Joanyr de Oliveira
O poeta não veio para responder
Ao Fernando Mendes Vianna
O poeta não veio para responder.
Nem para fazer: a água, o prado,
o pranto, o sonho, o susto, o grito,
o muro, a crença, a lança, o mundo...
O que existe já moldou sua própria fisionomia.
O que pulsa já mediu seus rumos,
sua intensidade real.
O que paira já estabeleceu sua correta cronologia.
O poeta não veio para responder,
senão para a tessitura das dúvidas e incógnitas.
Para a antevéspera, para a eternidade sem aplauso,
para o anverso da matéria, das normas, das teorias.
A exatidão jamais se casou
com a alma da poesia.
Nos meios-tons, reside a verdade perfeita.
No indivisível, tudo está sem turbação alguma.
No irrevelado, pontifica o coração do mistério.
Se quereis saber, indagai aos magos,
aos iluminados em seus montes e transfigurações,
aos espíritos salpicados de estrelas,
aos físicos, às dialéticas, à meteorologia, às aves,
à lucidez das loucuras.
Indagai a vós mesmos.
O poeta não veio para responder:
palavras deslizam em sua boca,
conceitos se ampliam mas, lívidos, desfalecem.
Os liames com o cosmo diluem-se num átimo
ante o verbo e a eloqüência.
Os tribunos (sim) estão para os transbordamentos.
Os pregadores, em seus santos delírios,
se espargem nas alturas.
(Colhei nos dilúvios de suas bocas.)
O poeta se oculta (e se revela)
no cernes dos entes e das coisas.
Seu domicílio é o inefável, o inviolado silêncio.
(Seus lábios pertencem aos deuses.)
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