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Soares  Feitosa

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Leighton, Lord Frederick ((British, 1830-1896), Girl, detail

 

Fortuna Crítica

 
 

Francisco Souto Feitosa, o pai, dito Tatim

 

Donizete Galvão

Geninha Rosa Borges

Iracema M. Régis

 

Irineu Volpato

Manoel de Barros

Sébastien Joachim

Thiago de Mello

 

Soares Feitosa, dez anos

 

 

 

 

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John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana, detail

 

 

 

 

 

Manoel de Barros


Soares,

Sabe o que me veio logo? A figura de um cantador erudito. Como se fosse um Cego Aderaldo com erudição e instinto lingüístico. 

Manoel de Barros Um caipira que fosse (que vai) botando em linguagem de poesia erudita as raízes de sua gente e de sua terra. 

Sabe outra coisa que me encantou? Poeta substantivo. Quase não usa adjetivo, esse penduricalho. Poeta substantivo. A palavra carnal. 
 
Abraços do Manoel de Barros

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

 

 

 

 

 

Sébastien Joachim


1. Um Poeta à Margem das Classificações

 

 

Mirian, aliás, Susana; Ajunt-Hotel; Ayrton e outros e outros e outros são eventos que desconstroem a maior parte do ensinamento da Poesia divulgado em todos os nossos manuais de Teoria da Literatura. Quem o vê/ouve declamando seus poemas se convence logo de que ele é uma encarnação poética, que carrega dentro de si e irradia poeticidade em estado puro. Essa experiência premiou-me, há algum tempo, um banho de frescor sem igual. Confesso, que no momento, ignoro de onde jorra a fonte, e em que mar ela vai parar. 

O certo é: eu que saí de lá (Canadá) estou recebendo aqui nos trópicos esse choque agradável como alguém que foi quase empurrado de Sertão a dentro pela violência poética de Soares Feitosa. Sua poesia trabalha entidades maravilhosas: auroras inéditas, esplendor da infância, fauna e flora da região das Secas, epopéias insuspeitadas de misteriosos itinerantes, e - em contraste - a petulância do capitalismo selvagem.

Ressoam em mim as modulações dessa voz, ou melhor, desse coro, aqui “allegro andante”, ali “mezzo voce”, cá no “modo menor”, lá no “modo maior”.

É elegia, é epopéia, é drama, é verso, é versículo, é prosa narrativa, é História, é fábula, é teatro. Impossível enquadrar Soares Feitosa num gênero de discurso preestabelecido; daí estar decididamente à margem de qualquer classificação. 

Todavia, emerge uma propensão à Cantata, uma Cantata-Poema ou um Poema-Cantata, de múltiplas vozes, regulado por uma alternância rítmica onde se enfiam de forma espiralada historinhas que puxam historinhas e digressões que se tornam temas fundamentais do Ser e do Existir. 

Um dialogismo que não acaba, um processo diruptivo no seio de uma profunda continuidade. O novelo da escrita se desenrola, sempre se desenrola, de par com a mesma força impulsionadora, isto é, sempre sertenejando, no entanto sempre diferente pelo tom musical, pelo aprofundamento dos incidentes regionais, conduzindo-nos vertiginosamente para a residência da Vida e dos Valores imperecíveis. 

Sem dúvida uma poeticidade forte circula nessas páginas onde consegue fazer a abertura máxima no acidente mínimo, seja esse acidente de geografia ou de eventos. Palpita a presença de Dioniso e Apolo, a sensibilidade de um homem que fala para todos os Homens, todas as idades, todas as eras.

Atravessar esse Sertão poético resulta em um estonteante estado de poesia, prazeroso, galvanizante. Obrigado, Soares Feitosa, por ter nascido e RENASCIDO. Daqui em diante o caminho a percorrer é a difícil subida dos Prometeus das Letras que não recuam perante o heroísmo da Autocrítica, - mais dura batalha da maturidade poética.


 

 

2. Os poemas da Besta

Soares Feitosa é um fenômeno neste final de milênio. Surpreendeu, há dois, três anos atrás, com uma  emergência repentina de poeta cinqüentão; agora nos últimos dozes meses, Feitosa perturba a ordem poética  vigente empurrando os escritores da página-papel para a página-tela. Antes, contentava-se em construir poemas  multidimensionados, com incremento de tonalidade gráfica e cromática. Agora incursiona, verdadeiro Steven  Spielberg da arte literária, no terreno exótico da crítica, do ensaio. É claro que não se deve esperar aqui uma  leitura te(le)ológica, reforçada de princípios teóricos postos à prova, e de notas eruditas de pé de página. Soares  Feitosa ressuscita — como se ela jamais tivesse sumido da história literária! — essa imperdível crítica dos  criadores em que se ilustram para nosso prazer quase todos os melhores poetas, ficcionistas e dramaturgos do  hemisfério ocidental. A fórmula a qual Feitosa veio a se filiar é a de Anatole France, dando o crítico um flâneur, narrando a aventura de sua alma por entre as obras primas do Universo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Three Ages

 

 

 

Donizete Galvão


Soares, você é um poeta fluvial [Rio Macacos], uma correnteza brava despenhadeiro abaixo.

Um abração,

Donizete

 

 

 

 

 

 

 

 

Titian, Venus with Organist and Cupid

 

 

 

 

 

Thiago de Mello


Poeta Feitosa,

Celebro a felicidade que me deste com a tua poesia. 

Conseguiste um novo idioma que é só teu. Li e reli teus poemas, e me encantavam do poder da poesia. 

De Internet, nada entendo. Viajei e sofri pelos cantos do mundo. Hoje, na floresta, sou um caboclo que só vivo e escrevo. 

Se quiser é autorização minha para usar e divulgar meus textos — tu a tens. Se é que valem para dar alguma 
esperança às pessoas na contramão de uma sociedade solitária. 

Teu companheiro, te abraça, 
  

                                         Thiago.

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

 

 

 

 

 

Iracema M. Régis


Retorno à leitura do livro de poesia "Psi, a penúltima", 252 páginas, Soares Feitosa, poeta cearense, Edições Papel em Branco - Salvador - Bahia, que classifico de jovem Poeta, por ter começado a escrever e editar sua poesia há tão pouco tempo; e de poeta maduro, entrado nos anos, pelo fato de sua obra, tão profunda, retratar a grandeza de um autor universal, dado ao ofício de toda uma vida.

Essa retomada da leitura embebedou-me de alegria mais uma vez e provocou-me reação diferente: no primeiro momento. ao debruçar-me sobre a poesia de Soares Feitosa, ocorreu-me logo chegar ao final do livro e expressar minha opinião sobre o mesmo.  Ledo engano, pois o breve passar d'olhos não me satisfaria e a presunção de emitir pontos de vista, conceitos ou algo semelhante, caiu por terra.  A empreitada é longa e prazerosa, sem pressa de chegar a lugar algum, o que possibilita fazer pausas, tomar gosto e até tecer certos comentários, como me animo a fazer: aprecio sobremaneira várias nuances do fazer poético de Feitosa - a gama de informações transmitida, muitas vezes num fragmento de poema é complementada através de "notas de rodapé", que, no "Psi, a penúltima", transformam-se em páginas tão saborosas quanto os versos.  Essas notas explicativas nos põem em contato com o inundo real do artista, que no poema transmuda-se em ficção.  O poeta elucida o leitor a respeito de termos e expressões regionais por ele largamente utilizados, e também nos coloca lado a lado com as. suas vivências pessoais, fatalmente as da infância.  Falando da família, dos amigos, da ambiência, da chuva, do sol, das enchentes, dos acidentes geográficos, da fala do povo, contando histórias de menino e outras coisas miúdas, que passariam despercebidas para a maioria dos mortais, o autor faz um retrato da cultura regional nordestina, mas não de forma isolada: situa a sua história no universo pessoal de cada um de nós.

Prosseguimos nossa excursão pelo tecido artesanal de “Psi” (sim, porque todo o livro é uma obra de artesanato) Além da inovadora disposição do texto - títulos e versos. pasme o leitor com essa intervenção entre as páginas 172 e 173, Soares Feitosa plantou um punhado de sementes de imburana-de-cheiro, acondicionadas num saquinho de papel, onde está escrito "Conteúdo: sementes de imburana-de-cheiro torradas e moídas pelo próprio autor.  Sem conservantes nem produtos químicos.  A mancha oleosa, por fora do envelope, é do próprio óleo essencial da imburana.  Pode cheirar"). É o imprevisível. a surpresa gostosa, como a poesia tratando ora de um assunto, outra de outra, um feito de humanidade, um flash de vida, que nas mãos do poetas maior converte-se em algo profundo, suscetível a questionamentos, porque uma vez o poema feita, criado, é um objeto de arte.

Por tudo vê-se um autor à vontade, que vai da linguagem mais simples do homem sem cultura, à Grécia de Platão; do real ao imaginário presente nestes versos de Convite à Saudade “[...] mestre besouro olhou e olhou/, avoou de uma árvore a outra,/ fez um cocuruto de vôo, mais alto,/ voltou num rasante e disse: - Compadre Moleque, não vi nada,/ e se tivesse visto lugar tão bonito, como você sempre fala,/ onde corre a Grota da Palha,/ onde tem sabiás - árvores cheirosas -,/ onde tem sabiás - pássaros amigos/ que não comem besouros pretos -/ eu também, compadre Moleque,/ teria voado para lá...”

A viagem continua.

Ircema

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

Geninha Rosa Borges


Psi, a Penúltima

Não posso deixar de dizer que me senti muito lisonjeada em receber um exemplar de Psi, a Penúltima e, logo na dedicatória: "Isto é um Convite!" deixou-me pra lá de vaidosa também um pouco Geninha Rosa Borges, Atriz confusa... 

De início, por eu apenas uma intérprete, pensei em escolher um dos seus poemas e procurar dizê-lo na ocasião primeira que se apresentasse. Mas quando vi a lista de amigos que escreveram sobre o seu livro, indaguei-me: "será que ele quer que escreva alguma coisa?". E lhe respondo: Há 55 anos que faço teatro, como atriz; e acostumei-me a repetir o que os autores escrevem para as minas personagens dizerem... e, assim, cada vez mais sou uma...

O seu poema Réquiem em Sol da Tarde é belíssimo. E muito teatral. Vou dizê-lo, sim... já comecei a estudá-lo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

 

 

 

 

 

Irineu Volpato

 

 

 

 

Irineu Volpato


AVE!

 

De São Bernardo do Campo, que fora Santo André, de João Ramalho, Bartira e Tibiriçá.Um dia padres devotos pra lá, pras chãs de Piratininga e só os campos ficaram pra contar aos ventos vindouros..., não sou eu que vai contar. Daqui nesse seis de agosto, ano sem graça novecentos noventa e sete dos mil.

 

 

Para Francisco José SOARES FEITOSA, nascido Ipu, Ceará, infância em Monsenhor Tabosa, também lá. Menino de seminário, Sobral, se abrigou em Nova-Russas e permeou juventude de infância com matos campos, sertão, mais secos, caatinga, invernos num sítio Catuana, cortado do Rio Macacos e cuidado de mãe viúva, sinha Anísia-parteira. Lá.

 

 

Ave!

 

"Abram-se as janelas"

que um su/jeito despachado vem dizendo

revérbero de verbo

troado de cantando

pano de fundo e alma

bebida salmo e antífona

com matas e pedras e céus e chão

sertão mais outras terras

e vento e bafio de serras

— aqui galerno aressa

ali cansim simum siroco...

sufoco — balanço devagarim.

 

"Abram-se as janelas"

 — comadres

 que Chico, Francisco — o irmão

Soares Feitosa - aedo

aproou.

  

Ps:

Nós-antenas, ou bebemos novas águas

"adredemente alpendradas"

ou mar nos tangerá de atros

atros

atrás.

 

 

 

 

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