Salomão Rovedo
Os mares
"Débil llega el mar
hasta mi cuarto
meciéndome
entre sus algas
dedos"
Carmen Berenguer
Mar de meditação.
Mar primordial.
Mar principalmente carioca.
Origem e fim de tudo,
bate no Rio de Janeiro
mandado por Iemanjá
ou por Posídon.
Banha Uiaras de areia,
engole atrevidos, ousados.
Mar de cores impuras,
que manda a saúde embora.
Bendito seja o fruto
do teu profundo ventre,
zelai os pescadores.
Trazei no toldo das ondas
o alimento de todos os dias,
o sal amargoso do batismo,
o sal da fé e da vida.
Mar que aceita surfistas,
travessos amantes notívagos,
ambos enfeitiçados
pelo encanto das sereias.
Barcos, iates, saveiros,
mar de engolir navios.
Mar de desertos e praias:
Copacabana – verde de musgo,
Arpoador – altar de beleza,
Ipanema – convite ao carinho,
Leblon – caminho da Barra.
Grande ventre de silêncios,
algas negras que geram
moléculas viscerais,
amniótico líquen,
negro ventre abençoado,
rezai por nós predadores.
Mar perdido por meandros
das praias do Recreio,
lagoas, seios, pântanos,
coxas, restinga de Vênus,
rumo a outros litorais.
Mar de liturgias e orações,
mar essencial, onde navegam
pensamentos e pirilampos,
mar que é rio, mar de rosas,
mar da antropogênese de nós.
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