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Fernando Peres

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

Fernando Peres



Ipsis Litteris


Poesia é maleita,
febre terçã que não se enjeita.
Poesia é desejo,
risco no ar, risco e lampejo.
Poesia é medo,
dor da palavra e seu enredo.
Poesia é pasmo,
jogo de ancas que se faz orgasmo.
Poesia é canção,
luz de uma voz e cantochão.
Poesia é tudo,
brilho da vida, discurso mudo.
Poesia é amor,
roçar de pele que tem sabor.
Poesia é nada,
chama dos mortos na madrugada.
Poesia é retrato,
olhar no espelho em 3x4.
Poesia é isto,
sinta seu toque e pense nisto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

 

 

 

 

Fernando Peres



Natureza viva


Esta porta não abro, meu amor,
quero ver através da rachadura,
este toque de luz em teu cabelo.

Esta janela não abro, meu amor,
quero sentir na fímbria da treliça,
este perfume de vulva umedecido.

Só abro a porta e janela, meu
amor,
se a cor do teu olhar for invadida,
com o desejo que tenho do teu
corpo.

 

 

 

 

Da Vinci, Madona Litta_detalhe.jpg

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albano Martins

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

 

 

 

 

 

Fernando Peres



Luar no Guadalquivir


Há uma energia na lua
escondida em seu minguante,
nesga de um halo no céu;
triste e distante.
A lua feita em pedaço,
secreta no resto escuro,
uma lembrança de Lorca,
um conluio de poetas;
frágil e maduro.
Lua que sabe de amores,
pois quando cheia abrasou
o rio, o campo, os olhares,
enluarados amantes
com seus afagos rascantes.

 

 

 

 

Octavio Paz, Nobel

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Rubens Ricupero

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

 

Fernando Peres



Tempus Fugit


O tempo começa
quando nascem certas flores.
O tempo denso de uma noite,
o seu perfume, a sua ardência,
de uma flor que não pode ver o
dia.
O tempo acaba
quando morrem certas flores.
O tempo evanescente de uma
garoa:
o seu afago, a sua frialdade,
de uma flor que não pode ver a
luz.
O tempo é noite, é bruma:
permanência do escuro entre as
estrelas,
uma passagem de arrepio entre
calores.
O tempo começa e o tempo
acaba,
tudo que dizemos sobre flores,
rápidos, efêmeros, doentes;
nossa mirada, uma miragem,
resvala em jardim, de madrugada.

 

 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Angels Rolling Away the Stone from the Sepulchre

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Carlos Herculano Lopes

 

 

10/11/2005