Allan R. Banks (USA) - Hanna

Antônio Jackson de Souza Brandão


Prezado Soares Feitosa,

Não só abri os links como li os contos enviados, apesar de, particularmente, ter gostado mais do que retrata o quadro de Allan Banks. Muito expressiva a interpenetração de seu texto em relação ao instrumento pictórico, já que seu texto nos leva não só ao mundo do pintor (expressiva, como sempre, a ampliação que você faz da imagem na mesma proporção que o texto nos envolve!)como também ao do narrador. Além disso, belíssima obra que nos impele à reflexão. Parabéns pela escolha!

Prof. Antônio Jackson 

   
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

Raymundo Silveira

 


 

Caro Poetamigo

Ninguém pode se queixar da falta da parte de baixo (ou de qualquer outra parte) da sua “Dorian Gray”. Não se trata exatamente de uma “Dorian Gray”, pois você mesmo declara:Raymundo Silveira “Leitor, por obséquio, não me pergunte sobre desfecho. Isto pertence ao passado, algo totalmente inacessível até mesmo aos senhores historiadores.” Uma coisa é certa: um retrato de mulher, para ser fiel ao original, não pode mostrar tudo. Ainda que se trate de um nu. E mesmo que o artista seja um Holbein ou mesmo um Rubens ou um Rembrandt. Veja o que diz sobre elas, as mulheres, um ginecologista da alma: Les femmes sont des poêles à dessus de marbre. (Honoré de Balzac).

Parabéns pelo excelente texto.

Um abraço

Ray Silveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 Rosane Villela


 

Oi, Soares,

Você é um "parabolista" de primeira, um equilibrista deRosane Villela significantes ocultos na corda bamba dos significados das palavras. "Um quadro e suas versões ao passado" foi outro texto que me levou a indagar se, além da diversão, do prazer que sua leitura nos dá, há um outro sentido.

E, como sonhadora ambulante, achei que você, através de seu texto, queria metaforizar a importância do sonho na vida das pessoas, mas não o sonho que se cumpre, pois o desejo de "estar a sonhar" supera muito o fato dele "estar a se concretizar". Na realidade, o presente só importa quando o sonho não desmancha-se, isto é, quando o "estar sonhando" continua, e é acalentado, aumentado até, através de uma lupa, "retocado" de vermelho e, aqui, pode-se notar a escolha vocabular do "retocado"que implica uma volta contínua ao sonho, corroborada na ausência da parte de baixo do corpo da mulher e da nebulosidade de um dos lados de sua imagem, o que lhe permite divagar sobre ela, não correndo, assim, o risco de "encontrá-la". O mesmo acontece com o passado.

Ninguém quer acreditar na procedência do quadro, pois não é isso o que importa; todos querem continuar "sonhando" e o futuro sobre ele também é insignificante quanto ao seu real valor, que é o de ele estar sempre a se construir. Daí, adivinhos e feiticeiros virem a estar sempre desempregados, inclusive Teófilo...

Enfim, a maneira como a gravura chegou às mãos de Teófilo. Ela simplesmente surgiu, sem explicação. E sonhos podem surgir assim também, trazidos pelo vento ou "restaurados" e "rascunhados no ar". Se Hanna veio pelo vento, ela veio sem dono, livre como qualquer sonho.E se foi restaurado, já existia e nunca, realmente, findara. Esta é a idéia que perpassa todo o texto: a sua atemporalidade e liberdade, e a sua importância na vida humana. (daí as várias versões). 

Carinho,

Rosane Villela.

 

   
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

Joaquim Saial


 

Caro amigo e incansável trabalhador cultural, Feitosa:

Primeiro: aqui o bicho por detrás do ecrã do computador, não é poeta. Apenas mero professor de História da Arte, simplesJoaquim Saial conferencista, algo escritor e forçado director de revista de cultura, para além de destemido artífice de 1001 outras coisas. Mas não poeta, apesar de uma ou outra vez poetar. E digo-o sem auto-desdém ou outro tanto para os meus colegas destas coisas que antes disse que sou. É que ser poeta é ser muito acima de mais. Como muito bem disse a minha conterrânea (porque de Vila Viçosa), Florbela Espanca, «Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens!» Daí que, estamos conversados, nunca mais me chame poeta, coisa que nunca poderei ser, dado que sou simples e irrevogável homem.

Segundo: Envia-me uma short story que me deixa de água na boca. Acho que isso é vingança do destino, dado que muitos me têm dito o mesmo acerca de longo conto que escrevi, situado na ilha de S. Vicente, Cabo Verde, em que a personagem principal, Fernando Desamparado da Luz Spinelli, acaba esborrachada na parede do mercado municipal (ou ‘plurim de verdura’, como ali se diz) quando o leitor está à espera de outras desgraças e não da morte do dito cujo. Mas deixemos isso, que não se trata aqui de falecimento de gente mas de uma woman in red, não da vulgar femme fatale, mas de um ser coberto de fogo intenso que enche a tela de labaredas. Diabo, essa de fogo persegue-me. Há dias, eu que ali acima disse que não sou poeta, enviei versos sobre fogo ao poeta (esse sim!) Ruy Ventura, em contexto de incêndios que estão a fazer desaparecer as últimas duas ou três árvores que ainda existem em Portugal… Mas lá estou eu a fugir da mulher de vermelho. O que se passa é que a partir de agora, quem ler o seu texto há-de sempre ver essa misteriosa ‘Hanna’ de meio corpo junto ao seu conto e vice-versa. Um ficou definitivamente fundido no outro, como uma mesma e só entidade. O quadro, da Gandy Gallery, em Creekwood Court, McDonough, Geórgia, não tem o desgraçado veneno social do ‘Fado’, de José Malhoa, mas há aquele ombro escondido na penumbra que me remete para a Adelaide da Facada, figura feminina da tela malhoana, que o pintor quis retratar com a alça da camisa descaída, coisa que ela não deixou (disso ficou aliás um pequeno quadro de estudo). Miséria também tem os seus pruridos…

Terceiro: As coisas no Brasil não vão bem, mas onde é que elas vão bem? Olha, Feitosa, aqui te envio o (quase) poema e o conto, para aliviar um pouco, que essa ‘Hanna’ e sobretudo o seu conto foram o melhor deste dia.

Um forte abraço aqui da Cova da Piedade (Almada) para si,

Do Joaquim Saial


 

O fogo

 

o fogo, o fogo,

o silvo do carro dos bombeiros,

o crepitar da madeira,

o estalido da pernada da árvore que quebra

e o assobio da água que se lança

e não resolve e não resolve

e o noticiário que não resolve

e a Guarda que não resolve

e não resolve

e o incendário impune

e o homem do churrasco

e o homem da beata

e o agricultor da queimada

e o rátátá do helicóptero

e a velha que chora

e a criança que chora

e o dono da casa nova que chora

e o ministro que se repete, que se repete

e o cheiro das cinzas, o cheiro das cinzas

e sempre o silvo do carro dos bombeiros

e o cheiro das cinzas

o cheiro das cinzas

sempre o cheiro das cinzas, o cheiro das cinzas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

Marco Aqueiva

 


Caro Feitosa,

Só agora estou podendo responder-lhe a mensagem.Marco Aqueiva Lamentavelmente não lhe pude responder antes. Mudei de residência, fiquei tempo sem acessar estas águas virtuais.

Pois então, apreciei muitíssimo está comovente parábola da imagem primordial e cara, dolorosamente fugaz e que por isso mesmo tentamos reencontrar. Dolorosamente embalde. Tentativa de reencontro com o sonho. A infância não só são ruínas. O seu texto o prova, transcendendo muito a extensão da tela. 

 Abraços calorosos,

de Aqueiva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Adriles Ulhoa Filho

 


Poeta Feitosa,

Li, gostei. Reli, gostei mais ainda! Incrível a facilidade com que você escreve sobre temas tão díspares, com igual beleza. Este conto da figura da moça que chegou ao escritório do Teófilo por debaixo da porta e que tanto reboliço causou é fascinante. E olheAdriles Ulhoa Pinto que só chegou a metade! O desenrolar da história vai num crescendo (como as ampliações que o Teófilo fazia) que até parece estarmos ouvindo o Bolero de Ravel.

Só não gostei do chato do caixeiro viajante descobrir e vir revelar o nome da personagem e do autor da obra. Preferia que tivesse ficado para a imaginação de cada leitor o seu nome, como ficou a descoberta de como seria o resto do seu corpo. [Ainda bem que ninguém acreditou!]. Desde o começo da leitura eu a vi de corpo inteiro. E, com aqueles cabelos, aquele olhar, aquele colo...o resto é detalhe! Chamei-a de... Bem, deixa pra lá que a moça é sua.

Parabéns mais uma vez e aceite o meu

abraço.

Adriles
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

Antônio Carlos Secchin

 


SoaresSecchin

Muito obrigado pelo envio do quadro...e de suas belas versões textuais.

 

Grande abraço do

Antonio Carlos Secchin.
 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Elvira Lima

 

 


O que o conduzem a escrever as figuras é uma rica sugestão para melhorar o trabalho com poemas em sala de aula.

Olhe só! Duas linguagens e a possibilidade de muito dizer. O texto é ótimo. O personagem vive num mundo e o tempo corre emA menina afegã, de Steve McCurry outro.

Obrigada por este trabalho e tantos outros. O outro que olha a menina afegã é grandioso. Que olhar!!

Abraços

Elvira Lima

Profª de Línguas e Literatura

Concórdia - SC
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

Nicodemos Sena

 

 


Caro Soares Feitosa,

Li o teu "Um quadro e suas versões ao passado", que me fezNicodemos Sena refletir sobre uma questão presente em boa parte da melhor Literatura, em todas as línguas, desde "As mil e uma noites" até "Jardins de caminhos que se bifurcam", do J. Luís Borges: a questão dos limites entre o sonho e a chamada "realidade".

Intrigante é que, no teu conto, a decifração do enigma não veio da "realidade", pois ninguém a quem o narrador perguntou soube informar algo sobre a jovem retratada no quadro. Tampouco no sonho ele encontrou explicação, pois, ao garatujá-lo quando retornou à vigília, o sonho  se desenhou incompleto, com a parte de baixo da mulher se recolhendo nas brumas de seu esquecimento, onde o homem costuma refugiar-se para não enlouquecer. Afinal, foi a intrigante figura do caixeiro viajante - esse prestidigitador do tempo, capaz de estar em todos e em nenhum lugar -que revelou o enigma: tratava-se do quadro Hanna, do norte-americano Allan Banks, nascido em 1948. Mas alguém é capaz de discernir o que é verdade e o que é mentira nas mil histórias que um caixerio viajante vai recolhendo em suas andanças? Apesar disso, por onde ele passa, todos o inquirem avidamente; e é assim que a "mentira" converte-se em "verdade", e a palavra adquire o status de arte!

Um abraço fraterno do amigo,

Nicodemos Sena

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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João de Moraes Filho

 


Meu estimado Poeta Soares Feitosa,

Li Um quadro e suas versões ao passado com o gosto de quem pinta a memória com as cores dos olhos e com aquelaJoão de Moraes Filho interrogação de quem recebe um bilhete de amor sem assinatura. Lembrei-me dos versos de Narlan Matos, a poesia que há em *Theatro* é o susto das correspondências diárias, surto dos currículos e do tique-taque do corre-corre desse início de século: *Por baixo da porta/ chegam mais contas que soluções / o preço do pão é o preço da vida. / E não há nenhum milagre marcado para segunda feira. Será* que Teófilo descobrirá uas versões ao passado a tempo?

* *

A história se constrói imediata com suas cenas e diálogos bem delineadores da emoção que os personagens transmitem e elevam a um ambiente contemporâneo, sem os exageros do realismo travestido. Mas aquele olhar de quem está entre a fronteira da criação e da realidade é a mais valia desse Quadro e suas versões. Narrar é mais que contar. É mais que um conceito. Aqui ouço um ritmo, a voz de um poeta*. Sobre o futuro, não! Isto é assunto calmo, o futuro.* Serão as próximas versões do presente que lerá passado e futuro nesse misterioso eterno retorno. Fechadas as portas e as janelas*: Como haveria de ser o resto? *Será realmente silêncio*? *Como foi dito, (não é mesmo) o autor não foi encontrado para obtermos as respostas imediatas!

Cachoeira, 07 de Julho de 2005.

Forte Abraço,

João de Moraes Filho


 

Um quadro e suas versões*

 

*"Quem sabe, algum retrato que vazou do cesto"*

 

                                   *ao poeta Soares Feitosa*
 

um vermelho vestido

de outros portos tangia

os traços iluminados do rosto

em direção ao olhar

de menina sonhada,

levemente. Um laço

dividindo atenções com os cabelos

ensaiava como haveria de ser o resto:

Sorria seus lábios tímidos

dirigidos àquela direção. A janela.

Lá estava um pincel,

um vermelho vestido desatado;

no laço nenhum retrato.

O problema é que ninguém acreditou.
 

 

João de Moraes Filho

www.escrevistas.com.br

"Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só; mas sonho que se sonha junto é realidade."
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

Astrid Cabral


Querido poeta Feitosa:

Hanna é uma linda figura em claro-escuro barroco: a noiteAstrid Cabral dos cabelos, o dia na face iluminada. Mas o pincel de Banks só nos dá o visível. Em que pensa Hanna por baixo da bela cabeleira? Por quem ou por que bate seu coração atrás do belo busto? Que vêem seus olhos?

O invisível, amigo, só a palavra, muito além do pincel, pode nos dar. Assim a história de Teófilo vai além da figura de Hanna... Conhecemos de Teófilo bem mais que a máscara de Hanna. Dele temos o interior, a emoção; dela a pele, a aparência. Afinal, Soares Feitosa nos diz mais que Banks... Quem escreverá a história do ponto de vista de Hanna, penetrando a esfinge?

Você fica nos devendo o outro lado da história, amigo.

O abraço da

Astrid