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Paulo Henriques Britto 

phbritto@hotmail.com

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona

 

Titian, Noli me tangere

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Consummatum est Jerusalem

 

 

 

Paulo Henriques Britto


 

Dados bio-bibliográficos:

 

Paulo Henriques Britto nasceu no Rio de Janeiro, em 1951. Professor e tradutor, estreou como poeta em 1982, com Liturgia da Matéria, a que se seguiram Mínima Lírica (1989), Trovar Claro (1997) e Macau (2003).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

Paulo Henriques Britto


 

Materiais (de Liturgia da matéria)


A utilidade da pedra:
fazer um muro ao redor
do que não dá para amar
nem destruir.
A utilidade do gelo:
apaga tudo que arde
ou pelo menos disfarça.


A utilidade do tempo:
o silêncio.

 

 

 

Soares Feitosa, dez anos

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Andréa Santos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Maja Desnuda

 

 

 

 

 

Paulo Henriques Britto


 

Insônia


Na noite imperturbável,
infinitamente leve
a consciência se esbate,
espécie de semente
sobre um campo de neve
neve macia e negra
intensamente morna
onde o tempo se esquece
na inércia indiferente
das coisas que só dormem


onde, alheia ao mistério
de tudo ser evidente,
inteiramente encerrada
dentro do espaço exíguo
que é dado a uma semente


inútil como fruta
que não foi descascada
e apodreceu no pé,
jaz a semente aguda
profundamente acordada.


                                (1987)

 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

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Renato Suttana

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Judgment of Solomon

 

 

 

 

 

Paulo Henriques Britto


 

Ontologia sumaríssima


Umas quatro ou cinco coisas,
no máximo, são reais.
A primeira é só um gás
que provoca a sensação
de que existe no mundo
uma profusão de coisas.


A segunda é comprida,
aguda, dura e sem cor.
Sua única serventia
é instaurar a dor.


A terceira é redondinha,
macia, lisa, translúcida,
e mais frágil do que espuma.
Não serve para coisa alguma.


A quarta é escura e viscosa,
como uma tinta. Ela ocupa
todo e qualquer espaço
onde não se encontre a quinta
(se é que existe mesmo a quinta),
a qual é uma vaga suspeita
de que as quatro acima arroladas
sejam tudo o que resta
de alguma coisa malfeita
torta e mal-ajambrada
que há muito já apodreceu.


Fora essas quatro ou cinco
não há nada,
nem tu, leitor,
nem eu.


                                     (1989)

 

 

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

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Rodrigo de Souza Leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

 

Paulo Henriques Britto


 

Pomo (de Mínima lírica)


Da vida só têm substância
a casca e o caroço.
No meio só tem amido,
embromações do carbono.
Porém todo o gosto reside
nessa carne intermediária,
sem valor alimentício,
sem realidade, sem nada.


É nela que os dentes encontram
o que os mantém afiados;
com ela é que a língua elabora
a doce palavra.

 

 

 

Ticiano, Flora

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Carlos Figueiredo da Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Paulo Henriques Britto


 

Sonetilho de verão


Traído pelas palavras.
O mundo não tem conserto.
Meu coração se agonia.
Minha alma se escalavra.
Meu corpo não liga não.
A idéia resiste ao verso,
o verso recusa a rima,
a rima afronta a razão
e a razão desatina.
Desejo manda lembranças.


O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus. Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.

 

 

 

Ticiano, Salomé

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Carlos Nóbrega

 

 

20.01.2005