Florbela Espanca
Biografia:
Poetisa
portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha
ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo,
criada de servir (como se dizia na época), que morreu com apenas 36
anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada
na certidão de óbito como nevrose. Registada como filha de pai
incógnito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana
Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles
Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se como
curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, só 19 anos após a
morte da poetisa, por altura da inauguração do seu busto, em Évora,
e por insistência de um grupo de florbelianos, a perfilhou.
Estudou no liceu
de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho
concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em
Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital,
contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres
escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e
revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando
frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra
poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho,
de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no
Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano
também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com
Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em
1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje,
em Matosinhos.
Os casamentos
falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do
irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes
laços afectivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio
Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro
de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem
psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada
como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar».
Postumamente
foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de
Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As
Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por
Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano
Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia
(1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes
anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.
A poesia de
Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da
solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo
de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto,
no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente
pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um
sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da
charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e
poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a
natureza.
Florbela Espanca
não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais
perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século,
portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que
foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia,
segue a linha de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por
outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo,
influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões.
Poetisa de
excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente
feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no
feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum
convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e
investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras
décadas da literatura portuguesa do século XX.
Fonte:
Astormentas
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