Marcelo Moraes Caetano
Ao santíssimo
profaníssimo
homem de felicidade:
Briguei com Deus e com o Diabo,
Quebrei a pirâmide e pisei no rabo.
Os dois se irritaram comigo, ai, ai!
E agora, com quem eu fico, ó Pai?
Rápido, essa parafernália celeste
Se arremessa do céu e investe!
(Ó, minha cabeça ex-briguenta...)
E chove, e troveja, e faísca, e venta.
O Diabo deve ter mandado uma piada,
E Deus fez de mim o centro da palhaçada.
Com certeza eu briguei mas foi para aprender
Que Deus e o Diabo querem compartilhar você?
Agora, francamente, em tudo, o que me resta?
O ser humano, a loucura da arte. A festa?
Sem Deus e sem o Diabo faço o quê?
Começo passo a passo a aprender.
Fica bem assim, pessoa humana,
Cafona, chique, sagrada, profana.
Tudo o que houver de humano são
Graceja na rua em oração.
O santo homem que arranca
A missa negra e a missa branca,
Elevando-se. Altar da profundeza
Vai de baixo a cima, vela acesa
Vela apagada sem velas sem
deuses nem diabos harém.
Quero ser pessoa pura
Quero ser pessoa dura
Quero nunca ter a jura
E confiar na lei escura
E na lei clara, ruptura!
Oba! nenhum outro halo?
É contigo mesmo que eu falo!
Pessoa humana, escuta este novo badalo...
Belém, Belém, Belém, Belém, só agora o Senhor me deu
A maior felicidade do mundo, que é o êxtase de ter Coração juiz-réu!
|