As escaramuças verbais que
o poeta-filósofo Juarez Leitão vinha fazendo
sobre sua musa sempre me pareceram algo próprio de alguém
que se deixa perder pela boca, por esnobação.
Jamais acreditei que você fosse um poeta desses que
nascem a cada século, que atualizam a tradição
poética dos séculos precedentes e que abrem
as portas da linguagem poética para atualizar o discurso
dos séculos posteriores.
Estou estarrecido, maravilhado,
dominado por uma tensão aflitiva, trazendo sempre
junto ao peito os seus cadernos de
professor de poesia. Você está no mundo. Você
tem o mundo seguro nas mãos. Você faz o sertão
brilhar diante de uma tela. e aí você também
canta a tela e o conteúdo e a forma da tela. E espeta também
no punhal a minha dor, que dói no meu coração
de poeta, que sofre porque não consegue ser universal.
Creio que estou diante de um autêntico
milagre no universo da poesia. Não tenho como ser
diferente. Eliot, Pound, Kavafis, Lorca e Mello Mourão
estão encarnados em você.
Nestas alturas, me perderia completamente
se me fosse exigido apontar um ou outro poema pelo qual nutri
maior predileção. Citaria, no entanto, a sinfonia
das raposas - Psi,
a Penúltima -, o Compadre-primo, o Ajunt-hotel
e esse monumental poema que você escreveu para comemorar
todas as conquistas deste final de milênio que é
o Format Cê Dois Pontos. E o Menino do Balde e essas
seculares Evanescências que me obrigaram a (re)viver.
Percorri, lendo seus poemas, todos
os caminhos e descaminhos possíveis e impossíveis
que costuram o espaço todo com o sertão. Porque o
sertão é o mundo, porque no sertão está
o mundo e o mundo também está em você.
Em você a imaginação, a solidão, a
loucura, a provocação, o milagre, a história, a
beleza, a alucinação, o atestado de que a arte
é a única possibilidade de entrar em comunhão
com os entes universais.
Lindos, arrebatadoramente lindos
os poemas de Soares Feitosa, visto é claro, pela miopia
de quem se fez crítico para não perder o tempo
com literatices de embromação. Avalizo, afianço, sem
que você me peça, as linhas monumentais de sua
poesia que é de dimensão incontestavelmente
universal.
Creio, depois do que disse, que
não haverá possibilidade de nenhuma outra opção:
ou serei, no próximo século, um crítico literário
inteligente, ou você, por outro lado, daqui a um século,
não será considerado um poeta. Se não
for possível enfrentar esse desafio, sugiro que rasgue
tudo que até agora escreveu e desista da vida para
entrar em outra encarnação.
Ave, poesis!
Sursum corda!
Manhã, quase nevoenta, de
ventos gerais, em Fortaleza de Nossa Senhora D'assunção,
Setembro de 1994.
Dimas Macedo