A Menina Afegã*Ana, que também é Behrens, me disse: “Ela* me olhou pela vez primeira quando eu ainda dava aulas. Há quase dez anos. Encontrei seu rosto na capa do livro de Ciências que eu usava na escola. [...]. Hoje de tarde subi a ladeirinha e até chegar em casa, pronunciando a mesma palavra espantada. Nossa!! Nossa!! E o êmbolo crescendo tanto quanto a ladeira, que nunca me pareceu tão imensa. O caminho habitual não me traria nenhuma banca de revista, muito menos um pôster. O que o tempo quer de nós?”. Que, também Ana, a madrinha, um dia de tarde, aprontou a tábua em cima da pia da cozinha e disse que estava a fazer alfenins. Antes que nos cheguem os alfenins, chega-nos o puxa, e todo mundo sabe disto. Água, a tábua molhada. E, sobre a leve lâmina d'água, o mel fez-se véu e torrente. Quase quente. Acalmou-se, tomando forma de coisa que espalha e preenche. Antes, no fogo, borbulhara, quente. Espesso. Vulcano. Noutro dia, também de tarde, desta vez a mãe, quando retirava o ar da seringa, no alto da agulha aquela gota se explodiu depois de encher completamente todo o espaço de uma gota. O bucho do compadre, negro, branco como uma mão-de-cal, a madrinha já lhe lambuzara o álcool. No pé, também duas gotas. Eram vermelhas. Explodidas de sol e brilho, mas eram morte. Repara bem embaixo, no canto inferior direito, o canto da boca, o delineio do lábio de cima. A mãe disse que eu fosse fechar a porta e ficasse botando sentido lá longe, que ninguém chegasse nem falasse alto que o compadre... Sabe-se que uma voz de agoiro pode matar. Eram de cobra, os dois buracos no pé. Seria de justo nepotismo colocar os olhos da mãe aqui. Brilhavam, sim. Cheios, plenos, explodidos. Da cobra? Os dela? E por que não?! Ninguém disse nada. Na barriga do negro, compadre Totonho, a primeira dose do polivalente do Butantã. Atalhei os chegantes. Disse-lhes que havia um “ofendido”. Isto basta, sabemos que sim, por lá. Um leve desmaio nos olhos brancos. Mais outra dose, com muita calma. Repara agora na penumbra da face, nessa viagem magistral entre rosto e costas... Lá, bem no canto do olho – despreza a pupila se puderes –, mas vê, para trás, viajando em mão de seguir, há luz de sombras. Minha mãe falava num choque. Destes de quando vemos...? Vemos o quê, meu Deus?! Não! Ela falava do momento de dosar os soros... Anafilá... E eram os olhos do finado. Rodantes. O brilho linear do aparelho dizia que era zero o cérebro, mas os olhos clamavam. E o cheio do lábio, em cantos vivos – desce, leitor, agora, do olho à boca. Vê, bem dentro, entre lábio e lábio. Falariam? A placidez daquela tábua de mel faz contorno, agora, no pousio da boca. Só quem sabe como é, é quem perdeu. O amigo. Juracy. O negro escapou. Contava para quem não quisesse ouvir que quando puxara a enxada com o rolo de mato, ela, de quase dois metros, veio junto. Saltara-lhe os olhos de bote e boca. Abaixo de Deus, a comadre!, ele dizia e se benzia. Então, os alfenins a caminho, mas carreguei antes as mãos de puxa. O suficiente para não queimar. Entre um puxão e outro, por entre os dedos, por entre as mãos, da porta da cozinha, era uma casa alta, o paredão da serra. Ali, nem ver de menos, o sol desabava para o outro lado. Meia banda de sol. O suficiente para faiscar os brilhos dos olhos dEla, muito jovem. Este eu, uns poucos meses mais, à beira do rio. Um rio seco. Igual a “Soledade”, de José Américo de Almeida, aportara por lá, filha de Fausto. Esquece os olhos. Que seja cega, pois. Vê o volume em noites sobre a testa. Repara como se trançam, eles. Os de junto da testa ali ganham reflexo! Um dia falaremos disto. Pobreza de pobre, absoluta, era Valéria, filha de Fausto. Os panos eram nus. Não que estivesse nua. Não. Doutra vez foi o braço de Jorge. Acho que duma espingarda, como no pé, do Menino – Uma tragédia no mar, Navio. Saberia eu, sozinho, controlar tanto sangue? Havia um serrote. Álcool e uma lâmina de fogo. Desiste dos olhos, por favor. Vê este contorno agora. Repara como tangencia ao alto a linha da direita, face, sobre um contorno em negro que também ascende. Nos escuros do pano. E nada mais que aplacasse a dor. Rét-rét-rét e todo o osso. Explodia-se a dor nos olhos de Jorge em desprezo do braço de puro espanto, podre. E toda a dor do mundo, presumo. Cortado. E, mais uma vez eram os olhos da mãe. Então, Jorge cotoqueava aquele toco e dizia que, abaixo de Deus, a comadre. E se benzia. Desiste dela em carne-e-osso e olhos! Porque já eram os jacintos boiantes no rio cheio quando se encheu de ausências. Ajunta-te aos panos. Às dobras, às cores, aos leves e aos ensaios de esconder. O justo olhar por sob. Hóspedes da oiticica do rio. Não, não!, não sei. Depois daqueles olhos, era a retirante do rio seco, Valéria, filha de Fausto, “aceito”, sem entender, todas as violências da reprodução. O que o tempo quer de mim?! Uma vida?
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
Este, o 20º capítulo de Poética, um livro vivo, aberto, gratuito,
participado e participativo, cheio de comentários que, a rigor — esta,
a proposta —, os comentários, mais importantes que o texto comentado:
abrir o debate, uma multivisão.
— Livro vivo, como assim? — Porque em permanente movimento, espaço aberto a quem chegar, tão amplo como o espaço àqueles que aqui estão desde os séculos, todos em absoluta ordem alfabética. Seja bem-vindo! POÉTICA: Capa, prefácio e índice poemas e poetas comentaristas
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
Anterior: SF conversa com o poeta Carlos Augusto Viana Próximo: Nordestes
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
Comentários: ANA BEHRENS: Francisco, “Nessa viagem magistral entre rosto e costas”. Não pude deixar de reler isso muitas vezes. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
ALEXANDRE FORTE:
Esta a minha impressão da menina afegã: Sim. Os olhos são os da cobra. E da
suçuarana. Porque sou a retirante da seca de todos os Sete, do Setenta e Sete,
onde morreram setecentos e setenta e sete mil. Neles, olhos de cobra e suçuarana,
também espelham-se as águas de todas as torrentes. A enchente do 11, que fogo e
clamor! Sob as imprecações de Conselheiro, procurado nos sete cantos da Arábia e
no Raso da Catarina, de onde vim – porque também a guerreira que marchou vasto
sertão! Sim. Que não poderia deixar de ser a cobra-mãe que devora os filhotes.
Eros e Tánatos. Mas, sobretudo, a esperança! “Porque entre pulso e olhar,
latejam os ferros da vontade”. E entre lábio e lábio “A menina afegã”, de Steve
McCurry, o que sugere uma vida: sorrir. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
ANA PELUSO:
O texto como sempre adensa floresta sanguínea e faz um bum-bum no peito,
daqueles dos diabos. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
ANTONIO CARLOS SECCHIN:
Um ensaio sobre a menina afegã. Parabéns pelo belo texto, pela originalidade
da abordagem! Abraço, .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. ANTONIO JACKSON S. BRANDÃO: Prezado Soares Feitosa, todas as vezes que adentro ao site, vejo os olhos de uma menina que há muito me encanta qual os encantadores, as serpentes no deserto. Esses olhos estão sempre a me chamar, mas buscava simplesmente ignorá-los, contemplando sua beleza de longe, até que tive de chegar mais perto dela! Mas que texto é esse, sob os auspícios de um olhar penetrante, de uma boca delineada que nos fazem voar para não sei onde, nem para um tempo definido, mas que mostram sua implacabilidade? Vai uma, duas, várias leituras e vem-nos também a picada que acometeu ao compadre, no entanto nem sempre o beijo da serpente é-nos letal, apesar de ela estar sempre a nos rodear... De repente, lá vem o rosto da menina cujo olhar penetra mais que o da própria serpe e de cujo espanto – quem sabe pensando num futuro não tão distante – irradiado, veremos nós, poucos anos depois, presentes em nossos próprios olhos quando a mesma menina, encontrada após o letal 11 de setembro, mostra-nos o carcomido corpo destroçado pelo tempo e pela pobreza: é a mesma menina? Sim, é a filha do tempo. Belo texto, apesar da constante intromissão de Sharbat Gula – sim, é esse seu nome – que insistia em se intrometer em minha leitura... Parabéns. Antônio Jackson .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. AROLDO FERREIRA LEÃO: Soares, o texto é belíssimo e após lê-lo abriram-se novas fendas de sensibilidade em minha alma. Valeu!! .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. ARI PEDRO BALIEIRO: Soares (Chico dos bons!), que lindo! Abraços, Aripedro .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. BARONE PALANQUE MARGINAL: Parabéns, Soares, beleza de peça, típica de quem tem sensibilidade para o mundo e habilidade com a escrita. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
CLAUDIO WILLER:
Que boa prosa poética. Repito, és cronista de mão cheia. E com uma ótima
capacidade de registrar aquilo que costumo chamar de Brasil Propriamente Dito. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. EDUARDO DIATAHY: Don Francisco, meu caro amigo: Que página de impressionante poética! Que dores aludidas no mergulho das memórias! Não sei por que evocações ou associações, lembrou-me a “Balada da Moça do Miramar”, do Vinícius. Um abraço imenso de admiração, Eduardo Diatahy B. de Menezes .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
ERORCI SANTANA:
É tudo muito denso e abissal, os olhos como navalha e cintilância e a palavra
como lâmina e serpente, com muitos refolhos, coalescências, sinuosidades: um
cinema, como é de seu feitio, muito lindro. Archiabraço amigo do .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
EURIVO RIBEIRO DA CRUZ:
O que o tempo há de querer? .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. FOED CASTRO CHAMMAS: Meu caro Soares Feitosa, a foto de excelente cromatismo e o texto sobre a menina afegã são primorosos. Um abraço, Foed .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. FRANCISCO PERNA FILHO: Caro Feitosa, os olhos estendem os passos da alma: às vezes dilacerada pela luz incandescente da áspera solidão que nos abriga. Senti, no seu ensaio, os olhos do nosso tempo, um tempo de imagens e perplexidades. Abraço do amigo Chico Perna. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
FRED SOUZA CASTRO:
Caro Feitosa: muito bonito seu trabalho sobre a afegã da capa da “Geographic”.
Você importou aquele rosto para um cenário de memória muito tocante e
significativo. Costurou com mão de mestre cada pequeno traço da pele,
cada nuance do olho, cada palavra que pode(ria) escapar daqueles lábios.
Você é um poeta arretado, meu bom. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
GERALDO CHACON:
Li o texto Menina que veio não sei de onde e fiquei perplexo, tonto.
Vertigem que não me deixou largar o texto até o final, mas não posso afirmar
que captei todas as possibilidades semânticas do texto, que parece exigir um
leitor mais apto e esperto do que eu. Sinto nele um grande valor literário.
Mais uma vez, parabéns! .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
GERANA DAMULAKIS:
A Pungente Crônica do Retrato da Menina Afegã. Feitosa: todo autor de
sensibilidade deixa-se seduzir por um retrato para dele criar um texto.
O seu foi magnífico. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. HEBE LOPES DE ALMEIDA: Soares, venho parabenizá-lo pelo texto sobre a menina afegã; dá-me a impressão que suas imagens poéticas e aqueles olhos grandes da menina viajam lado a lado por lugares igualmente trágicos e fantásticos; a dor e o belo se entrelaçam em seu texto e buscam a foto da menina; a menina como que também escuta e compreende a sua historia… ambos permeando encontros. Para mim, a face da menina vai declarando assim: Errar um ser em formação ou secar as águas das fontes é um erro grande demais para ser pronunciado. Não há palavras, só o espanto. Hebe .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
HELENA ARMOND: .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. IVO BARROSO: Um ensaio sobre a menina afegã. Caro Feitosa, seu texto é tão penetrante quanto os olhos dessa afegã dos quais a gente não consegue se afastar; leitura integral, corrente, aliciante. Parabéns e abraços do Ivo Barroso .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
JOÃO DE ABREU BORGES: .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. JOÃO BATISTA DA SILVA: "Ofendido" x ofídio, o poeta e a garota afegã juntam-se para trazer vida.“"Só quem sabe como é, é quem perdeu".“"E, sobre a leve lâmina d'água, o mel fez-se véu e torrente."“Bendita tábua molhada, nobre poeta SF. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
JOÃO FILHO:
Estava agora mesmo lendo lotes e mais lotes de poesia fescenina, grotesca.
Glauco Mattoso foi uma leitura que tive que retornar com mais juízo. E então
deparo-me com este “Menina afegã”. A foto é conhecida, tudo bem, mas como o Sr.
consegue tirar tanta densidade, lirismo dos mais aguçados desta foto!!?? E o
pior de tudo é que eu estava/estou inebriado com umas in-des-cobertas.
Isto foi o que me levou a escrever este e-mail. Conseguiu mesmo abrir/criar
um parêntese neste meu lado fescenino. Dou a mão à palmatória. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
JORGE RIBEIRO:
Soares, você é um craque! Um cracasso! Quer participar de uma antologia da
Editora Olho d'Água? .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. JOSÉ FELIX: Um belo ensaio, caro Soares Feitosa. Um outro olhar sobre o tempo, antes do tempo, depois do tempo. O interseccionismo temporal que busca no meio em que vive “o mesmo olhar”. Um abraço. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. JOSÉ LIRA: Caro SF, puxa! E você disse que não tinha vírus. Mas tem o vírus da poesia, esse texto, que é tal o anafilá, deixa a memória completamente randomizada. Pega de jeito e mega e bite, bite, bite. Um forte abraço. José Lira .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. JUAREZ LEITÃO: A menina afegã: prosa poética do melhor surrealismo ou, quem sabe, o realismo fantástico levado às alturas ou além de Garcia Marques e Pericles Prade… .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. LÍLIAN MAIAL: Bom dia, Feitosa! Escrevo a fim de parabenizar-te pelo belíssimo trabalho. A mente do escritor viaja mais que a história e sua palavra pode ferir ou amenizar a dor da indiferença. Adorei. Um abraço carinhoso, Lílian Maial .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. LEONTINO FILHO: Antes de mais nada, espero que tudo esteja bem com você e toda a sua família. Que bom receber notícias suas. Eu ainda por estas bandas, com vontade de voltar, ficar no meu cantinho quieto, vendo as coisas, não me conformando com o que se passa ao redor e escrevendo os meus poemas. Tão logo eu conclua este curso, já jurei para mim mesmo, vou arrumar um canto para morar e neste canto demorar um longo período. Bem, mas vamos ao que interessa, O QUE O TEMPO HÁ DE QUERER? Que texto primoroso! Quantas lições de vida você soube captar desse profundo, melancólico, angustiado e inconformado olhar da menina afegã. Tantas coisas o tempo nos cobra e muitas vezes não nos oferece nada em troca, a não ser a sua tresloucada passagem pelas nossas retinas. Quantas vezes o tempo trai a nossa confiança como traiu escandalosamente o olhar de verde-seca dessa envelhecida menina. Mas o tempo olha dentro do nosso olho e prescruta a nossa alma silenciosa. Ele vai sorrateiramente nos levando a doce esperança. Mesmo assim, lá longe, conseguimos acertar os ponteiros das estações e, por isso, sabemos que ainda resta um alento. E tal alento vem sob o manto verde de um olho que nos desarma e que nos coloca de novo em sintonia com a própria vida. Esse olhar pode muito bem ser, e, certamente é, o dessa garota que insiste em desafiar a misteriosa armadilha dos anos. Você, como exímio poeta, olhou profundamente a menina, como se convivesse com ela há muitos e muitos anos, e desnudou o espírito solitário de alguém, que, na batalha da existência, só requereu a partilha de carinho e de afeto que lhe coube/cabe no incomensurável latifúndio da ganância. Por isso, podemos afirmar, sem medo de errar: um poeta olha diferente porque sente diferente. A prova está neste seu precioso texto. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MANOEL H. A. SORIA: Caro Sf, hoje, recebi seu magnífico ensaio poético sobre a menina afegã, que saboreei, primeiro em largos bocados, porque sou impaciente, e depois com cautela, prazer e espírito crítico. Gostei muito. Gosto de imagens, todas: em tela, impressas, em idéias, em poesia, prosa, canto... principalmente as atávicas, que nos vieram por sentidos que não controlamos, lembranças que perfuram as camadas racionais e as cautelas do homem moderno. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MÁRCIA THEÓPHILO: Caro Soares Feitosa, a fotografia da menina afegã que inspirou o seu belo conto, eu também a tenho guardada. O seu conto é feito de emoção, simbiose dramática, sensibilidade e invenção criativa. O seu olhar de homem se transfigura e se dilata nos olhos da menina afegã. É de dentro dessa luz do olhar que nasce o texto – teatro de experiências, vivências. Eu sempre penso que a visão da imagem feminina vista por um homem é um reconhecimento do sentir feminino e através do seu texto nós fotografamos de novo essa imagem que nos causou tanta impressão. Márcia Theóphilo .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MARCO POLO GUIMARÃES: Caro Feitosa: Você recria a imagem nas palavras e a amplia num movimento ondulante. Recentemente foi publicada uma foto daquela menina na atualidade, enfeada pela vida áspera daqueles desertos e montanhas afegãos. Mas nesta foto antiga e no seu texto ela vai permanecer intocada, perfeita em sua bela intensidade. Parabéns. Marco Polo .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MARIA APARECIDA TORNEROS: As Meninas do afago na alma afegã. Feitosa, que olhar, hein? Mais que olhar, que afago de afegã assustada com “A menina afegã”, de Steve McCurry, com o mundo injusto e com a incerteza de sobreviver na alma dos que a podem observar. Menino, que lindo o seu texto... Mais que lindo, que sentimento de profundidade na tal alma humana tão perdida na loucura da guerra. Obrigada por ter me proporcionado esse instante de ser mais gente ainda.. através da imagem e da reflexão sobre o que você criou. Beijo de afago no poeta que habita em seu instinto sensível de produzir a Paz, em plena sandice que é a luta armada pelo poder e pelo colonialismo. Cida .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
MARIA HELENA NERY GARCEZ:
Meu caro Soares Feitosa, seu texto me tocou muito, demais. Essa menina é algo
de extraordinário, de único, de intenso, de total. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MARIA DE LOURDES HORTAS: Caro Soares Feitosa: Muito grata pelo envio do interessante ensaio fotográfico e ficcional “menina afegã”. O texto, sobretudo, é um exemplo do que a criatividade literária pode fazer, a partir da imagem de uma menina de olhos assustados e assustadores. Fraterno abraço e admiração da Maria de Lourdes Hortas. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MARIA TERESA LIMA: Olá, Soares. Li “A Menina Afegã”. Gostei demais. Não sabia que você também é escritor e escreve muito bem. Foi uma grata surpresa para mim. Interessante como a cor dos olhos dessa menina da foto assemelham-se aos meus, verde escuro, e, em volta da menina dos olhos, amarelo-alaranjado. Maria Teresa Lima .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
MAURICIO MATOS:
Pôr em palavras os olhos e, através deles, o brilho do olhar desta afegã, o
canto “A menina afegã”, de Steve McCurry, desenhado de sua boca, como o de
quem está para, através dos lábios, dar ao mundo o canto de seu olhar, é
coisa para Soares Feitosa. Para além disso, o que o tempo haveria de querer?
Parece-me que é a vida o que está nestes cantos... escrita. Obrigado, .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. MICHELINY VERUNSCHK: Onde você aprendeu a escrever assim? Beijos. Micheliny .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. ORIANA ALMEIDA: Querido Soares, eu adorei esse seu ensaio. Li duas vezes. Adorei também esse estilo de ensaio que você faz. Acredite ou não, estou saindo para uma conferência de um dia sobre poesia em Oxford. Eu nunca pensei que aqui tivesse gente tão interessada assim no tema. Meu chefe de pesca não está entendendo porque eu não vou trabalhar para ir ver uma conferência de poesia. Ficou achando graça. Abraços, Oriana .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
RAFAEL MONTANDON:
Caro Feitosa, você está começando a pegar gosto por esta estória de escrever
sobre imagens, não é mesmo? Meu preferido, até agora, foi o texto sobre o
“Fui eu!”, mas este da menina afegã também ficou muito bom. Você é o
memorialista por excelência e sem concessões. Qualquer mínimo estímulo,
mesmo que completamente alheio, desencadeia o fluxo das reminiscências e
lhe transporta para o universo mítico da sua infância. Mas o interessante
é que as imagens não são meros pretextos para este transporte. Você transita,
com muita habilidade e sem qualquer artificialismo, entre os elementos
plásticos dos quadros (ou foto) e os flashes da mitologia particular, e
as duas coisas terminam por se interpenetrar e se tornar uma só. É um jogo
fascinante. Você poderia publicar um livro inteiro só com escritos deste tipo. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
RICARDO ALFAYA:
Um ensaio sobre a menina afegã. Prezado Soares, olhei, reolhei, li, reli,
fiquei muito impressionado. Você pegou a menina afegã, tirou do cruel
deserto de lá e trouxe para a cruel seca de cá. Sim, há um gosto de dor
e de morte. De corte da fotografia, acompanhado por uma ação paralela de
corte de filme que acaba resultando também em corte do personagem em sua
história. Você faz uma simbiose de narrativa com ensaio, em paralelo ao
ensaio com história que há na foto. A foto conta uma história. E você conta
uma história ao mesmo tempo contando a foto. A história é cortada, como a
foto é cortada. São fragmentos, um jogo de calidoscópio. Um dos momentos mais
impressionantes é quando você estabelece a comparação textual falando no fogo
e a gente inclina a cabeça para o texto e sente uma espécie de brilho de fogo
gélido, uma luz estranha que vem do olho da menina e atinge o canto do nosso
olho, provocando uma sensação geral de estranheza, desencadeando uma certa
indecisão. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. RITA BRENNAND: Penetrei naquele olhar. Meu Deus! Francisco, tomei um susto! Você nem me deixou respirar. Não estou preparada para desmaiar de alegria. É, tento pintar com você esse olhar e essa expressão da boca. Busco fazer ecoar esse grito. A pororoca veio chegando e arrastando tudo o que estivesse em seu caminho. Encontro feroz de águas. Desencontro feroz de homens. Renovação da natureza? O caos por si só se organiza. Francisco, luzes e sombras. Você é um pintor, ao me fazer entrar nos escuros... Percebi a virgindade daquela boca, a menina... Um único olho, insistentemente repetido, mil olhos, vi, da humanidade, que somos. Ainda preciso me acostumar. O seu pique, nem bem... você já! Francisco, assim que você me passou o site da menina afegã, abri sem medo, mas fiquei um bom tempo, enfeitiçada, viajando com você. De vez em quando, numa pincelada de claro-escuro – o olho. Fiquei, como diz o matuto – abestada. Você quer me matar? Isso acontece diante do inesperado. Ontem dei uma espiada na página do JP e fui dormir depois das 2 horas. Fico hipnotizada, é o termo certo. Me encontro tão descaradamente impregnada dessa terra, os trejeitos de falar, me vejo cruzando com você, sem saber que só meio século – de Ésquilo? Francisco saiba que estou atenta o tempo todo, tenho em você o meu ponto de referência. O JP é uma viagem, é um mapa, muito mais do que Múndi. É uma cartografia de intensidades, de afetos, de sonhos. Repare as mãos, o gesto. Vejo como um fruto arrancado antes do tempo ainda traz a terra nas unhas. faíscam os olhos. O rosto, a luz, o Sol... dia e noite... olhos, os olhos, só os olhos... grite, grite por ela, Francisco. Não nos deixe sem defesa... Repare o mesmo gesto, as mãos... as unhas enfeitadas de terra-Brasil; repare a burca feita da palha, só que verde... verde pendão da... desesperança. O olhar de mormaço varou o tempo. Francisco nada li das reportagens para não escutar. Não, não quero escutar, quero ficar atenta apenas à sua poderosa poesia, que espero. Sempre vou esperar. Estou ainda zonza. Agora mesmo fiz um gesto, com minhas mãos, quase sem perceber que estava escondendo meu rosto, abaixei a cabeça e, lá no fundo do coração, choro por nós. Francisco, onde? Onde? Onde? O amor? .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. RONALDO CASTRO: Nossa, que bonito! A narração em suspensão contínua vai nos levando para um texto que não se completa e assim se faz até agora. Obrigado. Ronaldo .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. ROSA LUCAS: Amigo, belo e triste, cheio de fantasias e verdades, este trecho que você me mandou. Vou relê-lo com mais calma, que hoje estamos aqui em plena revolução: minha primeira neta, Anneliese, se casa amanhã com Guido, um jovem alemão, e estamos bem centrados em uma Torre de Babel. Fala-se alemão, francês, espanhol, inglês, italiano e o nosso brasilguês. Alguns se entendem, outros flutuam e esperam a mímica. Uma coisa é certa: o trecho é lindo e a foto também é linda, como linda é a sua atenção em mo mandar. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. VICENTE FRANZ CECIM: “A menina afegã”. Francisco, não consegui escrever uma linha sobre a Menina Afegã: aquela lâmina no olhar dela cortou minha língua para sempre. .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. WEYDSON BARROS LEAL: Um ensaio sobre a menina afegã. Caro poeta, belo texto. O Rosa tem primo, irmão. Tem equivalente. Poeta. Também. Abraço, eu mesmo (de longa ausência), Weydson P.S.: Esqueci de dizer. Seu texto sobre a menina, a cobra, a vida, é lindo. Declino sempre ante seus textos. Outro abraço, Weydson .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. |