conhecedor dos mistérios e das infinitas possibilidades do computador, faz uso de uma vasta gama de símbolos gráficos na elaboração de seus textos poéticos, de tal sorte que o desenho estrutural de seus poemas adquire uma beleza visual que, por si só, já constitui um privilégio para o leitor sensível às fulgurações da arte pictórica. 

O poeta Soares Feitosa costuma acrescentar numerosas notas explicativas sobre o conteúdo alusivo de seus poemas. Essas explicações podem, eventualmente, parecer uma exibição desnecessária de eruditismo por parte do autor. Mas a verdade é que essas notas são de importância fundamental para o leitor compreender o alcance e o significado de alguns poemas; além de mostrarem que a poesia não é de ontem nem de hoje, mas de todos os tempos e de todas as latitudes, e que ao longo dos anos e dos séculos, como que se forma uma cadeia de signos e de estrofes, ligando o homem de agora ao primitivo homem das trevas. 

De resto, é louvar a raça, o fôlego e o calibre deste poeta fogoso, que arremete e esbraveja à semelhança desses garanhões que desembestam nos descampados nordestinos, quando as primeiras chuvas pincelam de verde a terra estorricada pelos intermináveis verões.


 

Salmo 151, Femina, Uma Canção Distante, Thiago e Talvez Outro Salmo: verifico que seu tônus poético continua altíssimo. O belo poema Femina, que já li tantas vezes tem a beleza e o fascínio de um canto salomônico. O poema Thiago é uma celebração, em grande estilo, do velho bardo amazônico, mas também empreende uma viagem lírica pelas terras do velho e ensolarado Ceará, com Gerardo Mello Mourão de permeio. 

O Salmo 151, com fortes ressonâncias bíblicas, me agrada plenamente. Talvez Outro Salmo mostra, entre tantas coisas, "que somente o verbo é brasa pura, disparada contra os teus pequenos, Senhor"

 

 

 

 

 

 

 

Caravaggio, A incredulidade de São Tomé

 

 

 

 

 

 

Geraldo Oliveira Lima


 

Prezado amigo Soares Feitosa

 

Só agora, distante dos afazeres da paróquia, posso-lhe escrever. Reato, neste instante, nosso comunicação, antes interrompida — quase quarenta anos — pela distância que nos separou após o Seminário.

Quanto às cópias de seus poemas - eu não os chamo poesias - devo dizer-lhe: Tratam-se não de poesias comuns, mas de uma poema épico. E sublinho: épico!

Há uma outra particularidade em seus poemas: você tem medo de escrever em estilo erudito. Alguns escrevem travestidos de “populares”, mas o fazem demagogicamente. Você, não. Você transpõe a difícil barreira da demagogia e escreve com fidalguia e asseio gramatical, sem apelar nem para o chulo nem para o vulgar.

Suas alusões ao grego e ao latim, em vez de parecerem pedantes, são coerentes e necessárias no contexto, e, sobretudo, uma autenticidade de sua parte.

Seus poemas têm duas conchas:  uma universal, outra local. A amplidão cósmica, sem retirar os pés da terrinha, cantando a gesta da gleba cearense numa linguagem cifrada pela pujança, a força e a sedução de um barroco redivivo.

 

 

 

 

 

 

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Nilto Maciel


 

A poesia de Soares Feitosa

Li, há algum tempo, o seu livro feito manualmente. Foi uma surpresa imensa. E escrevi carta para você falando de sua   poesia. Agora recebo outro livro, impresso em modelo tradicional, Psi, a Penúltima, Ed. Papel em Branco. Nilto Maciel

Sua poesia é nobre, clássica, moderna, rica. Há tempos não leio poesia do nível da sua. E isso é muito bom! Sinal de que sempre estão surgindo grandes poetas, apesar de vivermos um tempo de pouco tempo e espaço para a poesia. 

Gostei muito dos poemas de reminiscências, mas também do poema da raposa (Psi). Ora, toda a sua poesia é ótima, tocante, emocionante, sem deixar de ser cerebral, trabalhada, feita com suor, dedicação, pesquisa. E o talento sedimenta tudo, porque sem ele nenhuma poesia vem à tona.


 

 

Grande Poeta Soares Feitosa, receba um caloroso abraço de amizade e admiração. Li o "Penúltimo Canto" como se estivesse morrendo. Não por sentir dor, não por estar desesperado, não por me sentir velho. O poema é um apocalipse, um final, quase um ponto final na poesia. Ainda haverá o que dizer poeticamente, depois desse "Penúltimo Canto". Não perguntemos nada aos católicos, aos protestantes, aos chamados evangélicos, aos muçulmanos — que eles são todos pilatos com cara de
cristo. Ou então não perguntemos nada a ninguém. Estou cansado, sem fôlego, exausto, depois da leitura do seu poema. Não por ser ele longo. 

Também é longo o "Lusíadas". E eu o li com muito prazer. Aprendi muito. Continuo aprendendo, embora não seja mais tempo de aprender nada. Talvez seja apenas o tempo de apreender as palavras, o sentido delas, da traição, da guerra, da fome, da iniqüidade, da vileza, de tudo o que está na poesia maior, naquela que diz tudo, como este "Penúltimo Canto". Porque o último canto não existirá nunca. 

Abraços cordiais do admirador

Nilto Maciel


 

Poeta Feitosa, isto é maravilhoso. Você, leitor sagaz e  poético, sabe onde está a Poesia. Quem não sabe passa a vida dizendo besteiras e rabiscando "versos" que nunca passarão de lama em contraste com os passarões dos Poetas como Saramago e você. Tenha a minha admiração por tudo o que você tem escrito e anotado.

Nilto Maciel


Caríssimo poeta Soares Feitosa, 

acabo de ler, emocionado, o seu belíssimo poema "Nunca direi que te amo". Uma obra-prima, irmã da Beleza. 

E como soa serenamente, como flui dos lábios, como se fosse cantada por passarinhos na primavera. 

Parabéns, mestre. 

Nilto Maciel

 

 

 

 

 

 

 

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Ozael Carvalho


 

Meu caro Feitosa, 

 

Ao ler o seu livro, Psi, a Penúltima, fui envolvido pela cortina-realidade-sonho-literatura-verdade-poesia, e a cada página senti o renascer da vida humana e poética dentro de mim. 

Seu livro é brilhante e a sua poesia é de uma simplicidade poética majestosa. 

Parabéns por você ser um poeta brasileiro.

 

 

 

 

 

 

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José Saramago, Nobel

 

 

Jaumir Valença


 

Salomão

 

Abalou Dublin! Caro Francisco, eu queria te telefonar agora mas você tirou o seu telefone do Jornal de Poesia. Fiquei assombrado com Salomão. Foi um impacto. O acontecimento do ano. Gostei mesmo. 

Vou imprimir e levar para casa. Ainda estou nocauteado.

Eu nem sei o que dizer. Estava aqui trabalhando, e fiz um intervalozinho para ler as novidades do JP. Para quê?... abalou.

Estou frustrado por não poder te telefonar agora para os parabéns. Puxa, que orgulho conhecer o criador de Salomão!

 

Jaumir

Dublin, 10 de maio de 1997

 

 

 

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