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Soares  Feitosa

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Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

 

Fortuna Crítica

 
 

Albrecht Dürer, Mãos

 

Affonso Ávila

Albano Martins

Alceu Brito Correa

Benedicto Ferri de Barros

 

 

F. S. Nascimento

José Bonifácio Câmara

José Peixoto Júnior

Nauro Machado

Sinésio Cabral

 

Soares Feitosa, dez anos

 

 

 

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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

 

 

 

 

 

 

 

Nauro Machado


A gesta do sertão brasileiro encontrou-se com Soares Feitosa, um dos espelhos vocálicos de seu extremado canto. Seu livro de estréia, PSI, a Penúltima, é um poema de circularidade épica, dilatado por uma visionária inteligência computadorizada, capaz de reacender em nossos olhos a transparência eidética dos princípios. Trazendo uma Grécia transplantada ao nordeste seco e heróico, de um país que, por destino, é o nosso; os tempos nele se unem a abranger a heroicidade do gueto de Varsóvia à resistência heróica de La Moneda. A poética de Soares Feitosa não se estanca assim no epos geográfico de uma história sertaneja: extrapolando dos condicionamentos narrativos que lhe diminuiriam a abrangência ecumênica do texto, sua visão incide - esclarecidamente racional e culta - sobre a natureza humana de um patrimônio universal. Sua técnica, como estrutura amealhadora de peças anônimas e autônomas, não lhe estereliza em nenhum momento a emoção. O computador, no seu caso, permitiu aNauro Machado abertura para o espraiamento de um novo espaço sobre o qual o tempo, na parábola do homem enquanto História, retroage consagüineamente às primícias da visão homérica. Certos trechos desses poemas são co-irmãos do inferno sousandradino, na atomização vocabular do raconto, e do simultaneísmo apollinaireano, naqueles acordes em que o músico de St. Remy vai encantando os personagens na circularidade da história. Seu poema é, destarte, voz secularizada pelo trabalho oral de toda uma região. Poeta extremamente culto, tão necessário nestes tempos de poetas apenas alfabetizados, Soares Feitosa segue os caminhos desbravados entre nós, com ressonâncias planetárias, pelo bardo Gerardo Mello Mourão, autor de Os Peãs, este poema ímpar no contexto da verdadeira história cultural brasileira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

 

 

 

 

Albano Martins


Psi, a Penúltima: comparo-a à torrente de um rio, um rio de inverno, que ora se dilata e transborda, arrastando para o leito os materiais dos  aluviões, ora desliza apaziguado, num sussurro de flauta (a flauta de Pã?, a flauta do pastor?), em pleno verão de seivas e colheitas. 

A voz que fala nesses versos vem de dentro, dosalbano Martins recôncavos da experiência, do fluxo das emoções, mas, ao soltar-se recolhe os ecos de outras vozes, impregna-se de substâncias das culturas, contamina-se de outras experiências. Nos seus poemas casam-se a tradição e a modernidade — a mais ousada, por vezes. Neles, ora perpassa o sopro largo da epopéia, ora a música em surdina do lirismo. Desafectação e coloquialidade são outras marcas visíveis desses poemas que entronizam o real e fazem dele a matéria mais sensível do seu canto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

 

 

 

 

 

 

 

F. S. Nascimento

 


 

Caro poeta

Soares Feitosa

Grato pela oferta de Psi, a Penúltima, obra em que as Edições Papel em Branco investiram todo o seu talento gráfico e artístico. O livro saiu realmente uma beleza!

Quanto ao poeta heróico, telúrico e lírico, presumo que não tardará a inspirar teses de mestrado nessa área da criação literária.

Seu telurismo é notoriamente encantatório, sendo incrível a sua inventividade envolvendo todo o seu vasto conhecimento dos reinos animal e vegetal. Você realiza uma poesia afoitamente criativa, agradando em cheio aos que vão se tornando seus habituais leitores. Parabéns por mais esse feito épico, telúrico e ternamente amoroso. 

F. S. Nascimento

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba,

 

 

 

 

 

 

 

Affonso Ávila


Soares

Recebi, surpreso, o seu livro Psi, a Penúltima. O título não ajuda a encaminhar bem os textos ali reunidos. A surpresa fica por conta dos poemas ali reunidos, que transbordam (o que é estranho em terra seca), mas com estranhos redemoinhos,sffortuna7.html#nilto unificando cultura clássica com cheiro de chão. Grego e cantador-de-viola convivem em cantiga-caatinga! E a Bíblia. Gostei de conhecer a sua poesia, apesar da minha ser árida e depojada, embora o peso mineiro do barroco.

Achei delicioso e tive de ir ao dicionário de termos populares para encontrar a imburana-de-cheiro. Cheiro tentador! Se fuma ou só perfuma? Minha mulher pensou em colocar o envelope-poema em meio à gaveta de roupas íntimas. É fetiche?

Affonso

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

José Bonifácio Câmara


Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 1996

Meu caro Feitosa

Recebi seu grande poema Thiago e mais Femina, do Belo-belo,Ruth, by Francesco Hayez Lágrima Súbita, Mergulho e Resíduo de sal.

Essa sua última produção vem com cada vez mais força e beleza. Não sei onde você vai parar...!

Receba o abraço fraterno do amigo grato,

José Bonifácio Câmara

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

 

 

Benedicto Ferri de Barros


Prezado Soares Feitosa:

O que autentica o poema verdadeiro, a linguagem, o estado poético, é que ele não pode ser parafraseado. Isto porque quando algo é verdadeiramente poético, é tão caleidoscópico em seu significado, que 1.001 versões possíveis em prosa deixam, ainda assim, de captar tudo o que  ele pode exprimir. Ainda que a linguagem apropriada da poesia seja o verso, e seu produto excelso o poema, o sentido poético permeia tudo, inclusive a boa prosa. Foi o que fuiBenedicto Ferri de Barros sentindo ao acompanhar a leitura de Os Poemas da Besta. Também aí existe um efeito caleidoscópico que deve-se reproduzir de forma diversa em cada leitor, e a paráfrase do que você tenha dito nunca será idêntica nem se esgotará o que ali se pode ler.

Lembrou-me por outro, seu trabalho, o tipo de leitura de poesia que vi num belo livro de 1976, Professing Poetry, de John Wain, que foi há vinte anos Professor de Poesia em Oxford. Ali ele fazia a "crítica" do poema mostrando como havia entendido o seu significado, normalmente oculto para o leitor pouco familiarizado com os secretos encantos dos poemas. Mas a diferença da sua leitura está em que ela é uma leitura legitimamente poética, sendo a dele eminentemente acadêmica.

Agora, veja só: aí está que sua prosa contém uma carga poética muito superior a que se encontra em pretensos poemas, que, se escritos em forma de prosa corrente não mostrariam diferença alguma por serem apresentados em linhas quebradas, que fingem ser versos. Dizia eu a uma amiga, recentemente,  que isto é a melhor maneira de se apurar se um poema é mesmo de poesia ou simplesmente má prosa, pois embora tudo o que apareça em linhas quebradas possa passar por poesia escrita em versos, a prosa nua é uma das coisas mais raras que existe. Que se dirá da boa poesia?

Percebo que por baixo da primeira leitura que fiz do seu trabalho ainda restam muitas camadas subterrâneas e estratosféricas a serem exploradas, mas..., Feitosa: a grande tragédia do homem contemporâneo é que ele perdeu o comando de seu tempo, isto é, perdeu sua própria vida. E nada pode ser mais trágico do que um vivo morto.

A sua dedicatória é algo elíptica, insinua um convite que não foi formulado. Deve ser coisa da sutileza baiana... Esteja certo de que foi algo provocante esse ar que me veio da Bahia. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

 

 

 

 

 

 

Sinésio Carbral


Francisco José SOARES FEITOSA vem do Ceará, precisamente da região dos Inhamuns, para revolucionar, com poemas calcados na informática, na eletrônica, e feitos de criatividade, o mundo estético-literário de nossos dias. 

Sem descer ao poema, protesto que se perdeu na luta inglória do presente contra o passado, da primeira geração do Modernismo, Soares Feitosa, poeta de grande formação humanística e de inegável dimensão de universo - consegue traduzir, com suporte no ritmo psicológico, o sofrimento dos irmãos nordestinos pelo flagelo das grandes estiagens, embora sempre altivos, “resistindo e morrendo, morrendo e resistindo”, na feliz expressão do imortal Demócrito Rocha, no poema o “Rio Jaguaribe”. 

Além disso, sabe retratar, com fidelidade, a resistência heróica da sua gente, na mencionada região dos Inhamuns, em lutas sangrentas entre famílias tradicionais. 

Evidencia coisas e fatos ocorridos, por exemplo, em sesmarias, sem enveredar-se pelo gênero narrativo ficção, mas dentro da epopéia mesclada do sopro lírico.

Mergulha na antiguidade clássica, com a divisão em Cantos, à Camões, verdadeiro escafandrista, para revitalizá-la nos seus poemas, alguns sob a forma dialogada, à guisa de écloga (ou égloga), dentro do bucolismo, de sabor arcádico.

Sentimos ao longo da obra, resquícios de estéticas tradicionais, características formais e ideológicas de diferentes estilos de época, em versos livres feitos de modernidade.

Soares Feitosa, nascido em 1944, tem muito chão que percorrer, para continuar a retirar, com idealismo e sutileza, das notícias do jornal, do prosaico, das coisas efêmeras, o fazer poético - os valores eternos.


 

 

2 - Talvez outro salmo

    

Tive a satisfação de receber Talvez Outro Salmo. Considero simplesmente encantador e surpreendente esse desfecho do saber eterno: 

    “— Como podem saber tanto 
    de nunca escreverem uma única linha em linha reta? 

     

    "— Porque é da Tua boca, Senhor, 
    e para os Teus ouvidos 
    que a boca deles fala”

Tudo tão paradoxalmente simples e original! 

E passei alguns momento embevecido com a magia estonteante da singularidade dos versos de Uma Canção Distante e tão dentro da alma da gente!


 

3 - Artigo no Diário do Nordeste

 

Para ler e entender Soares Feitosa, com a idade cronológica de 82 anos, talvez necessite da acuidade mental de um jovem de 28. Haverá coincidência na inversão dos algarismos?

Cearense dos Inhamuns, homem de meia idade, atordoado com os cálculos dosimétricos impostos pela sua função de Fiscal da Receita Federal em Salvador, BA, entre outros afazeres no Recife, PE, partiu loucamente, para o mundo das letras, na ânsia ardente e incontida de passar para o papel, sem tergiversar, o que lhe vai no imo d'alma. E, agora, em gozo de licença-prêmio, no recesso do lar, nesta Loira Desposada do Sol, de Paula Ney, está mesmo muito à vontade, do jeito que bem quer, com dedicação exclusiva à poesia.

Soares Feitosa, através de sua veia estético literária, recua no espaço e no tempo. Verdadeiro escafandristaa, mergulha em outras eras, na origem das coisas, no Livro dos livros —  a Bíblia — notadamente nos Salmos, para fisgar os segredos do Cosmos em Psi, a penúltima.  Deixa refletir em cada poema a renovação da vida, do homem, e da arte, a simplicidade de usos e costumes antigos revitalizados na modernidade, ao sabor do Pastoralismo, sem artifícios prosaicos. Quanto à forma, trata-se em geral de poemas longos. O leitor, por vezes, até se perde, se não tomar cuidado, no emaranhado de versos (brancos ou soltos), em estrofes heterométricas, feitas de ritmo psicológico. Via percorrendo, não raro, a seqüencia dos versos e tem a impressão de que o poema se desfaz em prosa. Até parece haver descambado para o gênero ensaístico, sob a forma de crônica leve, fronteiriça, não da loucura, mas do gênero lírico. O poeta sabe penetrar, por exemplo, bem dentro, com sutileza, em Poemetos:
 

    "num silêncio de limo,
    num silêncio de folhas,
    que também de telhas...
    as telhas de um céu
    insuportavelmente
    estrelado

"A chegada de Soares Feitosa, disse Artur Eduardo Benevides, o Príncipe dos Poetas Cearenses — é um episódio de significação marcante. E quem o ignorar não sabe o que é poesia"

E ele chegou para fazer a revolução estética no mundo das letras, para fazer transbordar o seu lirismo (entre louco e sublime), às vésperas do terceiro milênio, ó grande enamorado das musas, na beleza do seu estro fora do comum, longe dos cálculos dosimétricos de sabor prosaico. Seja bem-vindo, Soares Feitosa. Deus o proteja. (in Diário do Nordeste, Fortaleza, CE, 20.08.1997)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

 

 

 

 

Alceu Brito Corrêa


A propósito de Femina

 

Non nova, sed nove

Muitos disseram sobre o amor 
imortal chama sempre acesa 
mas nada com tanto ardor 
e com essa sincera Femina 
que novamente nos comove 
entusiasma e reanima: 
ainda o amor ao mundo move! 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Maja Desnuda

 

 

 

 

José Peixto Júnior


Poeta,

Re-releio os Poemas da Besta, sabedor que você não éJosé Peixoto Jr boi de arado. Réquiem em sol da tarde mostra-o. Leio-os e me recolho ao romanticíssimo Femina.

Clama-se: "Já não haverá mais tempo!"

Feitosa, um abraço!

Peixoto, 25-2-97

 

 

 

Maria da Conceição Paranho



Alberto da Costa e Silva

 

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