Cid Seixas

Cid Seixas

Declaração de Bem


Ainda pertencemos
um pouco
a tudo quanto amamos
as dobras desfeitas
no lençol
rasgado

desejo do corpo
de antigamente

o lábio úmido
de um beijo nas bainhas
da lembrança

e um corpo perdido
entre as brumas do esquecimento

porque nos demos
sem mentira
e intensamente

ainda pertencemos
àquela que nos foi
senhora

e cavalgou a madrugada
no dorso rubro
do desejo

não nos pertencemos
nem àquela
a quem nos ofertamos

e é nossa
dona e senhora

nas horas amargas por vir

ainda pertencemos
um pouco
a tudo

o quanto amamos

 

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Cid Seixas

Cantiga de Desamor


A astúcia nos ensina:
as uvas inacessíveis
são todas azedas.
Tu, Pedro,
declaraste a raposa
culpada ?

Apodrecem os frutos,
esquecidos na permanência,
à espera dos pássaros.

Colheita impossível,
ou adubo da terra,
que desconhece a mão.

Não nos damos
porque não sabemos
para que somos.

O tempo ensina:
as uvas inacessíveis
secam. Azedas.
 

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