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Maria Maia


 

Nada resta
 


não me resta nem a flor
nem a flor
esta


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904)

 

 

 

 

 

Maria Maia


 

Pedragua


Água ardo
Eos lento que me arraste
Ao cume tenso de onde escorro pedra

Fui Fedra
Hoje só Sísifo
Fardo inútil me carrego

Vertedouro
Me despejo
Caio cálida sob o limo

Subo farta
Inconsútil: do abismo
Antevejo o despojo do desejo


 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Pipelighter

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José Lívio Dantas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tintoretto, Criação dos animais

 

 

 

 

 

Maria Maia


 

Sóis vermelhos

Para Orides Fontela

Sóis vermelhos
Ícaros desabando
Da fronte de Orides.
Te vejo exangue:
Fontela, fonte, Virgília
- viés de espelhos
origem de concisão.
Enredado em heras
Heráclito circula
Teu templo de Teias;
Velas velhas encandeiam;
Veias de Fedra pululam alheias
Estranguladas por Eros...
Veios de Tempo
(Pós-Eras de não)


 

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

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Edmilson Caminha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

 

 

 

 

Maria Maia


 

Eco


Meu coração novamente sente
Como quando era chuva
E tudo que é gente
Corria pras biqueiras
E ele desandado e fascinado
Desabava nas ladeiras
Com as batidas respondendo
Ao barulho do ventre
dos trovões...


 

 

 

Ticiano, Flora

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Juarez Leitão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Bathsheba

 

 

 

 

 

Maria Maia


 

Estranha simetria


insólita solicito gritos
soletro-te em sons de sim maduros
(qual queres)

mais sólida reconheço-me
em pura alegria

grifo em ti
o que num artifício crias:
o ponto em que sorrindo me desatas

submerges em desmedido gozo
- tu deveras não recatas

a letra tamanha
não acata
nossa estranha simetria


 

 

 

Titian, Noli me tangere

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Gabriel Nascente

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Plaza de toros

 

 

 

 

 

Maria Maia


 

Em pleno Villa


Tropeço na Floresta
Mais que menos tua.
Pernoito nu'a música
(morada de sem anos,
passarinhos, sustenidos)
Sorvendo em dose doce o teu Ri
Acho.
Não ouço a noite azul de metileno.
Baixo o açoite do som que me
Encandeia.
Sezão:
Esta maleita aquinda dormita
Um pobre coração
- botijas de pepitas soterradas no
futuro -
Golpeia a terra prenha de frutos
Maduros:
Em pleno Villa, violoncelos,
Contrapontos,
Regurgitam tons encharcados de Veneno.

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, David, detalhe

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Irineu Volpato

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

 

 

 

 

 

Maria Maia


 

Pó de estrela


pó de estrela,
restos que somos
brilhamos, no entanto

canto tanto
e recebo em minha trova
asteróides, supernovas

pela dobra da
obra
só espanto

para o olho desarmado
sobra o pó


 

 

 

Alexander Ivanov. Priam Asking Achilles to Return Hector's Body

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Adriano Espinola

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

Maria Maia


 

Círculo vicioso


homenagem a Emily Dickinson e Heráclito


Circunferência: tua Origem sem fim
ousa ser sempre começo
possuída de Sagrado
pussuindo o Profano
(circularidade da qual assomo)


 

 

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

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Giselda Medeiros