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Natalício Barroso 

Titian, Venus with Organist and Cupid

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Natalício Barroso

 

Ticiano, Magdalena

 

Bernini_Apollo_and_Daphne_detail

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Natalício Barroso



Bio-bibliografia

Natural de Itapipoca, antiga Vila da Imperatriz, no alto da Serra de Uruburetama, Natalício Barroso foi estudante da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, funcionário público da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Municipal de Arte e Cultura (RioArte), no Rio de Janeiro.

Jornalista, escritor e leitor assíduo dos clássicos, escreveu “Festa das virgens” e “O Bibliotecário dos deuses”, além dos livros “O livro dos clássicos” e “A tralha grega e outras tralhas” sobre literatura grega e latina, entre outros. Colaborou com artigos em jornais e revistas no Brasil e no exterior. Presidiu o Centro Cultural Adolfo Caminha, responsável pela realização da Feira do Sebo, na Praça do Ferreira, e da Feira do Livro Cabo Verde/ Brasil, no Centro de Cultura e Arte Dragão do Mar.



 

Albrecht Dürer, Mãos

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Ricardo Alfaya

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Natalício Barroso


 

Os Outros Hóspedes


E afinal quem és tu? E de que país maior do que este chegaste?
E quem te trouxe a esse quarto de hospedaria
e te deitou na cama onde já dormimos e esquecemos? Quem?
A tua esperança é como a dos eremitas que sempre esperam algo de novo
e o teu silêncio, no ressoar das escadarias desse prédio,é como a de um castelo morto a tiros.
Mas quem te trouxe? E quem te deu esse ar misterioso de quem vem de alguma experiência trágica ou de algum lugar sagrado? Quem?
Nada, fora estas indagações, te anuncia.
Apenas a chuva, sobre o teto alto, e a luz tênue sobre o basculante
te mantêm calado e só como uma estátua estupidamente viva.
Mas nós te sentimos. Nós, os que partiram antes de ti
e passaram por aqui em busca da mesma agonia.
 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

Natalício Barroso


 

A Pasta


Um dia me surpreendi.
Havia um raio de sol escondido no meu guarda-roupa.
Abriu a janela do meu quarto quando eu a abri,
e se projetou nas minhas roupas com as pontas dos meus dedos.
Era um raio de sol tão claro quanto um jato d'água na
escuridão
e me molhou o semblante de contentamento.
Mas foi passageiro.
Bastou vestir a calça comprida
e pôr a camisa depois dos sapatos
para o dia, entrando na minha pasta preta, se cobrir de luto nas minhas mãos.
 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), The Ancient of Days

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José Inácio Vieira de Melo

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

 

 

 

 

 

Natalício Barroso


 

O Mercador


Deus, como se fosse o artífice meticuloso
e um mercador de pedras preciosas,
bordou o Universo num tapete
                                           enrolou-o
e saiu com ele pelas ruas de Nova York.
Tinha muitas estrelas para vender.
Cada uma delas valia milhões.
Mas como o Universo não é composto só de estrelas
mas de cometas, anéis e arco-íris
(para não falar nos meteoros, etc.)
Deus também bordou a sua sombra, como se fosse um halo de
                                                                  luz,
em volta do Universo.
         Em Nova York, Washington e Maryland
Deus carregou o tapete sobre os ombros
e anunciou-o levando uma lua cheia na cabeça
e um relâmpago tão enredado quanto uma serpente nos
                                    braços;
mas ninguém quis comprar.
Nem mesmo os árabes, donos de camelos
                                                                  petróleo
e oásis no deserto;
nem os turistas,
cada um mais atarefado do que o outro,
que todos os dias desembarcam em Miami.
Estavam todos muito preocupados
com a cotação da bolsa em Wall Street
e com o desempenho de alguns pilotos na Fórmula 1.
O Universo, para eles,
não era precioso:
— nem o Universo
nem os astros;
por isso Deus sentou-se numa grande nuvem,
quando se sentiu cansado;
abriu o tapete e pensou:
"— A Lua", disse ele olhando para a Lua,
"não vale um dólar;
o Sol, que eu pensava valer alguma coisa,
não vale nada (nem um raio de atenção)
e os anéis de Saturno que, para mim,
eram incalculáveis nem mesmo suscitaram
                                   atenção".
Deus ficou tão ofendido
quando percebeu isso que, no lugar de desenrolar
e guardar o Universo a seus pés,
enrolou e guardou a sua sombra.
 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Christ in the Sepulchre, Guarded by Angels

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Juscelino Vieira Mendes

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Natalício Barroso


 

Definição


Venho de uma terra em que os homens
põem uma cadeira na calçada e se cumprimentam no meio da
                                     rua.
De vez em quando contam uma história mal-assombrada
para amedrontar as crianças
e riem de si mesmos nos braços da cadeira.
longe ficava o mar
e os navios atracados nos livros de geografia;
os aviões decolando nos mapas escolares
e os primeiros automóveis buzinando na imaginação.
 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), João Batista

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Ana Peluso

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Natalício Barroso


 

Bilhete


Eis que te ofereço meu coração como uma
                                    flor
e espero que as tuas mão
que são as minhas mãos
saibam pegá-lo como quem pega
um pássaro cheio de pétalas
ou um simples ninho
que ainda não desfolhou.

Este é o meu coração de homem e de poeta
e a haste, de onde o tirei, sangrou.
 

 

 

Hélio Rola

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Cida Sepúlveda

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

 

 

 

 

Natalício Barroso


 

De manhã eu sei que o sol vai morrer


De manhã eu sei que o sol vai morrer
depois das dezoito horas.
Mas não me apavoro.
Ele pode morrer antes, se quiser.
Há muito tempo que a minha vida é uma sucessão de expectativas.
Nenhuma delas realizada.
Por isso espero o sol morrer depois das dezoito horas
e ele morre.
Uma tarde, quando o sol era uma estrela cadente,
eu pedi para uma bailarina nascer no lugar da lua.
Mas não nasceu.
Primeiro porque nenhuma bailarina vai nascer no lugar da lua.
Depois porque, se nascesse, não seria uma bailarina.
Mas uma deusa. Eu ri. Não porque fosse impossível
uma deusa nascer no lugar da lua.
Mas porque as deusas não nascem mais.
Elas se afogaram nos Lusíadas e nunca mais emergiram.
Estão lá, no fundo de um poema,
presas às barbas e aos cabelos de Netuno.
Camões que o diga. Ele que teceu
os raios de luar no rosto de Netuno
e deu-lhe o nome de Vasco da Gama.
 

 

 

Um esboço de Da Vinci

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Alceu Brito Correa

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Natalício Barroso


 

Mais um Poema de Amor para a Mulher Novamente Amada


A mulher amada tinha cabelos longos que desciam pela vertente dos ombros;
escorriam rápidos a tortuosos até a ponta dos seios
e se espalhavam ao redor da ansiedade.
Estes eram os cabelos da mulher amada.
Eles ficavam volumosos, quando se enchiam de amor,
e caíam como uma ducha sobre os corpos cansados.

Mas onde está a mulher amada?
Para onde a levaram? E porque a esconderam de mim?
Eu a tinha visto com os seios nus
e os olhos tão ferozes quanto os de uma loba no cio.
As unhas eram longas, como se ela quisesse dilacerar alguém,
mas o púbis, deliciosamente acarinhado, se umedecia de
compaixão.

Mas para onde levaram a mulher amada?
Para que tipo de vida, mais apaixonante do que a minha, a levaram?
E porque a levaram?
As minhas horas estão vazias
como as noites solitárias num quarto de dormir.
Elas parecem as mesmas
mas o homem não é mais o mesmo.
Ele é apenas a janela do quarto aberta
para um pátio onde a lua brilha para seus olhos fechados.
Nada mais.
 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

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Maria da Paz Ribeiro Dantas

 

 

 

 

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