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Aparecida Torneros

Poussin, The Empire of Flora

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Aparecida Torneros


A menina afegã, de Soares Feitosa

 

 

As Meninas do afago na alma afegã. Feitosa, que olhar, hein? Mais que olhar, que afago de afegã assustada com “A menina afegã”, de Steve McCurry, com o mundo injusto e com a incerteza de sobreviver na alma dos que a podem observar. Menino, que lindo o seu texto... Mais que lindo, que sentimento de profundidade na tal alma humana tão perdida na loucura da guerra. Obrigada por ter me proporcionado esse instante de ser mais gente ainda.. através da imagem e da reflexão sobre o que você criou. Beijo de afago no poeta que habita em seu instinto sensível de produzir a Paz, em plena sandice que é a luta armada pelo poder e pelo colonialismo. Cida

 

Clique e acesse o texto A menina afegã

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Aparecida Torneros


 

Despedida


Dos sentimentos que não sinto mais...
sobrou aquele resto de segredo...
já não é mais mistério imaginar-te aqui..
no meio das minhas coxas...
porque estás agora no meio das minhas dores...
paradoxalmente...
dos desejos que não desejo mais...
e... sobra um olhar perdido no horizonte...
vou ver se o mar traz o teu vulto obscuro,
se me devolve alguma réstia de luz do sol
entre a penumbra que me inunda a alma
há um misto de adeus aparvalhado, abobado,
que deixa minhas mãos abanando no vazio,
como se vagassem dançando no universo sem fim,
minhas mãos flutuam como gaivotas sem rumo
enquanto meus sentidos perdem o sentido,
isso deve ser um pesadelo, imagino, um fumo,
um delírio mau, talvez o resultado da ressaca
da embriaguez que foi meu encontro contigo
neste mundo tão confuso, nesta vida tão indecifrável,
neste espaço tão impalpável, neste descompromisso...
Dos sentimentos que não sinto mais...
ficou um amargo na boca do estômago,
um ardor doído no peito abafado,
ficou um calor que me queimou a pele,
machucando a derme, abriu-se uma ferida,
que , para cicatrizar, levará tempo sem correria,
a solidão tão fria, desde a alma vazia,
desde a despedida, voltando a fita, até o primeiro dia...
Aí, nesse ponto do filme, troco a cena...
para que revejas cada quadro da nossa história
como se fosse a produção de um longa de sucesso
a vender ilusões ao público externo, uma balela...
Dos sentimentos que não sinto mais...
preciso descobrir o lugar onde os perdi,
para nunca tornar a reencontrá-los...


24/10/2006

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

Aparecida Torneros


Beijo perdido no aeroporto


Procura-se um beijo perdido,
na pracinha em frente ao Aeroporto,
era de estimação,
seus donos gratificam,
a quem encontrá-lo.

Procura-se um elo rompido,
e, como recompensa, daremos conforto,
de muita oração,
aos que intensificam
a busca de achá-lo.

O beijo que se perdeu,
era de até logo, era um afago,
de duas almas valentes,
era mesmo a praga de um mago,
que os uniu e os separou,
mas que os ungiu de sementes,
com adubo de Paz e a eles deu
o encanto dos vôos ascendentes.

Procura-se esse carinho,
porque ele guardou em síntese,
a esperança do reencontro,
que não houve, ficou escondidinho,
no coração dos que o trocaram.
Foi a despedida dos que se apaixonaram,
foi o momento roubado no tempo,
e representou tanto, foi lindinho.

Quem o encontrar, por favor, devolva,
Coloque-o em caixa dourada, envolva,
com reverência, com zelo, com respeito,
é um beijo solene, tem muita história.
Merece ser resgatado, porque está confuso,
imaginem, perdido, na multidão que viaja,
e ele tenta rever seus donos, para que haja,
entre os dois o alívio de guardá-lo,
em lugar inacessível a terceiros,
em reduto adequado onde os beijos repousam,
dignamente, com a calma dos que não ousam,
em hipótese alguma desfazer sua magia.

Esse beijo que se perdeu tem a glória
de ter sido dado com as almas de dois seres
tão inebriados da paixão e da memória,
que irão reavê-lo, com tais poderes,
eles se acalmarão, se apaziguarão,
se completarão, se perdoarão,
e pra sempre um grande Amor viverão...

Poussin, Rinaldo e Armida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

Aparecida Torneros


Oração a Santiago


Ó meu Santo Padroeiro,
Meu Santiago Patrono,
Santo dos Peregrinos,
Dos eternos viajantes,
Dize-me o que vem primeiro,
Se o ardor dos amantes
Ou os amores meninos...


Mostra-me justo caminho
Para somar, acrescentar,
Na vida daquele mocinho,
Por quem hoje tenho paixão...


Ajuda-me a ajudá-lo,
Nos momentos de enfermidade,
Nos instantes de saudade,
Nas agruras da divisão...


Protege-o, eu imploro, sim,
Eu prometo agradecer, amá-lo,
Para sempre amor sem fim...


Ó meu santo dos Caminhantes,
Salva meus pés, leva meus passos,
Conduze-me no rumo certo,
Mostra-me a luz, um céu aberto,
Sem fugas, sem sofrimentos,
Permanece-nos bem atentos,
No respeito, na paciência...


Santiago, santo digno e forte,
Abençoa-nos até a morte,
Guarda-nos na obediência,
Dá-nos a força dos ventos
Para empurrarmos os dias
E o equilíbrio do fogo,
Para aquecermos as noites...


Sê em nós a razão de tudo,
Leva-nos ao Deus supremo,
Toma conta dos nossos corações,
Envolve nossos corpos em preces.
Tem compaixão dos nossos senões,
Fraquezas humanas, revoltas, regressões,
Entende que nossas intenções
São as melhores, boas e doces.


Ó santo dos questionadores,
Daqueles que buscam amores,
Além de encontrarem as dores,
Mas que insistem em prosseguir...


Somos teus seguidores, somos,
E no teu dia, somos a alegria,
De encontrar-te nas flores,
De rever-te nos gnomos,
De saber-te companheiro,
Das nossas andanças, cobranças.
Te ofertamos, em versos,
Nossa oração, a intenção
De honrar-te na fé que guia.


Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Aparecida Torneros


 

Marcas


Marque em mim sua assinatura forte
Marque a sorte
Marque o sim
Marque o Brasil de nós
A terra, a falta, o fogo,
Aproveita, esquenta o jogo
Que vamos jogar a sós...
Marque na noite de lua cheia
Para sempre, na sua alma,
O eterno amor que incendeia,
O gozo perfeito que acalma.
Marque ainda em cada linha
Do corpo quente, o ponto certo
Da sua fugaz, efêmera, pequenininha
Sombra de paixão por perto...
Marcando sem ferir, entretanto,
Seu jeito doce invade e cobre,
Penetrando toda carne tremulante,
Alisando cada parte mais nobre.
Marcas, vai deixando, criatura,
De amor, de posse, sentimento,
Queira ou não sua textura
De macho teso procura este momento.
A marca maior do sêmen liberado
Pela espécie, procriação, glória, vida,
O prazer de haver conquistado
Um pequeno mundo, a amada querida.
Marque muito mais, que isso ela deseja,
Não se apiede, assine tudo,
Escreva nome, endereço, o que enseja
Não ter resposta, se surpreender mudo.
Marcas ficarão, agora você compreende,
Mesmo que a vida os afaste,
O tempo os carregue,
Porque o grande encontro, este só depende,
Do coração, nada mais, portanto não o renegue...


Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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10.10.2023