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Belvedere Bruno
What a wonderful world
Houve um tempo em que não precisávamos de muitas palavras para viver
em sintonia. A vida fluía de forma simples mas nem por isso com
menos emoção.
Houve um tempo que sequer percebíamos a escassez das coisas.Tudo
parecia perfeito, em plenitude.
Recostada a um sofá estilo art-déco, ouço Louis Armstrong - What a
wonderful world... - Sua voz eriça meus pêlos e, como uma gata, me
enrosco, revendo mentalmente cenas de um passado longínquo e
ingênuo, quando simples trocas de olhares eram celebradas com tons
que só almas puras possuem.
Narcisa, com seu carrinho-de-mão, de casa em casa, recolhendo
tralhas. Era a xepeira. Gostava do ofício. Com voz rouca, gritava: -
Quem tem? E a alegria explodia a cada quinquilharia obtida . Onde
arrumava espaço para tanta desnecessidade?
Por onde andará Narcisa ?
Sirenes, correrias, pivetes atacando nas esquinas, mendigos sob as
marquises, seqüestros-relâmpagos, chacinas. Negação da cidadania.
Procuro meus licores...
Na bombonière encontro um bombom Sonho de valsa; o mesmo daqueles
tempos cheios de louvores quase sacrossantos. Ao longe, por
coincidência, ou sinal de Deus ouço o badalar dos sinos. Mastigo o
bombom, que se dissolve pouco a pouco na língua, e sinto um prazer
indescritível.
E os sinos tocam. Vibrantes. Por mim!
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