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Roberval Pereyr

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr



Bio-bibliografia


ROBERVAL PEREYR nasceu em Antônio Cardoso-Ba, em 1953. Em 1964, mudou-se para Feira de Santana, onde vive. É poeta, ensaísta e professor universiutário. Tem Mestrado em Letras (UFBA) e faz atualmente Doutorado na Unicamp. Vencedor de vários prêmios literários, tem inéditos quatro novelas e a maior parte da sua produção poética. Publicou os livros de poesia: Iniciação ao estudo do um (com Antônio Brasileiro, em 1973); Cantos de sagitário, (1976); As roupas do nu (Coleção dos Novos, em 1981); Ocidentais (1987) e O súbito cenário (1996).Participou de: Poesia latino-americana. (Buenos Aires, 1976; Antologia - I Concurso Nacional de Poesia Vinicius de Morais, 1984; e Poemas fora da ordem - Concurso Nacional: Prêmio Caetano Veloso de Poesia (Antologia, 1993 - 10 lugar).Pubicou nas revistas: Tapume, Hera e Serial.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr




Prelúdio


O teu segredo é o meu
percurso no eu
nascido de lado.
                 Naquela curva perdi o tino
                 e o nome
e fui o corvo ferido no imo
e fui o deserto sobrevoado.

O deus que dormia atrás do meu embigo
sumiu. No oco
deixado ecoa o sem-sentido
e danço esta sina com eus indomáveis.

 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Yeda

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Miguel Sanches Neto, 2002

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr




Nenhum e Seis


sou da noite minhas unhas crescem
na noite, inventei um destino
na noite:

uma banda do ser interditada
a outra na festa,
às vezes pergunto: quem sou?

trago manchas de enigmas na pele,
dou um salto mortal dentro de mim
e não sei se escapo:

pois há os que caem.
há os que não levantam.
há os que perdem em complicado jogo
a terra natal.

a minha terra era eu mesmo:
hoje, sou uma dívida.
a quem me hei de pagar?

 

 

 

 

Hélio Rola

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Maria Azenha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr



 

A Quem e a Quê



ao que morde o vento
ao que come coca
ao que acorda triste

ao sol de um segredo
ao laço de fita negro
ao deus dócil, inapto

ao coração morno
ao rei de cor púrpura
ao urso sem pólo

ao corpo acossado.
ao Sísifo bêbado
ao cego sisudo.

al curso de los ríos
aos tristes camaradas

à luta de boxe
ao ox no pasto
ao meigo sem pérola

à carne com osso
ao fosso emblemático
à narco-society

ao santo sepulcro
ao lucro ao lucro ao lucro

ao símbolo fálico
ao cálice mítico
ao íntimo desastre

à pequena que come
o fácil chocolate




 

 

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

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Neide Archanjo

 

 

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr



A Essência é Bá


A essência é bá.
Tuburundum ecoé.
Tivejo de túrbia
na
fecundidade à penumbra
comuno bá vusevi.
Mas nontitemo.
Tantra vetusta ursa branca
nos flancos divina solídez.
Pero que si
o que non
ao corazón nom basta dividir-se.
Mister ser mu
como no zen
Gantó gritando a morte em espiral,
axê!

 

 

 

 

Herbert Draper (British, 1864-1920), A water baby

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Mário Pontes

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr



A Falsa Musa


A noite filtra seus males
numa cadeira difusa:

maquinações, pistas falsas
(a noite é vasta), tumultos
não percebíveis, compacta
massa de sonho e de dúvidas.

Alguém vai morrer (não sabe)
daqui a sete minutos
e talvez sonhe com pássaros
ou reze, calmo, no escuro:

a noite, astuta, o enlaça
nos braços da falsa Musa.

 

 

 

 

Um esboço de Da Vinci

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José Alcides Pinto

 

 

 

 

 

 

 

Rubens, Julgamento de Paris

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr



Amálgama


O exercício da mentira
assevera-nos o rosto;
petrifica-nos o busto
e engrandece-nos a ira.

O exercício da mentira
engrandece-nos as posses;
ajoelha-nos em preces
sob o teto das igrejas.

O exercício da mentira
faz-nos fortes barulhentos;
tece grandes pensamentos
para encher-nos de amarguras.

O exercício da mentira
faz-nos lúcidos, divinos;
torna os animais humanos
e torna os deuses caninos.

O exercício da mentira
(por que tamanha maldade?)
concedeu-nos - que loucura! -
o exercício da verdade.
 

 

 

 

Franz Xaver Winterhalter. Portrait of Mme. Rimsky-Korsakova. 1864.

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Weydson Barros Leal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Roberval Pereyr



Pacto


Vou cantar este dia: a flauta
de Pã emudeceu, fiquei surdo.
A tarde está cheia de bandidos,
há um pássaro no quintal.

Não importa: vou cantar o mau tempo,
esta dor disfarçada, este homem
bem vestido e cheio de sombras.
(Pesa imensamente aquela nuvem,
a tarde é um comboio de lamentos).

Não importa: cantarei o ar
metalúrgico, a mãe mutilada, o monstro
escondido - a quem aguarda?

Oh, a quem aguarda o monstro
que se esconde (onde?) no jardim?

Não importa: vou cantar, cantar
até que esta noite, ursa negra, patas
de marfim entre em chamas
e se mostre, por fim, toda a lama
que emperra o nascer das manhãs.
 

 

 

 

Michelangelo, Pietá

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Roberto Pires

 

 

 

03/06/2005