Nilto Maciel
W. J. SOLHA: TODAS AS
ARTES A ARTE
(Conversa de Nilto Maciel
com W. J. Solha: romancista, contista, poeta,
dramaturgo, libretista, pintor, roteirista, cineasta,
ator, compositor, produtor de teatro e cinema. Só não é
tenor e bailarino por falta de boa voz e não saber
dançar.)
Conheço WJ Solha há
alguns anos. Não pessoalmente. Primeiro li o livro dele
A Canga. Se não me engano, em 1978. Ou terá sido Israel
Rêmora? Ele também me leu. E, assim, nos fizemos amigos.
Ele na Paraíba (mas é paulista de nascimento), eu no
Ceará e depois em Brasília. Trocamos muitas cartas.
Lamentações por não termos editor, pela falta de leitor,
por isto, por aquilo. Apesar disso, nunca deixamos de
ler e escrever. Persistimos como escritores. Passados 40
anos, decidimos manter uma conversa séria, severa, para
que outros o conheçam. Porém, ainda por correspondência.
Se nos veremos um dia, quem há de saber? Enquanto isto,
leiamos o que Solha tem a dizer. “Nasci em Sorocaba, SP,
1941. Radiquei-me na Paraíba a partir de 62, quando
tomei posse no BB de Pombal, PB. Foi aí que, por
influência do meio e de um colega do banco, em especial
– José Bezerra Filho – envolvi-me com teatro, literatura
e cinema. Já colaborei muito com a imprensa de João
Pessoa, atualmente mando toda semana duas matérias para
o blog www.eltheatro.com, de Elpídio Navarro, geralmente
um artigo e um "ensaio ilustrado". Ao final desta conversa há
um currículo de Waldemar Solha. Agora é a vez das
perguntas e respostas.
________
Entrevista
Nilto – Você contava
apenas 21 anos de idade, quando se mudou para o interior
do Nordeste. Sem querer um relato de sua infância, fale
dessa mudança. O que levou na bagagem? Como se deu em
você a passagem para o sertão? Que tipo de impacto
sofreu?
Solha – Foi um dos
momentos mais importantes de minha vida, Nilto. Eu vinha
de uma família pobre – meu pai era carpinteiro da
Estrada de Ferro Sorocabana – para uma agência do Banco
do Brasil. O salto pra classe média foi significativo.
Livrava-me, ao mesmo tempo, de todo o constrangimento
que sofre um jovem na casa dos pais. O mais importante,
no entanto, foi que saí de um meio culturalmente frio,
para outro bastante aquecido, o que foi surpreendente,
pois vinha de Sorocaba, SP, e estava tomando posse em
Pombal, no alto sertão da Paraíba, 1962. Como exponho no
romance Relato de Prócula, ali encontrei não apenas
colegas envolvidos com teatro e literatura, como grandes
amizades locais que me assombraram por uma imensa
cultura. O Dr. Atêncio Wanderley, personagem desse meu
livro, é real. Médico, tio de minha mulher, ele ouvia
noticiários da BBC em inglês, gostava imensamente do
latim de César no De Bello Gallico, de ler os grandes
economistas e filósofos, adorava literatura de cordel.
As conversas em rodas de calçada, com médico, padre,
professor e juiz, em Pombal, mostraram-me um mundo de
que sequer desconfiava. Um dia tive um sonho que me
impressionou muito, botei-o por escrito, e um colega – o
hoje escritor José Bezerra Filho – mandou-o para um
professor da UFPB em João Pessoa, que o publicou numa
antologia à base de mimeógrafo... e foi assim que
produzi meu primeiro conto. Logo depois, um colega novo,
ao tomar posse do banco depois de nós, pediu-me para
escrever uma peça sobre a morte do estudante Edson Luiz,
no restaurante do Calabouço, Rio, e tivemos nossa
estreia três meses depois do fato acontecido. Tornei-me,
assim, dramaturgo e ator. No ano seguinte, o mesmo
Bezerra decidiu fundar uma empresa cinematográfica lá
mesmo, em Pombal, e rodamos o primeiro longa-metragem de
ficção, da Paraíba, em 35 mm. E me vi, de repente, como
produtor e ator de cinema. Quando saí de Pombal, era
outro.
(Cidade de Pombal,
Paraíba)
NM – Menino e
adolescente pobre, que livros você lia? Quem os fornecia
ou indicava? Ou você saía fuçando bibliotecas, sebos,
livrarias, como eu fiz, lendo o que lhe chegasse às
mãos? Lendo tudo, desde livros didáticos, jornais e
revistas, até pedaços deles, jogados ao lixo?
WJS – Minha mãe, apesar
dos quatro filhos, nenhuma empregada, costurando para
fora com sua velha máquina Singer, era uma leitora de
romances típica daquela época (anos quarenta, cinquenta,
sessenta): parecia não ver nenhuma diferença entre um
Machado de Assis da maturidade ou Tolstói e autores de
livros chamados "flor de laranja", tipo M. Delly, ou –
mesmo – o Machado da primeira fase. Como ela tirava
frequentemente essas edições da biblioteca da Estrada de
Ferro Sorocabana, acabei lendo alguma coisa do gênero,
na adolescência. Lembro-me de que o primeiro romance que
li foi John, o Chauffeur Russo, de Max du Veuzit. O
primeiro, brasileiro, Coração de Onça, de Ofélia &
Narbal Fontes. Mas isso foi muito epidérmico. Como lia
muito gibi desde muito pequeno, o que me influenciou
muito, nesses primeiros tempos, foi uma revista nobre de
Histórias em Quadrinhos chamada Epopéia. Nela, embarquei
em épicos com títulos como Miguel Strogoff, Tourada
Trágica, A Esfinge Negra, Parsival, Aquila Maris, Kim, e
Kumiak o Esquimó. Nas quartas capas havia sempre a
reprodução de uma pintura clássica – Mona Lisa, A
Batalha do Avaí, Napoleão nos Alpes – e nas terceiras, o
resumo de uma grande ópera de Verdi, Wagner, Donizetti,
Puccini ou Carlos Gomes. Passei a ouvir todos os
programas de rádio com música clássica, passei a estudar
pintura, primeiro com um alemão – Ludoviko Prohaska –,
depois um italiano – Flávio Gagliardi. Devorei todo o
Tesouro da Juventude e, uma vez por mês, ia a São Paulo,
assistir aos Concertos Matinais Mercedes-Benz, no Teatro
Municipal. Como vi que não levava jeito pra nada,
larguei tudo e fui estudar contabilidade... que me levou
ao Banco do Brasil.
NM – Então, em Pombal,
com emprego certo e bom, você pôde se dedicar a
escrever. Como nasceu A Canga, peça teatral e depois
romance? Isto se deu logo após a sua chegada ao sertão?
Foi seu primeiro livro escrito ou houve outras
tentativas?
WJS – A Canga surgiu de
uma espécie de novela que fiz, hoje perdida, composta de
uma série de contos, cada um se passando numa época.
Depois de uma cena em plena Pré-História, saltava-se
para o sertão nordestino (A Canga), daí para o faroeste
americano, para a segunda guerra mundial, etc. A
primeira imagem a me vir na cabeça, ao criar essa
estória, foi a de um pai, desprovido de bois para arar,
pondo os filhos no lugar deles, na canga. Eu era o chefe
da carteira agrícola da agência do BB em Pombal, na
época, conhecia aquela gente toda na intimidade. Com a
ideia, acabei, sem querer, criando uma imagem
emblemática do despotismo. Mas o conto daria em nada se
não me surgisse o convite de montar uma peça curta a ser
exibida numa festa (dentro da campanha para a escolha da
Miss Paraíba 1968) em que – além da beleza das meninas
locais – Pombal pretendia mostrar alguma coisa da
cultura local, Aleluia! Montei o espetáculo e fiz o
mesmo papel – aos 29 anos – que faria no hoje famoso
curta do Marcus Vilar – aos 60 (em 2001): o do pai que,
de chicote em punho, põe os filhos sob o mesmo jugo que
impunha aos bois, impelido pela necessidade de plantar.
Aí ressurgiu na Paraíba um de seus grandes filhos, há
muito no sudeste: o irmão de Chacrinha, Jarbas Barbosa,
um dos grandes produtores do cinema brasileiro,
inclusive do Deus e Diabo na Terra do Sol. Ele vinha
atrás de montar um polo cinematográfico em João Pessoa,
e precisava de grandes roteiros. Foi quando fiz A Canga
para ele. Mas todo o projeto deu em nada, por que Jarbas
faliu, e, sem nada nas mãos, exatamente como começara,
resolvi transformar o script em romance, donde saiu A
Canga, 2º. Prêmio Caixa Econômica de Goiás, que mereceu
ao ser publicado pela editora Moderna de São Paulo –
única e exclusivamente – um comentário seu, Nilto, pelo
que, mais uma vez, lhe agradeço. Mas esse não foi meu
primeiro livro. Em 1974 concorrera ao Prêmio Fernando
Chinaglia de Literatura com A Canga e... Israel Rêmora.
Como a censura, na época, era terrível, A Canga, que
deveria ganhar o certame, ficou com uma menção
especial... e Israel Rêmora ganhara a parada, sendo
editado, em 75, pela Record.
NM – Você tem se
dedicado à literatura, mas também ao teatro, ao cinema,
à música. Você sente necessidade disso, de ser múltiplo,
de abarcar diversas modalidades da Arte? A literatura
não o satisfaz? Você se explica ou se aceita complexo?
WJS – Vou produzindo,
sempre, o que o momento me pede, Nilto... e nunca me
arrependi por isso. De repente me chega Rinaldo de
Fernandes pedindo-me um conto a partir do Dom Casmurro,
para sua coletânea Capitu Mandou Flores e vislumbro a
delícia de uma reconstituição histórica e de botar, de
uma vez, a malandra pra transar com Escobar. Ou então me
pede algo em cima do conto "Sarapalha", do Guimarães
Rosa, para outra organização sua que veio a ser Quartas
Histórias, lembro-me de que Guimarães considerava esse o
pior de seus trabalhos e associo tudo ao conto de
Cortázar em que um grupo de cinéfilos, apaixonados pelo
trabalho da atriz Glenda Jackson, resolve tirar os
defeitos de filmes em que ela teria trabalhado. Aí me
chega o maestro Eli-Eri Moura e me convida pra fazer o
libreto da primeira ópera armorial, já com estreia
marcada no festival Virtuosi, no Teatro de Santa Isabel,
no Recife, e vejo imediatamente um dueto de Ariano
Suassuna com seu ídolo, Cervantes, os dois cantando um
martelo agalopado em português e castelhano. Na estreia
dessa Dulcineia e Trancoso, Daniel Aragão me vê subindo
ao palco e resolve: "É o seu Francisco!", referindo-se
ao personagem do longa O Som ao Redor, do Kléber
Mendonça Filho, papel que acabei fazendo. Na última
semana desse filme, Marcelo Gomes me chama para um teste
para seu terceiro longa – Era uma vez Verônica – e na
última semana desse filme fui convidado para um curta no
sertão, o Antoninha, do Laércio Ferreira. Essa série de
trabalhos (em que se incluiu um episódio-piloto de
Carlos Dowling para TV) custou-me uma ausência de quatro
meses no poema longo em que trabalhava e trabalho desde
que terminei o romance Relato de Prócula, há cerca de
dois anos. E por que o poema longo? Porque, apesar da
bolsa da Funarte que ganhei com esse romance, fato que
me ajudou a publicá-lo pela A Girafa, encontrei
dificuldade para lançar o romance anterior – Dricas (que
permanece inédito), sentindo-me o mesmo desconhecido de
sempre, em que umas editoras veem um mau negócio. Como o
poema longo anterior – "Trigal com Corvos" – me consumiu
catorze anos, decidi partir para trabalho na mesma
linha, avaliando que, nos 70 anos que faço em 2011,
dificilmente terei como me preocupar com um livro
posterior. Por outro lado, deixei a pintura em 2004,
depois de uma grande exposição que fiz em João Pessoa. E
o teatro em 1990, pelo mesmo motivo: a conclusão de que,
nessas áreas, eu não tinha mais o que dar.
O que me move, então, são
as encomendas? Como se vê, nem sempre. Ninguém me
encomendou um poema longo e estou cavalgando nesse
enorme dragão pela segunda vez. O problema é que todas
as artes me encantam. Pena que não tenho boa voz e não
danço, ou seria tenor e bailarino, também. Você não
imagina o que é contracenar com a grande atriz Hermila
Guedes (de O Céu de Suely), dirigido por um Marcelo
Gomes: é o mesmo que trabalhar com Sophia Loren num
filme maravilhoso como o Um dia muito especial, dirigido
pelo Ettore Scolla. A realização de um romance é um
quebra-cabeças estupendo, e trabalhar com as palavras,
sem a dependência de uma narrativa, torna a poesia
insuperável. Fazer uma parceria com uma Ilza Nogueira,
um maestro José Alberto Kaplan, um maestro Eli-Eri Moura
é outra experiência única. Não há como descrever o
espetáculo de grandes solistas, coro, orquestra e um
grupo de dança botando no palco o que você escreveu. Por
outro lado, como as palavras sempre me conduzem a uma
angústia frequentemente insuportável, imagine o que foi,
para mim, passar nove meses sem me servir de nenhuma
delas, pintando as 36 telas que compõem o retângulo de
7,20m de largura – "Homenagem a Shakespeare", que está
lá no auditório da reitoria da UFPB. E tudo isso me dá
subsídios para escrever. No Relato de Prócula transferi
a emoção que tive ao fazer Pilatos durante três anos,
num grande espetáculo ao ar livre, ao meu personagem
principal. A namorada dele escreveu muitos de meus
versos. A outra, faz fotomanipulações que na verdade são
muitos de meus quadros. O narrador... produz o primeiro
longa-metragem paraibano de ficção em 35 mm, presepada
que também vivi com o colega do BB e escritor José
Bezerra. E assim vai...
NM – Não precisamos nos
lamentar como escritores (ou artistas), porque a
lamentação já é uma obra de arte. Entretanto, não temos
leitores, os jovens não sabem ler, não há bibliotecas,
os livros são caríssimos, não há divulgação de
literatura na grande mídia, etc. Como você (frágil
criatura que se arde em arte) enfrenta essa realidade
(dragão a soltar labaredas na direção de frágeis
criaturas que criam dragões e outros seres)? Sonhando
mais ou criando para matar monstros?
WJS – Nilto, eu
simplesmente faço porque não posso parar. Quanto ao
mercado, lembro-me de que todos nós, na Paraíba,
reclamávamos do apoio nenhum que tínhamos no teatro – do
Poder e do Público – restando-nos, apenas, o irrestrito
(nunca pude reclamar disso) da Mídia, aí chega o Luiz
Carlos de Vasconcelos e monta o Vau da Sarapalha, com o
grupo Piollim, de João Pessoa. Caramba. Quando fui ver a
peça, estávamos, na plateia, eu, minha mulher, o Buda
Lira (irmão de dois dos integrantes do elenco) e mais
duas pessoas. Perguntei ao Luiz Carlos; "Vai dar o
espetáculo só pra gente?" E ele: "Vai valer como
ensaio". Resultado: vi o espetáculo, deslumbrei-me,
cheguei em casa e fiz um artigo profetizando que o grupo
iria fazer sucesso "até nas estranjas", e foi dito e
feito. O público danou-se a crescer e vimos que o povo
apenas vai ver aquilo que quer ver, condicionado a isso
ou não. Digo-lhe sinceramente: toda semana publico um
artigo e um "ensaio ilustrado" no blog eltheatro, de
Elpídio Navarro. Jamais recebi, dos leitores, uma
palavra sequer de aplauso ou crítica. Nada. Porra
nenhuma. Acostumei-me. É como atirar uma pedra num poço
e não ouvi o baque dela n’água.Van Eyck sempre assinava
seus quadros e escrevia embaixo: "Faço o que posso". E é
isso: Faço o que posso. Não gostam? Um e outro gosta.
Mas frequentemente a coisa vai às raias do martírio.
Passei os últimos dez anos do Banco do Brasil sem
almoçar, pra poder escrever. Eu precisava criar! Quando
trabalhei, no último quadrimestre, nos filmes de Kléber
Mendonça, Marcelo Gomes, Carlos Dowling e Laércio
Ferreira, passava as noites em claro, fumando e tomando
cerveja (duas coisas que raramente faço) ensaiando sem
parar. "Vou pagar caro por isso", eu me dizia. Mas que
fazer? Quando terminei o périplo, no dia 23 de dezembro,
às vésperas do Natal, estava "morto". Tive que ir a um
cardiologista, passei a tomar três comprimidos por dia,
pra me reaprumar, o que ainda não aconteceu, e você acha
que vou ganhar prêmio de melhor ator em Cannes,
Brasília, Gramado, São Paulo? Claro que não: há centenas
de pessoas vivendo o mesmo calvário. Formamos um caldo
de cultura de que um e outro dará resultado, e – pelos
meus 70 anos – jamais eu. Que é que posso fazer?
Reclamar do povo, do governo, de Deus? Não faz meu
gênero. Vou continuar trabalhando, curtindo esse amor –
eterno enquanto dura – às Artes. Todas elas.
NM – Há novidades boas
na literatura publicada na Paraíba, nos outros Estados
do Nordeste e no Brasil? Muitos têm acreditado no espaço
da Internet como tábua de salvação e aparecem em blogues
e revistas eletrônicas. Você está neste meio? Lê essas
obras?
WJS – Ainda na manhã de
hoje terminei de ler os originais do primeiro romance de
Marília Arnaud, daqui de João Pessoa, já conhecida como
grande contista. Esse novo livro dela – cujo título não
estou autorizado a divulgar (talvez ela queira
participar de algum concurso) é ótimo. Texto primoroso,
andamento narrativo seguríssimo, enorme sensibilidade. O
Brasil vai gostar. Li, também, os originais do romance O
Autor da Novela, do Tarcísio Pereira – que ganhou a
bolsa Funarte de incentivo à literatura no ano passado.
É, também, muuuito bom. Mas na verdade não tenho tempo
pra acompanhar tudo que se faz por aqui, pelo Nordeste,
pelo país, muito menos pelo mundo, tão centrado vivo nas
minhas próprias coisas. Quanto a publicar pela Internet,
não acho que isso deva ser encarado como alternativa.
"Você não consegue editora, põe na web". Parece aquela
coisa de acabar com os predadores e ver os alces
perdendo as melhores qualidades da espécie. Vejo a
Internet como mais uma opção. Meus "ensaios ilustrados",
por exemplo, não seriam, jamais, veiculados em jornais
ou revistas, pela extensão – vinte a trinta páginas cada
um. Mando-os, por isso, semanalmente, a meus amigos
Elpídio Navarro – daqui – e Hugo Caldas – do Recife, que
os publicam mui caprichosamente em seus blogs eltheatro
e Unlimited. E se mal tenho como me manter mais ou menos
atualizado com respeito a livros impressos, imagine com
os eletrônicos. Sinto até um certo sufoco físico ao
entrar numa grande livraria, como a Cultura, do Recife,
que frequentei muito quando fazia laboratório – no Paço
Alfândega, que fica ao lado dela – para o filme do
Marcelo Gomes. Senti sufoco igual quando cheguei a
Pombal, nos anos 60, e dei com tantos livros nas casas
dos amigos, felizmente quase sempre clássicos. Devorei
Gogol, Turguenief, Dostoiévsky, Tólstoi, Tchékov,
Puchkin, depois Soljenitsen, Pasternak, mais um e outro
e me senti quites com a literatura russa. Li Homero, os
filósofos gregos, mais Ésquilo, Eurípedes e Sófocles e –
bem, "botei os melhores helênicos no bolso". E assim
tirei meu atraso com franceses, ingleses, americanos,
italianos – A Divina Comédia! –, alemães – Que
sacrifício engolir Fausto! – portugueses – devorar os
Lusíadas! –, espanhóis, os hispanoamericanos e... fiquei
em relativa paz. Mas como selecionar tudo aquilo em
torno de que ainda não assentou a poeira?
Por outro lado, sinto-me
mal dizendo isso, pois estou no meio da cambulhada: o
Éric Obsbawn, em A Era dos Extremos, num balanço do que
foi a arte no século XX, pergunta: que outro nome surgiu
nas artes plásticas, para ombrear com o de Picasso? Que
outro livro teve consenso universal, depois de Cem Anos
de Solidão, de 67?
NM – Tenho muito a
perguntar, você tem muito a dizer. Porém, precisamos
dizer “até logo”, porque o rio é caudaloso, há peixes de
todos os tamanhos e espécies, as águas ora são turvas,
ora límpidas, e navegar é preciso. Encerre esta
conversa, por favor.
WWJS – Eu é que lhe
agradeço,
Nilto. Muitíssimo.
______________
CURRÍCULO DE WALDEMAR JOSÉ
SOLHA (W. J. Solha)
Peças teatrais escritas e
montadas por ele: – A Canga – 1968, em Pombal, PB – A
Batalha de OL contra o Gigante FERR – 1986, com o Grupo
Bigorna, em João Pessoa – A Verdadeira Estória de Jesus
– 1988, idem, idem
Peças teatrais escritas
por ele e montadas por outros: – Burgueses ou Meliantes?
– dirigida por Ubiratam de Assis, Grupo Bigorna, 1982 –
Papa-Rabo – dirigida por Fernando Teixeira, idem, 1982 –
A Batalha de Oliveiros contra o Gigante Ferrabrás,
dirigida por Ricardo Torres, em Brasília, 1991 – A
Bagaceira – dirigida por Fernando Teixeira
Roteiro para balé: – Caldo
da Cana – música do maestro Carlos Anísio, coreografia
de Rosa Ângela Cagliani
Romances publicados: –
Israel Rêmora – Prêmio Fernando Chinaglia 1974,
publicado pela Record em 75 – A Canga – editado pela
Moderna em 1978, reeditado pela Mercado Aberto em 84.
Menção especial Prêmio Fernando Chinaglia 74, 2º. Lugar
Prêmio Caixa Econômica de Goiás 75, menção honrosa
Prêmio Remington de Literatura 1977 – A Verdadeira
Estória de Jesus – Ática, 1979 – Zé Américo Foi Princeso
no Trono da Monarquia – Codecri 1984 – A Batalha de
Oliveiros – Prêmio INL 1988, ed. Itatiaia 1989 –
Shake-up – Ed. UFPB 1997 – Relato de Prócula – A Girafa,
2009, Bolsa de Incentivo à Criação Literária da FUNARTE
2007. Prêmio UBE, Rio, 2010
Coletânea de contos,
roteiro cinematográfico e dois romances: – História
Universal da Angústia – Ed. Bertrand Brasil, 2005,
Finalista do Jabuti em 2006, Prêmio Graciliano Ramos, da
UBE, Rio, 2006
Poesia: – Trigal com
Corvos – Ed. Palimage, de Portugal, 2004, Prêmio João
Cabral de Melo Neto, da UBE, Rio, 2005
Parceria com compositores:
– Via-Sacra, Oratório de Semana Santa, com música de
Ilza Nogueira, apresentada na Igreja de São Francisco,
na semana santa de 2005, sinfônica regida pelo maestro
Carlos Anísio, balé com coreografia de Rosa Cagliani,
Coral Villa-Lobos – Cantata pra Alagamar, com o maestro
José Alberto Kaplan, 1979. Gravada pela Marcus Pereira,
SP – Réquiem Contestado – para o maestro Eli-Eri Moura,
gravado pela UFPB em 1998 – A Ópera Dulcineia e Trancoso
– para o maestro Eli-Eri, estreia em 2009, no Teatro de
Santa Isabel, no Recife
Pintura: – Tem um painel –
Homenagem a Shakespeare – no auditório da reitoria da
UFPB, composto de 36 telas (uma para cada peça do
Bardo), formando um retângulo de dois metros por 7,40,
além de um quadro de 1,60 por 3,60 – A Ceia – no
Sindicato dos Bancários da Paraíba
Cinema: – Produção – com
José Bezerra Filho – do primeiro longa-metragem de
ficção em 35 mm da Paraíba, O Salário da Morte, dirigido
por Linduarte Noronha – Roteiro de A Canga –
curta-metragem de Marcus Vilar com 23 prêmios nacionais
e internacionais Como ator, participação nos curtas A
Canga e A Casa Tomada, bem como nos longas O Salário da
Morte, Fogo Morto (Marcus Farias), Soledade (Paulo
Thiago), Lua Cambará (Rosemberg Cariry) e Bezerra de
Menezes (de Glauber Filho, Joe Pimentel) – No último
quadrimestre de 2010 trabalhou como ator nos longas O
Som ao Redor e Era Uma Vez Verônica, de Kleber Mendonça
Filho e Marcelo Gomes, ambos no Recife. De volta à
Paraíba, trabalhou no episódio-piloto para TV A Arte e A
Maneira de Abordar seu Chefe para conseguir Aumento, de
Carlos Dowling, em João Pessoa, e no curta Antoninha, de
Laércio Ferreira, no alto sertão da Paraíba
Romance inédito: – Dricas
– que talvez saia neste ano pela Escrituras, SP
Em andamento: – Marco do
mundo – poema longo |