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Henriqueta Lisboa 

Victor Mikhailovich Vasnetsov, Rússia, 1848-1926, The Knight at the Crossroads

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia :


  Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

Henriqueta Lisboa

 


 

Henriqueta Lisboa (1901-1985), poeta mineira considerada pela crítica um dos grandes nomes da lírica modernista, dedicou-se à poesia, ensaios e traduções. Nasceu em Lambari, Minas Gerais, em 15 de julho de 1901, filha do farmacêutico e deputado federal João de Almeida Lisboa e de Maria Rita Vilhena Lisboa. Formou-se normalista pelo Colégio Sion de Campanha, MG, e, em 1924, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Dedicou-se à poesia desde muito jovem. Com Enternecimento, publicado em 1929, de forte caráter simbolista, recebeu o Prêmio Olavo Bilac de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Aderiu ao Modernisno por volta de 1945, fortemente influenciada pela amizade com Mário de Andrade, com quem trocou rica correspondência entre os anos de 1940 e 1945. Sua produção inclui, além da poesia, inúmeras traduções, ensaios e antologias. Foi a primeira mulher eleita para a Academia Mineira de Letras em 1963.

Em 1984, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra. Foi professora de Literatura Hispano-Americana e Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica (Puc Minas) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Poeta sensível, dedicou sua vida à poesia. Considerada um dos grandes nomes da lírica modernista pela crítica especializada, Henriqueta manteve-se sempre atuante no diálogo com os escritores e intelectuais de sua geração e angariou muitos leitores ilustres durante sua vida, dentre eles Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Gabriela Mistral.

Sobre sua poesia, Drummond nos deixou o seguinte testemunho: “Não haverá, em nosso acervo poético, instantes mais altos do que os atingidos por este tímido e esquivo poeta.”

Henriqueta faleceu em Belo Horizonte, no dia 9 de outubro de 1985. Seu Centenário foi comemorado ao longo do ano de 2002 e, além de inúmeros eventos culturais em sua homenagem, várias reedições de sua obra foram feitas com o objetivo de revelar a força de sua poesia para os jovens de hoje.
 


Títulos publicados

Fogo-fátuo (1925); Enternecimento (1929); Velário (1936); Prisioneira da noite (1941); O menino poeta (1943); A face lívida (1945), à memória de Mário de Andrade, falecido nesse ano; Flor da morte (1949); Madrinha Lua (1952); Azul profundo (1955); Lírica (1958); Montanha viva (1959); Além da imagem (1963); Nova Lírica ((1971); Belo Horizonte bem querer (1972); O alvo humano (1973); Reverberações (1976); Miradouro e outros poemas (1976); Celebração dos elementos: água, ar, fogo, terra (1977); Pousada do ser (1982) e Poesia Geral (1985), reunião de poemas selecionados pessoalmente pela autora do conjunto de toda a obra, publicada uma semana após o seu falecimento.

Publicou também as coletâneas de ensaios Convívio Poético (1955), Vigília Poética (1968) e Vivência Poética (1979), coletâneas de ensaios. Os poemas que traduziu foram recentemente reunidos pela Editora da UFMG em Henriqueta Lisboa: Poesia Traduzida.

Entre as coletâneas que preparou para a infância e a juventude, destaca-se esta, de folclore, e Antologia Poética para a Infância e a Juventude (1961), que será reeditado pela Peirópolis brevemente.
 

Livros publicados pela Editora Peirópolis
Literatura oral para a infância e a juventude
Antologia de poemas portugueses para a juventude

Fonte: Editora Peirópolis

 
   
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova, detail

Henriqueta Lisboa


 

Vem, doce morte


Vem, doce morte. Quando queiras.
Ao crepúsculo, no instante em que as nuvens
desfilam pálidos casulos
e o suspiro das árvores - secreto -
não é senão prenúncio
de um delicado acontecimento.


Quanto queiras. Ao meio-dia, súbito
espetáculo deslumbrante e inédito
de rubros panoramas abertos
ao sol, ao mar, aos montes, às planícies
com celeiros refertos e intocados.


Quando queiras. Presentes as estrelas
ou já esquivas, na madrugada
com pássaros despertos, à hora
em que os campos recolhem as sementes
e os cristais endurecem de frio.


Tenho o corpo tão leve (quando queiras)
que a teu primeiro sopro cederei distraída
como um pensamento cortado
pela visão da lua
em que acaso - mais alto - refloresça.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

 

 

 

 

Henriqueta Lisboa


 

É estranho


É estranho que, após o pranto
vertido em rios sobre os mares,
venha pousar-te no ombro
o pássaro das ilhas, ó náufrago.


É estranho que, depois das trevas
semeadas por sobre as valas,
teus sentidos se adelgacem
diante das clareiras, ó cego.


É estranho que, depois de morto,
rompidos os esteios da alma
e descaminhado o corpo,
homem, tenhas reino mais alto.
 

 

(da obra Flor da Morte)
 

   

 

Francisco Perna

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Nauro Machado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sandro Botticelli, Saint Augustine, Ognissanti's Church, Firenze

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Álvaro Pecheco

Henriqueta Lisboa


 

De súbito cessou a vida.


De súbito cessou a vida.
Foram simples palavras breves.
Tudo continuou como estava.
 


O mesmo teto, o mesmo vento,
o mesmo espaço, os mesmos gestos,
Porém como que eternizados.
 


Unção, calor, surpresa, risos
tudo eram chapas fotográficas
há muito tempo reveladas.
 


Todas as cousas tinham sido
e se mantinham sem reserva
numa sucessão automática.
 


Passos caminhavam no assoalho,
talheres batiam nos dentes,
janelas se abriam, fechavam.
 


Vinham noites e vinham luas,
madrugadas com sino e chuva.
Sapatos iam na enxurrada.
 


Meninas chegavam gritando.
Nasciam flores de esmeralda
no asfalto! mas sem esperança.
 


Jornais prometiam com zelo
em grandes tópicos vermelhos
o fim de uma guerra. Guerra?...
 


Os que não sabiam falavam.
Quem não sentia tinha o pranto.
(O pranto era ainda o recurso
de velhas cousas coniventes.)
 


Nem o menor sinal de vida.
Tão-só no fundo espelho a face
lívida, a face lívida.


Publicado: A Face Lívida (1945)
 

   

 

Thiago de Mello

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Artur Eduardo Benevides

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

Albrecht Dürer, Mãos

Henriqueta Lisboa


 

Esse despojamento


Esse despojamento
esse amargo esplendor.
Beleza em sombra
sacrifício incruento.
 


A mão sem jóias
descarnada
na pureza das veias.
A voz por um fio
desnuda
na palavra sem gesto.
 


O escuro em torno
e a lucidez
violenta lucidez terrível
batida de encontro ao rosto
como uma ofensa física.
 


Na imensidade sem pouso,
olhos duros
de pássaro.


Publicado: A Face Lívida (1945)
 

   

 

Ascendino Leite

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Vicente Franz Cecim