Castro Alves
A Cachoeira de Paulo Afonso
(Nota incorporada por Castro Alves no final do texto do poema)
Lê-se no Dezesseis de Julho: "Depois de
quatorze léguas de viagem, desde a foz do Rio S. Francisco, chega-se
a esta cachoeira, de que se contam tantas grandezas fabulosas.
Para bem descrevê-la, imaginai uma colossal figura de
homem sentado com os joelhos e os braços levantados, e o rio de S.
Francisco caindo com toda sua força sobre as costas. Não podereis
ver sem estar trepado em um dos braços, ou em qualquer parte que lhe
fique ao nível ou a cavaleiro sobre a cabeça.
Parece arrebentar de debaixo dos pés, como a formosa
cascata de Tivoli junto a Roma. Um mugir surdo e continuado, como os
preparos para um terremoto, serve de acompanhamento à música
estrondosa de variados e diversos sons, produzidos pelos choques das
águas. Quer elas venham correndo velocíssimas ou saltando por cima
das cristas de montanhas; quer indo em grandes massas de encontro a
elas, e delas retrocedendo: caindo em borbotão nos abismos e deles
se erguendo em úmida poeira, quer torcendo-se nas vascas do
desespero, ou levantando-se em espumantes escarcéus; quer estourando
como uma bomba ; quer chegando-se aos vaivéns, e brandamente e com
espandanas ou em flocos de escuma alvíssima como arminhos — é um
espetáculo assombroso e admirável.
A altura da grande queda foi calculada em 362 palmos.
Há 17 cachoeiras, que são verdadeiros degraus do alto trono, onde
assentou-se o gigante de nome Paulo Afonso.
Muitas grutas apresentam os rochedos deste lugar,
sombrias, arejadas, arruadas de cristalinas areias, banhadas de
frígidas linfas.
S.M, o imperador visitou esta cachoeira na manhã de
20 de outubro de 1859. O presidente, Dr. Manuel Pinto de Souza
Dantas, teve a idéia de erigir um monumento à visita imperial."
(Transcrita do Diário da Bahia)
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