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Herberto Sales  

Andaraí, RJ, 21/09/1917 - Rio de Janeiro, RJ, 13/08/1999


 

Prefácio, ensaio, crítica, resenha & comentário:


Poesia:


Fortuna crítica:


Alguma notícia do autor:

 

 

Culpa

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

 

 

 

 

 

Victor Mikhailovich Vasnetsov, The Knight at the Crossroads

 

 

 

 

Herberto Sales


 

Biografia:

 

Herberto Sales (H. de Azevedo S.), jornalista, contista, romancista e memorialista, nasceu em Andaraí, BA, em 21 de setembro de 1917. Faleceu no dia 13 de agosto de 1999, no Rio de Janeiro. Foi eleito em 6 de abril de 1971 para a Cadeira n. 3, sucedendo a Aníbal Freire da Fonseca, e recebido em 21 de setembro de 1971, pelo acadêmico Marques Rebelo.

Filho de Heráclito Sousa Sales e Aurora de Azevedo Sales. Fez o curso primário em sua cidade natal, e o curso ginasial (abandonado no 5º ano) em Salvador, no colégio Antonio Vieira, dos jesuítas. O professor Agenor Almeida descobriu-lhe, numa prova, a vocação literária, chamando para isso a atenção do padre Cabral, que por sua vez foi o descobridor, alguns anos antes, no mesmo colégio, da vocação literária de Jorge Amado. Abandonados os estudos, voltou para Andaraí, onde viveu até 1948. Com a publicação, em 1944, de Cascalho, seu romance de estréia, projetou de impacto o seu nome nos meios literários do país. No Rio de Janeiro, para onde então se transferiu e residiu até 1974, foi jornalista militante, com atividade nos “Diários Associados”, de Assis Chateubriand, na área da revista O Cruzeiro da qual foi assistente de Redação, na melhor fase desse famoso órgão da imprensa brasileira. Exerceu o cargo de diretor de outras unidades da mesma empresa, inclusive de sua editora de livros. Em 1974 mudou-se para Brasília, onde foi por dez anos diretor do Instituto Nacional do Livro, e, por um ano, assessor da Presidência da República, sob José Sarney. A partir de 1986, por quatro anos, residiu em Paris, servindo como adido cultural à Embaixada brasileira. Regressando ao Brasil, fixou residência em São Pedro da Aldeia, onde levou vida isolada, de auto-exílio, o que deu motivo a ser chamado, em artigo de Josué Montello, “O Solitário de São Pedro da Aldeia”. Foi casado com Maria Juraci Xavier Chamusca Sales e com ela teve três filhos: Heloísa, Heitor e Herberto.
 

Fonte: Academia Brasileira de Letras
 

 

 

 

 

 

 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

 

 

 

 

Herberto Sales


 

Sobre a poesia de Soares Feitosa

 

São Pedro da Aldeia, 7.11.1996
 

Soares Feitosa

Quanta gentileza sua em ofertar-me o seu livro, que li gostando, que é como se deve ler.

Talvez Outro Salmo é belo em suas origens e engenhoso em sua feitura. Onde está a sua palavra, aí está a Poesia.

Abraço você e em você o Hélio.

 

Herberto Sales


Nota: O poeta refere-se ao escritor Hélio Pólvora

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Herberto Sales


 

Bruma rubra


Na bruma rubra
busco teu corpo,
na fome da indermida nudez de tuas formas,
que em seus túmidos relevos
são meu repasto e minha bilha.


Na bruma rubra,
buscando teu corpo
em ti me encontro.
E contigo parto em noturna cavalgada,
num dorcel de linho e plumas.


Na bruma rubra
busco teu corpo,
na fome de tua alma.


 

 

 

 

 

 

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

 

Carlos Heitor Cony

Folha de São Paulo

28.10.2005

 

Revisitando a obra de Herberto Sales

 

Publicado em 1944, quando Herberto Sales tinha 27 anos, "Cascalho" é o imenso romance que logo se colocou ao lado das grandes obras do nosso ciclo nordestino, iniciado com José Américo de Almeida e prolongado por Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado e Rachel de Queiroz.

Morando em Andaraí, na região da Chapada Diamantina, Herberto correspondia-se com Marques Rebelo, mas nunca comunicou-lhe que estava escrevendo um romance. Com mais de 650 páginas, enviou o livro a um concurso coordenado pela "Revista do Brasil", da qual Aurélio Buarque de Holanda era secretário. Na obsessão de catar regionalismos, Aurélio examinou o original e surpreendeu-se com a qualidade do texto. Sendo vizinho de Marques Rebelo, com ele comentou a obra que estava lendo. Ficou admirado ao saber que o autor de "Marafa" correspondia-se com o autor.

Herberto decidira encerrar a carreira literária que sequer começara. Juntara gravetos no quintal da casa de sua família, rasgara em quatro partes as 650 páginas da cópia que lhe restara. Queimara tudo. Aurélio sabia que o original enviado ao concurso seria jogado fora e decidiu ficar com ele, a fim de catar os vocábulos regionais que mais tarde enriqueceriam seu dicionário.
Quando Herberto escreveu a Rebelo, comunicando-lhe que queimara a cópia única do livro, foi surpreendido com a revelação de que o original continuava com Aurélio. Não foi difícil encontrar uma brecha no mercado editorial da época.

A consagração seria imediata. O ciclo do romance regional ganhava novo espaço em nossa geografia literária. O cenário não era mais a Várzea do Paraíba, os engenhos e as bagaceiras de José Lins do Rego e José Américo de Almeida. Tampouco era o litoral baiano, águas encantadas por sereias, o chão coberto pelos frutos cor de ouro do cacau, os territórios mágicos -mar e terra- que ganhariam o mundo na obra de Jorge Amado.

Nem era a seca que afugentava homens e animais pelas caatingas, o flagelo que daria a Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz o ponto de partida para suas carreiras. Em "Cascalho", a fortuna e a maldição estão no ventre da terra. A lenda dos diamantes, fartos e encontrados até nas moelas das galinhas, na prodigalidade dos aluviões ribeirinhos, atraíam homens e mulheres, velhos e crianças. Véspera da fortuna imprevista, a miséria permanente acampava no decadente burgo excluído da civilização, povoado de fantasmas sacrificados na dura moenda dos diamantes e carbonados. A releitura do primeiro livro de Herberto Sales dá a sensação de um anúncio de Guimarães Rosa com seu universo vocabular e sua técnica inovadora.

Em "Além dos Marimbus", o livro seguinte, o cenário é o mesmo, mesma a região já exaurida pelas bateias dos faiscadores. A causa da miséria não é mais o diamante. É a madeira que, nos anos 20 e 30, já atraía a cobiça que devastava florestas e matas. Inovando o gênero com a técnica e a linguagem de seu primeiro livro, Herberto surpreende o leitor de hoje com a visão pioneira da ecologia que, naquele tempo, não entrara ainda no vocabulário e na preocupação do homem contemporâneo.

Até então, a abordagem crítica via nele mais um regionalista, do porte dos grandes nomes da safra nordestina que emergira na década de 30. O livro seguinte, "Dados Biográficos do Finado Marcelino", é um romance urbano numa Bahia que iniciava seu período de metrópole nordestina.

Poderia ter sido este o primeiro romance de Herberto, pois trata dos anos de formação em que o jovem provinciano chega à cidade grande. Ele mergulha na sociedade do incipiente capitalismo nacional, criando uma galeria de tipos que, mais tarde, se tornariam comuns na novelística brasileira.

Surge, então, na vida e na carreira de Herberto Sales, a figura magra e saborosa de José Cândido de Carvalho. Na virada dos anos 40 e 50, deram dimensão nova à formidável geração nascida nos anos 30. Dataria deste período o aparecimento do contista. Um de seus livros, "O Lobisomem e Outros Contos Folclóricos", foi a homenagem de Herberto a seu companheiro José Cândido de Carvalho, que estourara no cenário nacional com o antológico "O Coronel e o Lobisomem".

A despeito de sua obra, vasta e consagrada, traduzida em inglês, japonês, francês, polonês, italiano, tcheco e chinês, tendo o seu romance de estréia adaptado para o cinema e para a história em quadrinhos, Herberto isolou-se da vida literária.

Retirou-se para São Pedro da Aldeia, no litoral fluminense, onde reencontraria nas mangueiras que plantou e nas flores que semeou uma espécie de retorno ao seu Andaraí natal. Escreveria ainda uma série de confissões e memórias a que daria o estranho nome de "Subsidiário". Temos aí o homem Herberto Sales diante de si mesmo, atravessando a escura noite da alma. Suas anotações revelam o desencanto do escritor penetrado pela inexorabilidade do fim.

Olhando em volta, da altura humana e intelectual a que atingira, lamentando seus mortos, evocando seus fantasmas, o memorialista adota uma visão amarga, mas de vigorosa dignidade perante o mundo que viu e a vida que viveu.

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

Herberto Sales


 

I'm afraid... of...


Tenho medo de perder-te
          e de, perdendo-te,
não mais te ver cavalgar sobre a relva úmida
em galope elástico e branco,
          num ondular de ancas
                    brancas
de lua com maciez de jacintas.


Tenho medo de perder-te
          e de, perdendo-te,
perder-me também
          (irremediavelmente)
numa infecunda solidão floral:
          sem o mel da polpa que o fruto oculta,
          sem o pólen da rosa escarlate.

 

 

 

 

 

 

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