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Jorge Pieiro

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Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Culpa

 

Jornal do Conto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Jorge Pieiro



Bio-bibliografia


 

Jorge Pieiro, nome literário de Jorge Alan Pinheiro Guimarães, é natural de Limoeiro do Norte (1961). Iniciou-se nas letras em 1977, no jornal Kuandu, na cidade natal. Diz-se escritor-ensaísta-professor-mestrando-produtor cultural, em letra&música e espaço aberto. Obra literária escolhida: neverness (poesia: letra&música / resto do mundo 1996); fragmentos de panaplo (contemas: do autor 1989); galeria de murmúrios (ensaio: tempo molequin 1995); caos portátil (contemas: letra&música 1999). Incluído nas antologias Geração 90: Manuscritos de Computador e Geração 90 – Os Transgressores, pela editora Boitempo, organizadas por Nelson de Oliveira. Na opinião de um crítico, participam delas “os que publicaram o que de melhor se leu no final do século XX”. Tem colaborado também em jornais – articulista de O Povo – e revistas do Brasil e do exterior, com ensaios críticos, resenhas, traduções, relatos e experiências fragmentárias. [2007]


 

 

 

Pedro Salgueiro

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Leontino Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

Aíla Sampaio

 

Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil

14.8.2007

 


 

Jorge Pieiro, Estética do Inconcluso

 

 

Jorge Pieiro, que iniciou sua trajetória literária no final dos anos 1980, é assumidamente um experimentalista. Sua produção ora irônica, ora nonsense, ora surreal, é naturalmente malcomportada, fragmentada e, na maioria das vezes, hermética, insana.

 

Bolha de osso, seu oitavo título uma bem cuidada publicação, com o selo Edição do Caos, é sedutora já na aparência. A obra se compõe de 69 contemas, como ele mesmo faz questão de designar. Contemas porque são contos curtos, ou ensaios para contos. Contos que podem também ser considerados poemas, prosa poética, enfim: contemas. O gênero é o que menos importa. Importa a força de sua palavra, sempre lacunosa, mas extremamente firme, certeira, construtora da estética do inconcluso. Sim, porque seus textos iniciam e logo findam sem terminarem de fato.

A obra começa, bem a Brás Cubas, com uma ´quase advertência´ ao leitor: ´Sem iludir nem permitir falsa luz de obviedades, convém adverti-lo: prosseguindo, enrede-se e não se espante com desencantos. Daltontrevisanizo-me uilconiamente. Deixe-se, de sentir. Morrer é casulo. Liberte-se. Torne-se. Nesses textos-contemas salve-se em espírito de soluços. Procure tornar-se cúmplice de palavras, sábio. Verá que natureza e amor se fazem com inexatidões, perplexidades, alegorias e prenúncios. Se preferir, desista. Ninguém se quer mártir em folhas de papel´. O estilo JP é marcado a partir daí: desafio ao leitor, equilíbrio na inexatidão, influência assumida do curitibano Dalton Trevisan, leituras antigas e permanentes. Identificação. Também declaradas estão as leituras de Uilcon Pereira que, no dizer de Nilto Maciel, é escritor do século XXI, do futuro, o criador de uma nova literatura. De fato, JP, como Uilcon, corre um sério risco de se tornar um de seus insuspeitos personagens. Foi o Nilto que disse isso do escritor paulista, comentado que ´em sua obra ocorre uma sobreposição de realidade, não se sabendo bem onde começa a ficção, onde existe a fantasia´. Digo o mesmo de JP. Seu espírito irônico e corrosivo transplanta muito da realidade para a ficção. Há arranjos cáusticos, outros bem-humorados, homenagens, pequenas vinganças até e há Ele na transversal de tudo.

No primeiro contema, ´Prelúdio´, outra influência escancarada que vai perpassar toda a obra: Guimarães Rosa. A linguagem elíptica e inventiva reconta a história de Riobaldo e Diadorim, mais precisamente, o momento em que o jagunço descobre que o companheiro, então morto, por quem estivera apaixonado era uma mulher: ´Enquanto desviei céu e olhar, vi longas barbas, era Miguelão desfazendo de cruz o sinal de ex-pranto. Vocês, atordoados, correram pelaí. O medo é uma corredeira. Eu engasguei na cantiga: - Asas de diabo mais compridas. No alto, Miguelão beijou Diadorim, enciumando Rosa entre as pernas de Riobaldo, que no meio de tanta dor repetiu o gesto´ (p. 13). A linguagem e o estilo são totalmente roseanos, como se comprova ainda em: ´Longe dali, alguém se engoliu de cianureto. Débil. Cápsula de feliz morte, nele se desvivendo como sempre´. Note-se que em ´Enquanto desviei céu e olhar´ é a sonoridade quem dita o sentido: ´Enquanto desviei seu olhar´. Rosa todo.

Há histórias nas histórias. Pode não haver a lógica tradicional. Ou ela pode estar velada: ´Mania toma seu homem entre mãos, beija-o. Com o facão parte aquele principal em dois. E o dá a seus cães. - Isto é o corpo de nossa última aliança. Anoitece´ (´Beijo de Anum´) - A mulher decepa o órgão sexual do marido e celebra a fidelidade então possível, como se consagrasse um corpo divino, qual o padre faz com a hóstia no altar. Assim se fazem todos os textos, sem digressões, explicações ou... conclusão. Anoitece. Que conotações partem desse verbo? Muitas.

Seus personagens são seres não-felizes, dilacerados, escassos de existência. É a dançarina assassinada na boate, é o mendigo que, na hora do amor, esquece a miséria: ´Primeiro lambe-lhe a coxa alta e olho. Depois descem de dois até a arena. Íris conhece aquele chão. Ali ele esquece vontade, fome, mãos, pés´ (´Kaletzip´); a prostituta sempre acompanhada e sempre só, o homem anônimo que anda na contramão do progresso, a mocinha seduzida, a índia despersonalizada, o macho devorador, vampiro, estuprador, o Marquês impotente, o velho tarado que se aproveita da ausência da mulher, o necrófilo. Muitas histórias de sexo contadas com humor, assassinatos e júris quase imperceptíveis... O sopro trevisaniano é muito presente, mas a linguagem de JP, cheia de metáforas (o sexo da mulher é a azeitona mordida, a hortaliça viçosa) e subterfúgios, uso consciente das potencialidades expressivas da língua, garantem um estilo próprio, ironicamente lacunoso, emprestando certa safadeza aos personagens masculinos que muito têm do Nelsinho d´O Vampiro de Curitiba, embora não seja essa a obra de Trevisan que mais esteja presente.


AÍLA SAMPAIO
Professora de Literatura da Unifor

 


 

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Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci

 

 

Vale de Souza

 


 

 

As quinze peças ficcionais que compõem Eu vou esquecer você em Paris (Fortaleza: Imprece, Edição do Caos, 2006), de Carmélia Aragão, mostram uma escritora madura. E isso se deve a dois fatores: muita leitura e talento. O primeiro se pode constatar pelas epígrafes (Neruda, Salman Rushidie, Cortazar), pela menção a nomes fundamentais da literatura (Dostoievski, Flaubert, Emily Brontë, Virgínia Woolf, Goethe, George Orwell e outros), sem falar na composição “Página 12224”, de feição policial e ao mesmo tempo fantástica, a nos lembrar “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto.

Como ser madura, aos vinte anos de idade? Ou antes? Pois não se sabe quando as composições de Carmélia (1983) foram escritas. Ora, os exemplos de jovens escritores são muitos. Assim como de escritores idosos que nunca conseguiram atingir a maturidade literária, e morreram inacabados, incompletos, depois de dez, vinte, trinta livros publicados.

Como ser madura, aos vinte anos de idade? Ou antes? Pois não se sabe quando as composições de Carmélia (1983) foram escritas. Ora, os exemplos de jovens escritores são muitos. Assim como de escritores idosos que nunca conseguiram atingir a maturidade literária, e morreram inacabados, incompletos, depois de dez, vinte, trinta livros publicados.

 


 

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24/08/2005