Vicente Franz Cecim
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Vicente Cecim
Sent: Friday, May 07, 2004 11:46 AM
Subject: RES: Enviando email: Aura/Texto Mel
Irmão Francisco, teu texto Mel: é muito estranho, uma estranha beleza, uma estranha ternura, metáfora encerrada em um Sentimento oculto demais, como coisa toda casta, cheia de pudor de se dizer abertamente. Sabes o que me evocou? Aqueles instantes de puras fulgurações que lá cintilam, como vagalumes/ vagapalavras, no singular Ave, Palavra! de nosso mago mais belo, o João Guimarães Rosa. Segue o carinho do teu Franz.
Vicente Franz Cecim
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Maria da Conceição Paranhos
From: <paranhos_44@hotmail.com>
Amigo, Seu lindo texto pode ser lido como uma metáfora do fazer poético, pensou nisto? Difícil é alcançar o "ponto". O ritual do mel com farinha (meu pai, de origem sertaneja, adora o melaço de cana com farinha), sucessivamente, tenta chegar a um acordo com a linguagem. A figura emblemática da mãe é aparentada àquela da rigorosa deusa da poesia (do fazer, de modo geral). Quando a mãe toca «com a menor das colherinhas de café a mistura» [...] com «só o convexo, pelo lado de fora: — Meu filho, a dosagem está suportável. E os joelhos de ambos foram insuficientes para tanto amargo» - é o momento do retorno, da queda no real. Independente da leitura acima, uma, das possíveis, seu texto, na teoria dos gêneros, é um conto muito bem construído, escandido como poesia. Abraço e saudades da, Conceição
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Sônia Sales Caro Soares Feitosa: Obrigada por mais um número de Estudos & Catálogos - Mãos. Escrevi-lhe há algum tempo com comentários sobre o primeiro que me mandou: excelente, como este também. Você prima pelo capricho e gentileza com que trata o leitor. Impressionante e de grande qualidade, sucinto como deve ser, o conto "Joelhos & Mel". Você, em poucas palavras, consegue transmitir a angústia da mãe que tem um filho diabético, a agonia de não poder comer. Uma beleza! Ou melhor - terrível! Abraços carinhosos da Sonia Sales
PS - Com muita honra para mim, acabo de ser eleita para a Academia Carioca de Letras, passando a ocupar a Cadeira nº 4, na vaga deixada por Marcos Almir Madeira.
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Rosane Villela
Soares Feitosa. Parabéns pelo texto ardiloso, de artimanhas encantatórias. Minha leitura (e me perdoe se ouso demais) foi a de que a partir do título que escolheu, você já queria dar uma dica ao leitor do que estaria por vir, mas uma dica tão sutil que até seria esquecida, para que toda a feitura dele não implicasse nesta verdade. Afinal, o seu intento (em minha opinião era o de que a construção dele é que fosse o mais interessante, o caminhar "melado" das palavras na farinha do texto. Daí tê-lo desembocado em seu convexo, isto é, a parte que estaria de fora de sua estrutura interna, o "amargo" do labor literário, como se quisesse demonstrar, com isso, de que, nem sempre um texto que se propõe simples, o é. Como se quisesse deixar ao leitor a responsabilidade de sua leitura, em um viés somente de significados ou em um passo mais adiante, o dos significantes. Também não poderia deixar de comentar sobre a parte brilhantemente trabalhada no final onde a mãe retira o prato INTACTO do mel com a farinha por sobre a cabeça do filho, tocando a parte "mais mel", do lado de fora do prato, que penso ser aqui a representação do seu prazer na feitura de um texto. Parabéns pelo quitute metalingüístico brilhante, de "dosagem suportável" que, mesmo podendo implicar em seu não-entendimento total, em seu amargor, não o deixa fora de qualquer paladar. Por último, peço perdão à invasão sonhadora de minhas palavras... Abraços, Rosane Villela.
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Marcelo Caetano
From: "marcelo moraes caetano" <mmcaetano@hotmail.com>
Sent:
Tuesday, May 04, 2004 11:45 PM
Subject:
Poeta, aquele abraço!
Caro Soares: Acabo de retornar a casa, estava em viagem quase enfadonha. Só agora, portanto, pude ver o livro que me mandou tão gentilmente, assim como o conto (ou fragmento) avulso que, de forma igualmente gentil, me foi remetido. Fiquei um tanto paralisado pelo desfecho (teria sido o desfecho?) da narrativa: talvez eu esperasse mesmo que em lugar de joelhos houvesse mãos, seios, umbigos, por que não pés?... Mas, enfim, levei em consideração a criteriosa dica que o poeta nos lega sob estatuto de epílogo, praticamente como um sussurro desavisado que escapou: "... de madrugada". Porque de madrugada o sonho invade mesmo os traços grafêmicos do alfabeto, e este, uma criança que também adormece embora não o saiba, adormeceu. Acho que foi isso, pensei em que a mãe e o filho simplesmente teriam chuchado o mel e a farinha como sempre - infinitamente - o fizeram; só que, no entreposto, obliterados pela hora tardia do maestro da narrativa, as letras dos personagens se embaralharam de tal sorte que quem tão-só por elas quisesse guiar-se acabaria perdendo o código da lógica, chegando, pois, ao vórtice do sonho que recém-começa quando a madrugada pia na casa tão humilde de mãe e filho amorosos. Peço oitocentas mil desculpas pela atitude impensada de analisar um tão brilhante texto segundo visão estritamente matemática, mas há ilogicidades cujo mistério e desvendamento maior estão em saber-lhes inacessíveis à real compreensão, pelo que se lhes deve dar - assim penso - um cunho notadamente lógico, patenteando-se nossa inabilidade completa em sorver e/ou traduzir o indizível. Não sei por que acontece o que aconteceu, assim como não sei o que aconteceu, porque simplesmente acontece... Excelente o texto; tive vontade de ler mais, colher a colher, mesmo que me arrisque à empresa de bater com os joelhos no chão pelo amargo, tenho joelhos e estômago fortíssimos. Com o abraço,
Marcelo Caetano.
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Márcio-André From: "Márcio-André" <Marcio-Andre@club.lemonde.fr> Recebi o abraço de muito bom grado e... surpreso! Confesso que não havia lido nada especificamente seu. Agora estou realmente impressionado, com toda sinceridade do mundo, daquelas que não se pode fingir. Esse conto tem aquela precisão, aquele esmero onde nada sobra e toda justesa se encaixa desvelando sutilmente uma frase, um sintágma preciso: "e tocou-a com a parte de baixo no mel com farinha, na parte mais mel, só o convexo, pelo lado de fora". e o final: "E os joelhos de ambos foram insuficientes para tanto amargo." Que bela sutileza, sem apelação, sem esses arroubos impactantes que costumam fechar os contistas ingênuos. Nenhuma ingenuidade, muito silêncio! Meus humildes parabéns! Um abraço. Márcio-André
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Sonia Rodrigues
From: "rgrecia" <rgrecia@terra.com.br>
Caro Feitosa Até breve
Sonia Rodrigues |
João Batista de Oliveira Filho
Estando eu na Ilha dos Mutuns, delta parnaibano, sucedeu ir passar uns dias num povoado, Cal, que fica numa ilha vizinha, por nome Grande de Santa Isabel. Destino certo: a casa de minha madrinha, cujo pai, João, primo de minha mãe Dadinha, foi me buscar no lombo do Branco (que de branco não tinha nada), cavalo cinzento salpicado de manchinhas cor de carvão, mais bonito, até então, nunca visto. Entre uma ilha e outra, no trecho mais estreito, um igarapé, que bicho-gente transpunha por sobre uma ponte de dois paus e bicho-bicho, no caso, cavalo cinzento salpicado de manchinhas cor de carvão, arreios tirados, atravessou nadando... Arreado o danado outra vez, e num toca que chega, em meio ao areal e cajueiros sem conta, chegamos, por fim, quando a boca da noite engolia os últimos suspiros do sol. Depois do asseio, atendendo ao chamado de minha madrinha, fui jantar. Nesse ponto, tem sempre algum gaiato que pergunta: - E madrinha: tem nome não? – não, não tem. Madrinha é madrinha. Só! Bem, nem tanto: houve uma que atendia por nome, nome de flor, mais que flor, Rosa, sem jardim, sem igreja, só careceu duma fogueira e nós ao seu redor, repetindo três vezes: - “São João disse, São Pedro confirmou, serás minha madrinha (serás meu afilhado), porque São João disse... e São Pedro confirmou”. Vez por outra, quando lembro dos que se foram, inda me pego dizendo – “bença, madin’a Rosa”. Reatando o fio do novelo, digo do jantar (entre pessoas que não conhecia bem, com uma única exceção), em meio a tanta coisa que eu gostava: tapioca, macaxeira, cuscuz (de milho e de arroz), manteiga de nata, café, leite, queijo, requeijão, pra meu pesar, madrinha, logo ela! me perguntou se queria suco de murici... Fosse de manga, caju, bacuri, laranja, limão, cajazinha, ah, como eu teria gostado! Mas de murici, que sempre detestei?! Inda não tinha aprendido a dizer “não”. E me vi naquela enrascada: um copão de alumínio, dos grandes, acima do meio de desgosto, bem à minha frente. Encabulado, via um tantão de coisa boa: tapioca, macaxeira, cuscuz (de milho e de arroz), manteiga de nata, café, leite, queijo, requeijão, farinha de puba... Farinha de puba! Envergonhado, sem saber o que fazer, disse que gostava mesmo era de farinha de puba no suco. Coloquei uma colherada, mais outra, mexi, mexi... E a farinha foi inchando, inchando... À proporção que aquela gororoba inchava, qual maré enchente, que primeiro lambe a parte mais baixa dos barrancos, retrocede um pouquinho, e avança mais e mais, até preencher por completo o leito dos igarapés e rio – as lágrimas dentro de mim se avolumavam. D’um olho, o primeiro pingo no copão de alumínio. Mais outro. Outros mais. Maré cheia. Minha madrinha e a parentada, aflitas, indagavam o porquê de tanto choro. Só consegui falar - “Mamãe, mamãe, quero mamãe!” Minha mãe não tive naquela noite não, porém, João me prometeu e cumpriu: dia seguinte, o sol bocejando, seguimos de volta pro aconchego de mamãe, na Ilha dos Mutuns. Faz tempo: anos!... mais de quarenta. Soares Feitosa, mel de engenho com farinha, gosto – demais! Sempre gostei de mel, melado, no tacho, antes de dar o ponto da rapadura, com um pedaço de cana, previamente raspado, molhar naquela mistura, e quando conseguíamos pegar com nossas mãos de criança, puxa que puxa, puxa-puxa, que delícia! Bem, depois de ler “Joelhos & Mel” uma cacetada de vezes, digo: gostei. Gosto de mel, melado, no tacho... muito embora, depois de muito escarafunchar - puxa-puxei mais dúvidas que certezas!... sabe como é... maré enchente... “Mamãe, cadê você?”
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Paulo Franchetti
From:
Paulo Franchetti
Sent:
Tuesday, May 04, 2004 11:45 PM
Subject:
Re: Poeta, aquele abraço!
Entendi pouco da história. A cena não ficou muito clara para mim... Na verdade, fiquei perdido entre as palavras, na leitura, como cego em briga de faca. Abraço, Paulo
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Foed Castro Chamma
From: "Foed Chamma" <foedchamma@yahoo.com.br>
To: <ff44ff@uol.com.br>
Sent: Saturday, May 08, 2004 3:02 PM
Subject: Alguidar de mel
Caro Soares,
Um clima de incesto no desfecho da sobremesa
no Um abraço, Foed
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Carlos Pessoa Rosa
From: "Carlos Rosa" <meiotom@uol.com.br>
RESENHA SOBRE UMA NÃO-HISTÓRIA Mudar condicionamentos do aprendizado não é tarefa fácil, arrancar das cabeças o vomitado por gerações, reforçado pela escola da rua e dos governos e mídia, necessita de tempo.
Contar uma história, não contando além
daquilo que as palavras criam, dessacralizando o secular das letras,
é como tentar arrancar de um nascido no século XVI a comprrensão do
surrealismo. As letras, parece-me, caminham depois das artes
plásticas, do cinema, o que me parece claro, já que, as Agora, por que essa necessidade de encontrar uma lógica no texto, se o autor conta uma (não)-história, nada além de disso, distante, o mais possível, da ética secular cristã-capitalista? Não entendi, nem compreendi... Não me parece ser essa a questão, quando, por si, o texto já é uma reflexão bastante interessante, rouba um pouco a preguiça usual do leitor médio, o que, para mim, é muito importante. Deve uma narrativa levar algum sentido além daquele conseguido pelo tear das palavras? No caso, posso até encontrar um sentido (a)ético, uma mensagem de vida, ou o que quiserem, é só vestirmos a toga de doutores, mas não me parece ser esse o objetivo do texto, que vai além de uma narrativa bem construída, digerível pelos sentidos anestesiados, pelo conhecimento burocrático e temporal. Carlos Pessoa Rosa
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Luciano Bonfim
Clique aqui para o texto de Bonfim
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Vera Queiroz De: Vera Queiroz Para: Soares Feitosa Enviada em: quarta-feira, 1 de setembro de 2004 17:21 Assunto: os papé
o Joelhos e Mel não tem negócio: é uma parábola sobre a educação de um glutão, à maneira dos grandes clássicos da literatura quanto ao tema e no estilo da alta literatura nordestina. Vc faz um texto conciso, preciso, altamente alegórico, e belíssimo. Educação e amor, ou educação e rigor, ou etc... A mãe cede por amor, o filho pede mais pq amor e comida se assemelham na sua impossibilidade de suprir a béance, a falta, o buraco, a fome de tudo. Mas tem uma hora que a mãe tem de ser mãe, ou seja, lei é lei, e o filho tem de aprender. As frases finais são a última torção do parafuso, o último arrocho/arrojo de amor e compaixão e cumplicidade da mãe. Por isso, o miniconto termina com a palavra amargo.
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Ubiratan Teixeira
POETA:
Estou recebendo um pouco de vida aí dessa fonte admirável e perene que são vocês e gostei da construção, quando você anuncia, pela boca do comedor de mel com farinha, em “Joelhos & Mel”, “comer morigeradamente”. Só um poeta de verdade pode deglutir de tal maneira. Rico, riquíssimo o “4º Panfleto” e “Da Caixa Postal aos Corrós de Açude”, essa fraterna deliciosa visita ao poeta Ascendino – poeta; nós aqui, no Maranhão, não temos essa nata de geradores inquietos que os senhores têm. Tivemos Gonçalves Dias que nem é inteiramente nosso, mas foi seqüestrado pelo continente, tivemos Souzândrade que ainda não existe e temos Nauro Machado que algum dia existirá. Saiba que sou um homem sem pecados. Desses pecados inventados pela Igreja Católica ou comungados pelo catecismo cristão não faço uso. Mas se este for, esse eu tenho: inveja de vocês, meu irmão, pela maneira lírica como vivem e pela forma pura como cantam suas vidas. Poeta, obrigado por me ter entre sua gente fraterna. Estou lhe mandando um livrinho, uma coisinha miúda de minha lavoura. Coloquei-o nos correios hoje: receba-o sem exigir demais. Com um abraço fraterno UBIRATAN TEIXEIRA.
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Rosalice de Araújo Scherffius
Sent: Friday, May 07, 2004 3:49 PM
Subject: Esta parábola dos Joelhos & Mel
Caro Poeta Soares, O soar do teu texto Joelhos & Mel, tem os ares de ode infinita aos inúmeros conceitos e virtudes aprendidas ao longo da jornada do tempo, ao lado de uma sabia e muito preciosa mãe. É assim que eu vejo. As parábolas que geralmente compõem teus escritos são mais uma vez afirmadas aqui, neste exemplar trabalho. Minha admiração. Da relação mestra-discípulo entre mãe-menino, existem constantes que permeiam a jornada com respeito e entendimento mesmo quando a comunicação é lacônica: "— Mãe, mais mel... está duro demais. — ! — Mãe, mais farinha, que está muito fino... — ! — Mãe, mais mel... Mãe, mais farinha... Mãe, mais.." E quando interferência era necessária a mãe-mestra dirigia-se ao menino-discípulo com firme e gentil atitude, mesmo quando as forças físicas pareciam esgotadas devido ao fardo: "— Um instante, meu filho! e, no mesmo silêncio, passava-se-lhe para as costas. Ele já sabia: soltava a colher, já cheia de mel, dentro do prato de mel; jogava as mãos para trás, e ela, num gesto de grande dor (nela, mãe; nele, já nenhuma), espetava-lhe gentil e rapidamente a polpa de um dos dedos. Sem dizer palavra, conferia". Na mistura de mel e farinha, para que "o ponto" seja atingido, é necessário mesmo muito zelo. É um equilíbrio delicado que demora anos de aprendizado... mas a recompensa é garantida. Assim também com o equilíbrio mestra-discípulo, mãe-menino. Até' o momento em que, como consta na obra Joelhos & Mel, a mestra terá de aceitar o crescimento e maturidade do discípulo, tarefa a ela divinamente outorgada e humanamente realizada, e com ele dividir o fardo: "— Meu filho, a dosagem está suportável.E os joelhos de ambos foram insuficientes para tanto amargo." Não é assim que se cresce? Uma mãe e tanto! Um poeta e tanto. Um texto e tanto. Continuo aguardando o outro pape', desde Florida,
Rosalice |
Mantovanni Colares
From:
Mantovanni
To:
Soares Feitosa
Sent: Sunday, July 31, 2005 11:13 AM
Subject: Re: Mestre, espie! [Mande mande mais coisas]
É favor repassar a leitura de forma mansa e nostálgica; mas só os que tiveram mãe, e só os que deixaram se render à inexplicável sensação da simbiótica mistura lúdica da farinha com o mel. Porque no laboratório das lembranças dos afagos maternos, nada mais genuflexo que se chegar ao ponto de êxtase do infinito ritual nunca enjoado. De mel e farinha nunca se enjoa. Quando a alquimista é a mãe, então nem é bom duvidar. Só as mães sabem fazer o "capitão", na amálgama do calor das mãos imprensando o feijão, o arroz e a carne pouca, para o meticuloso bolinho conduzido com carinho à boca da prole. Então é favor ninguém duvidar que os joelhos de toda a família são insuficientes para a inexplicável memória do mel-fel perdido da infância. Mantovanni Colares |
Francisco Perna Filho
From:
framper
To:
soaresfeitosa
Sent: Saturday, August 06, 2005 10:30 AM
Subject: Da caixa postal aos corró de açude
Caro Soares, O seu texto: "O do mel" - aparentemente- é doido, mas é doce! Uma Vírgula no meio do caos lingüístico em que vivemos. Veja, tudo precisa ser dosado, estudado; as coisas precisam de conformidade, adequação. Entendeu? É mais ou menos assim: o seu mel, ou melhor, o texto do mel, é uma teoria do texto literário: conto, poema, romance etc. Poderia a farinha significar as palavras no seu sentido denotativo, a objetividade, a língua na sua pureza estética. O mel, a palavra no seu sentido conotativo, plural, criativa. Quanto mais melífluo o vocábulo, mais carga subjetiva contém. Exemplo de linguagem farinácea(objetiva) "As casas na cidade pequena ficam isoladas as ruas são estreitas e compridas ao meio dia"
Veja, agora, no sentido melífluo:
"As casa na cidade pequena são vacas deitadas à sombra as ruas são cobras tristes esticadas ao sol." (Flávio Luís Ferrarini, poeta de Flores da Cunha, RS)
ou então, a farinha os substantivos e o mel o adjetivo. Sem mel o texto fica muito pesado. Mel demais, o texto fica muito doce. Gostou da viagem? é isso, caro amigo. Abraço, Chico Perna |