Valéria Nogueira Eik
Rosa e prata
Amuada num canto da parede,
torcia para que as nuvens ficassem escuras e pesadas
e despencassem lá do céu.
Ela estava linda, meio prata, meio cor de rosa,
ansiosa pelos ventos
e pronta para a vida.
Mas, o sol ameno sustentava uma guerra fria contra os temporais
e ela permanecia fechada em si mesma e para o mundo,
numa tristeza que fazia dó.
A lua chegou, trazendo laminados alegres e coloridos,
que se aninharam nas extremidades da sombrinha,
tornando-a ainda mais bela.
Ela rodopiou, rodopiou e riu,
apreciando os movimentos de todas as cores.
E pelas mãos da moça morena,
ganhou a avenida e dançou para as estrelas,
num sobe e desce delirante e ritmado.
Amanheceu bêbada de glórias,
cansada e esquecida
num meio fio qualquer do abandono.
A chuva caiu, enfim, borrando-lhe as tonalidades,
que escorreram desbotadas pelas ruas.
E os garis vieram e recolheram os restos de festa.
O dia ainda pôde avistar lá muito longe,
movimentos aflitos, prata e cor de rosa,
que sacolejavam ladeira abaixo,
ao lado dos últimos soluços de uma garrafa de cerveja.
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