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			Alberto da Cruz 
   
            Biografia Sintática
 
 Eu, substantivo, na ação verbal
 Como objeto jamais quis permanecer.
 Nutri em vida o ledo sonho
 De como sujeito me enternecer.
 
 
 Fui infeliz na sintaxe da vida,
 Pois primeiro me coube a função
 Completiva de outro nome
 Por imposição de um Ser.
 
 
 Tornei-me passivo e subordinado,
 Com deveras esforço, galguei novo cargo.
 Como adjunto caracterizei um cognato
 Desses mais aclamados.
 
 
 Tempos passados me coordenaram
 E por meros instantes me orgulhei,
 Mas quis o sádico destino alomorfizado
 Que eu fosse somente um derivado.
 
 
 No processo verbal, deixaram-me,
 Sem me consultar, no predicado.
 Tolo eu fui, pois não me permitiram nuclear...
 Completei, assim, um indiferente verbo irregular.
 
 
 Sofri a farfalhada zombaria
 De ingratas preposições....
 Delas nada mais se pode esperar,
 E a pena caridosa das interjeições
 Suspirando seus ai, ais!
 
 
 Ao meu lugar me pus
 E aceitei a passividade do termo,
 Quando me promoveram à categoria
 De objeto direto, mas por não confiarem,
 Fui impiedosamente pleonastiquizado .
 
 
 A pena, cumpri sem questionar,
 Pois esperanças mantive de me verbalizar;
 E na diferente construção,
 Enfim me realizar.
 
 
 Não tive a sorte
 E no período vaguei
 Sem fixa posição,
 Totalmente sem lugar.
 
 
 Quando por fim a notícia tive,
 Estava a me deslocar.
 Convidaram-me para sujeito
 E nem pude acreditar.
 
 
 De gala me vesti
 Todo, inteiro e aprumado
 Com o sorriso exposto compareci
 Para ser apenas indeterminado.
 
 
 Magoado com os termos
 Faltando a concordância
 Brigado com a regência
 Desisti da sintaxe...
 
 
 E fui ser anacoluto na vida.
 
 
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