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Alphonsus de Guimaraens

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Alphonsus de Guimaraens


 

Bio-Bibliografia

 

Afonso Henriques da Costa Guimaraens
(Ouro Preto MG, 1870 - Mariana MG, 1921)

Formou-se bacharel em Direito, em 1894, em Ouro Preto. Na época já colaborava nos jornais Diário Mercantil, Comércio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S. Paulo e A Gazeta. Em 1895 tornou-se promotor de Justiça em Conceição do Serro MG e, a partir de 1906, Juiz em Mariana MG, de onde pouco sairia. Seu primeiro livro de poesia, Dona Mística, 1892/1894, foi publicado em 1899, ano em que também saiu o Setenário das Dores de Nossa Senhora. Câmara Ardente, cujos sonetos atestam o misticismo do poeta. Em 1902 publicou Kiriale, sob o pseudônimo de Alphonsus de Vimaraens. Sua Obra Completa seria publicada em 1960. Manteve contato com Álvaro Viana, Edgar Mata e Eduardo Cerqueira, poetas simbolistas da nova geração mineira, e conheceu Cruz e Souza. Considerado um dos grandes nomes do Simbolismo, e por vezes o mais místico dos poetas brasileiros, Alphonsus de Guimaraens tratou em seus versos de amor, morte e religiosidade. A morte de sua noiva Constança, em 1888, marcou profundamente sua vida e sua obra, cujos versos, melancólicos e musicais, são repletos de anjos, serafins, cores roxas e virgens mortas.


NASCIMENTO/MORTE

1870 - Ouro Preto MG - 24 de julho
1921 - Mariana MG - 15 de julho

LOCAIS DE VIDA/VIAGENS

1890/1893 - São Paulo SP
1893/1895 - Ouro Preto MG
1895 - Rio de Janeiro RJ - Viagem
1895/1906 - Conceição do Serro MG
1906/1921 - Mariana MG
1915 - Belo Horizonte MG - Viagem

VIDA FAMILIAR

Filiação: Albino da Costa Guimarães, comerciante português, e Francisca de Paula Guimarães Alvim, sobrinha do poeta Bernardo Guimarães
Irmão do poeta Archangelus de Guimarães
1888 - Ouro Preto MG - Morte da noiva Constança, filha do poeta Bernardo Guimarães, fato que marca profundamente sua obra
1897 - Conceição do Serro MG - Casamento com Zenaide. Quatorze filhos, dos quais dois escritores: João Alphonsus e Alphonsus de Guimaraens Filho
1908 - Mariana MG - Morte do pai
1910 - Mariana MG - Morte da mãe

FORMAÇÃO

1887 - Ouro Preto MG - Curso complementar da Escola de Minas
1891/1892 - São Paulo SP - Curso de Direito
1893/1894 - Ouro Preto MG - Bacharel em Direito na Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais
1895 - São Paulo SP - Grau em Ciências Sociais

CONTATOS/INFLUÊNCIAS

1893c. - São Paulo - Convivência com Alberto Ramos, Augusto de Viana do Castelo e José Severiano de Resende, na Vila Kirial, residência do poeta Jacques d´Avray (José de Freitas Vale)
1905 - Belo Horizonte MG - Contato com os simbolistas da nova geração mineira: Álvaro Viana, Edgar Mata, Eduardo Cerqueira
1919 - Mariana MG - Visita de Mário de Andrade

ATIVIDADES LITERÁRIAS/CULTURAIS

1891/1906 - São Paulo SP - Colaborador nos jornais Diário Mercantil, Comércio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S. Paulo e A Gazeta
1902 - Porto (Portugal) - Publicação de Kiriale, sob pseudônimo de Alphonsus de Vimaraens
1903/1904 - Conceição do Serro MG - Diretor, redator e cronista do jornal político O Conceição do Serro
1906 - Mariana MG - Colaborador em O Germinal e Diário de Minas
1920 - Ouro Preto MG - Publicação de Mendigos, livro de crônicas

OUTRAS ATIVIDADES

1895/1906 - Conceição do Serro MG - Promotor de Justiça
1906 - Mariana MG - Juiz municipal

HOMENAGENS/TÍTULOS/PRÊMIOS

1909 - Juiz de Fora MG - Eleito membro da Academia Mineira de Letras, cadeira no. 3, patrono Aureliano Lessa
1915 - Belo Horizonte MG - Homenagem, no Clube Acadêmico

 
[Fonte: Itaú Cultural]
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

 

 

 

 

 

Alphonsus de Guimaraens


 

Ossa Mea


II
Mãos de finada, aquelas mãos de neve,
De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve,
Que parece ordenar mas que suplica.

Erguem-se ao longe como se as eleve
Alguém que ante os altares sacrifica:
Mãos que consagram, mãos que partem breve,
Mas cuja sombra nos meus olhos fica...

Mãos de esperança para as almas loucas,
Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,
Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
Cerrando os olhos das visões defuntas...


 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

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Ascendino Leite

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Alphonsus de Guimaraens


 

Pulchra Ut Luna


II
Celeste... É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste...
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste... E como tu és do céu não amas:
Forma imortal que o espírito reveste
De luz, não temes sol, não temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

Incoercível como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio à noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hóstia sagrada.


 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Benedicto Ferri de Barros

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

Alphonsus de Guimaraens



Árias e Canções


II
A suave castelã das horas mortas
Assoma à torre do castelo. As portas,

Que o rubro ocaso em onda ensangüentara,
Brilham do luar à luz celeste e clara.

Como em órbitas de fatias caveiras
Olhos que fossem de defuntas freiras,

Os astros morrem pelo céu pressago...
São como círios a tombar num lago.

E o céu, diante de mim, todo escurece...
E eu que nem sei de cor uma só prece!

Pobre alma, que me queres, que me queres?
São assim todas, todas as mulheres.

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

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Manoel de Barros

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Alphonsus de Guimaraens


 

Terceira Dor


VI
É Sião que dorme ao luar. Vozes diletas
Modulam salmos de visões contritas...
E a sombra sacrossanta dos Profetas
Melancoliza o canto dos levitas.

As torres brancas, terminando em setas,
Onde velam, nas noites infinitas,
Mil guerreiros sombrios como ascetas,
Erguem ao Céu as cúpulas benditas.

As virgens de Israel as negras comas
Aromalizam com os ungüentos brancos
Dos nigromantes de mortais aromas...

Jerusalém, em meio às Doze Portas,
Dorme: e o luar que lhe vem beijar os flancos
Evoca ruínas de cidades mortas.


 

 

 

Hélio Rola

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Soares Feitosa

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Alphonsus de Guimaraens



Cisnes Brancos


Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.

Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.

Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.

Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.

Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...

Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: — Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.
 

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana

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João Scantimburgo