Cissa de Oliveira
Recebe os pássaros de brisa
“... abres-me as portas do paraíso
com os seus pássaros silenciosos
e sepultas-me as mágoas
sob as águas calmas
do dia seguinte...”
in: É inverno ou primavera? : José António
Gonçalves
olha os meus pássaros amor,
guia-te por eles e descobre dentro de ti
se é inverno ou primavera
pois já te presenteei com as tonalidades
turquesas da plumagem
dos mais delicados pássaros
vês? levam consigo a profundidade
tinta das águas, e o balbuciar
docinho dos céus limpos das tardes
sente no bater cadenciado das suas asas,
o aroma que fica dos poemas
depois de derramados
segue entre eles a brancura
segredada dos silenciosos cantos,
que não sei se ouvirás, ou quando
porque antes, será preciso que a caixa
ressonante do teu coração
esteja preparada
com eles enfeita e dá vida aos telhados
das tuas cidades fantasmas,
apagando delas qualquer silêncio mutilado
escuta dos seus biquinhos o som,
são guitarras que denunciam o ritmo
das tuas mais escondidas alegrias
lê no minúsculo colorido assaz
dos seus olhos, um quê das promessas,
maduras como os cristais
abre as portas e todas as janelas,
e recebe os meus pássaros de brisa,
frágeis, como cabelos de boneca
sepulta vagarosamente as tuas mágoas,
como dálias que dançando no ar,
renascessem num balé de pétalas
imagina em cada um desses mimos,
um querubim, e a minha vontade,
evoluindo como um beija-flor no ar
percebe neles, os vestidos e a tez
dos sóis, e aprecia a realidade
como é quando bonita de fato
guarda-os livres entre os jardins da casa,
para que eles te sigam
como girassóis de dias claros
pra ti, os meus pássaros levam nas asas
o mundo plano onde se perde a vista,
assim, alcança a minha mão
e adormece deitando os olhos,
no bosque sempre anil do teto do teu quarto,
onde por ti velarão os meus pássaros
independente do que se refletirá
amanhã, na correnteza dos céus
quando se espelham nas águas planas.
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