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Valdir Rocha

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Valdir Rocha

 

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Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Valdir Rocha



Bio-bibliografia


Valdir Rocha nasceu aos 6 de agosto de 1951 em São Paulo, SP. É pintor, desenhista, escultor e gravador, com dedicação às artes plásticas desde 1967. Como artista plástico, seria aquilo que se costuma chamar autodidata, ainda que não aceite tranquilamente esse rótulo, porque, atualmente, todas as pessoas que têm acesso pleno às informações podem aprender com todo mundo. Formou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da USP, por onde também obteve os títulos de Doutor e Livre-Docente. Deixou a carreira acadêmica para se dedicar exclusivamente a atividades editoriais e artísticas – com essa dedicação bifrontal, põe a cabeça nas nuvens e os pés em terra firme.

Parte expressiva de sua obra está reunida nos seguintes livros: Cabeças. São Paulo: Arte Aplicada, 2002; Confidências (desenhos e pinturas sobre papel impresso), São Paulo: Pantemporâneo, 2013; Gravuras em Metal. São Paulo: Artemeios, 2002; Intimidades Transvistas (pinturas). São Paulo: Escrituras, 1996 (volume com a participação dos seguintes poetas: Alonso Alvarez, Christiane Tricerri, Cristina Bastos, Eunice Arruda, Gonzaga Leão, Hamilton Faria, Helena Armond, Ives Gandra, Jorge Mautner, Marola Omartem, Neide Arcanjo, Nilson Machado, Olga Savary, Pedro Garcia, Raimundo Gadelha, Raquel Naveira, Renata Pallottini, Renato Gonda, Thereza Motta e Wilson Pereira, com apresentação de Aguinaldo Gonçalves); Mentiras, Verdades-meias e Casos Veros (desenhos, pinturas, esculturas e textos diversos). São Paulo: Escrituras, 1994; SÓS (desenhos e pinturas sobre papel impressO), São Paulo: Pantemporâneo, 2010; Títeres de Ninguém. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2005; e Xilogravuras. São Paulo, Escrituras, 2001.

A obra de Valdir Rocha é objeto de diversas monografias, como as seguintes: A Escultura de Valdir Rocha, de Mirian de Carvalho, São Paulo: Escrituras, 2004; O Desenho de Valdir Rocha, de Péricles Prade, São Paulo: Escrituras, 2004; e a A Torre de Babel de Valdir Rocha, São Paulo: Escrituras, 2007.

Em 2012, foi publicado o livro Só sobre SÓS,de Valdir Rocha coordenado por Péricles Prade, pela editora Letras Contemporâneas, de Florianópolis-SC, com 17 textos de Álvaro Cardoso Gomes, André Carneiro, Carlos Perktold, Claudio Willer, Guilherme de Faria, João de Jesus Paes Loureiro, Jorge Anthonio e Silva, José Neistein, Marcelo Grassmann, Mirian de Carvalho, Nelson Screnci, Oscar D’Ambrosio, Paulo Cheida Sans, Péricles Prade e Sandra Makowiecky, todos com ensaios e depoimentos em torno do livro SÓS.

Tem dirigido alguns documentários em vídeo, como os seguintes: Arthur Bispo do Rosário: Organizador do Caos, gravado durante a 30ª Bienal de São Paulo, com depoimentos de Antonio Carlos Abdalla, Antonio Zago, Célia Musilli, Claudio Willer, Ferreira Gullar, Jorge Anthonio e Silva, José Henrique Fabre Rolim, Juliana Motta, Marta Dantas, Omar Fernandes Aly, Oscar D’Ambrosio, Ricardo Viveiros e Valdir Rocha; e O Imaginário de Wega Nery, com depoimentos de Carlos Soulié do Amaral, Jacob Klintowitz, Milu Molfi, Olívio Tavares de Araújo, Raul Forbes, Ricardo Viveiros, Roberto Duailibi, Silvia Duailibi e Tão Gomes Pinto.


(Texto redigido em 09.03.2023)

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

José Castello


 

ESCUTEM SEU NOME         

 

Em um poema de Floriano Martins, "Rastro", esbarro em um verso que me derruba: "_ Esta é a única obra. Escutem seu nome". O poema está em "O sol e as sombras" (Editora Pantemporâneo, 2014), livro trabalhado em parceria com as mãos vigorosas do artista Valdir Rocha. As reproduções das gravuras em metal de Valdir são atordoantes e conferem ainda mais potência à frase que leio. 

          O livro se abre com uma epígrafe iluminadora do espanhol Francisco de Goya: "Na natureza existem tão poucas cores quanto linhas, só existem o sol e as sombras. Dá-me um pedaço de carvão e eu te darei o quadro mais belo". Tudo, no livro, conflui para um mergulho radical em si. Tudo conflui para o verso de Floriano _ ele, também, simples e forte.

          Eu o repito, para ter certeza de que ele existe: "_ Esta é a única obra. Escutem seu nome". O verso vem em itálico, o que tanto pode indicar a fala de um personagem obscuro, como uma citação. Mas citação de quem? Não importa _ o verso se fecha em si mesmo e nos sacode. Nos arrasta. Ele resume, de modo impactante, o segredo da própria criação.

          Lembra Goya que na natureza existem poucas coisas realmente valiosas e que, por isso, devemos nos aferrar ao pouco que temos. Precisamos nos agarrar ao que somos _ ao próprio nome _ ou nada mais se sustenta. Essa parece ser a sina de artistas e escritores: sustentar uma assinatura. As máximas contemporâneas afirmam que "o autor morreu", mas para os artistas verdadeiros isso não passa de uma afirmação leviana.

          Precipitada e perigosa, já que pode matar (ainda que metaforicamente) o que um artista é. Pode emudecer uma voz. E de que mais trata um nome senão de uma voz que nos designa? Que nos devolve a nós mesmos? Ter um nome _ o que é muito diferente de ter uma identidade renomada _: eis tudo o que um artista quer. Tudo o que um artista (um escritor) persegue. Tudo o que o mantém respirando.

          O mesmo poema, "Rastro", abre com outros versos fortes: "O lugar de ser de cada letra,/ a oração convertida em pérola/ que nos decifra em fatias". A palavra pérola _ eis o nome, ao que só se chega depois de um longo percurso de volta a si. Voltar a si é muito mais difícil do que avançar, ou transformar-se. Em outras palavras: para um artista, voltar a si é o verdadeiro avanço, é a verdadeira transformação. 

          Transformar-se em si mesmo _ o que parece simples é o mais difícil. Ainda Floriano: "O mundo é uma fábula,/ até que nos descobrimos/ o personagem de sua saga". O personagem de si mesmo. Ao lado do poema, um imenso rosto, com os olhos arregalados, nos encara. Figura, mais do que nunca, silenciosa. Seus olhos bastam. 

          A arte de Valdir Rocha dialoga em silêncio com as palavras do poeta. Esse olhar intenso e imenso, voltado mais para dentro do que para fora, é aquele que um artista abre para, enfim, chegar a si mesmo. Refere-se, ainda, ao espanto que todo artista experimenta quando, depois de muita luta, chega ao próprio nome.

 

4.3.2015

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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(12.06.2023)