Celso Brito
Alguns email's
Do mais recente para o mais antigo:
5º e-mail:
Caro Poeta,
Obrigado pelo envelope que me enviastes, cheio
de palavras.
Palavras em forma de prosa e de poesia.
Marcadas com o ferro em brasa do seu estilo de escrever, onde se
pode ler (no catálogo das artes e das letras): Soares Feitosa, poeta
prosador, de um sertão de tantos personagens, tantos causos,
memórias, imagens e histórias.
Lendo a sua poética prosa sertaneja - escrita
no ritmo da fala, com as idas e vindas das conversas, com os disse e
me disse das lembranças e muitas vezes marcada pela certeza de quem
estava lá - é claro para mim o fato de que ela tem a sua assinatura
de estilo gravada.
Essa assinatura está no ritmo impresso pela
linguagem-dialeto que você usa, nos espaços vazios da sua
narrativa (propositalmente deixados para a imaginação do
leitor).
Escrever tão somente não lhe basta, contar a
história não é suficiente. Você precisa ir além. E vai. E consegue
falar com o seu leitor, consegue perguntá-lo, ouvi-lo, instigá-lo,
convidá-lo para a sua história. Lendo seus textos parece ser
possível compreender o seu processo de criação, um desaguar de
idéias, que vem e sai quase pronto. Imaginar de onde veio o menino
que se transformou no homem-poeta de agora.
Foi isso que senti no meu primeiro contato com
a sua obra, e pude comprovar um pouco desse meu sentimento, lendo a
sua biografia e entrevistas que destes falando do seu trabalho.
Os seus escritos tem uma assinatura de estilo
tão marcante que torna desnecessário o seu nome no fim.
Por isso, no seu ensaio, que o Ledo Ivo diz ser
sobre muitas artes: Estudos e Catálogos - Mãos, acrescente,
por favor, a Escrita de Feitosa, como a arte de uma escrita de
estilo própria, assinada.
Um forte abraço,
Celso Brito
Referências:
4º e-mail:
Caro poeta,
Por um tempo pensei que os verdadeiros poetas
não existiam, que eram seres inatigíveis flutuando sobre o limbo das
academias. Mas sei que eles existem, usam Internet, escrevem e-mails
e as vezes dormem.
Sobre o sono dos poetas eu escrevi uns tímidos
versos um dia, isso foi por volta de 1995, mas eu nuca tinha visto
um poeta dormindo.
Agora, alguns anos depois, navegando no
universo do Jornal de Poesia, encontrei essa foto, que me fez
lembrar de um poema escrito há tanto tempo:
O POETA
NO SONO
Do
silêncio
voam
mariposas
(dúbia
espera)
Vaza da
boca
uma baba
noturna.
Sêmen do
sonho
que me
copula
Referências:
3º e-mail:
Caro poeta Soares Feitosa,
Obrigado pela recepção a base de pipoca de
micro-ondas e refresco de abacaxi com hortelã... mas que tal trocar
por uma carne seca com macaxeira ou uma boa rapadura com um cachaça
do Ceará?... :-)
Sobre os poemas, escolhi alguns seus ao
acaso... imprimi-os porque fiquei curioso para ter logo um contato
com a sua poesia... e como eu estava à beira de uma viagem, decidi
levá-los comigo.
São eles: "Abismo em três dias"... do qual as
duas estrofes iniciais me encantaram. Nesse poema você conseguiu
saltar o abismo e alcançar o mistério que ronda os encontro e
desencontros da vida. Esse sentimento de dois universos se
encontrando e se descobrindo... se perdendo um no outro... me deixou
com uma vontade danada de botar uma roupa e sair para um chop.
"Adolescíamos"... posso eu dizer que você nesse
poema deixa uma fresta na parede da memória por onde podemos ver o
poeta Soares Feitosa de alguns anos atrás?... ou não?
Para mim, ao ler Adolescíamos, foi como ouvir a
mesma voz de "Infância" do Carlos Drummond de Andrade.
Os outros: "Nunca direi que te amo", "A lágrima
súbita" e "Noite, dois excertos".
Agora estou envolvido com "Femina"... ou não
seria melhor Felina?... que mulher é essa!!!!!
Um abraço amigo,
Celso Brito
Referências:
2º e-mail:
Caro Soares Feitosa,
Cumprindo a promessa, estou te escrevendo um
outro e-mail, depois de uma pequena viagem que fiz com e por dentro
de seus poemas.
O pouco que sei de poesia, sei de Drummond. Não
por análise ou por convergência poética ou ideológica. Pois sou
ainda um leitor, poeta em construção. Mas pelo simples fato de que a
poesia do Drummond fala comigo, me compreende.
Foi com o Drummond, através de um livro dele
que recebi de um amigo em 23/06/1993, que descobri que as anotações
na minha agenda era um prenúncio da poesia. Pensei ser poeta, mas
anos mais tarde descobri, com o Max Martins, que o que eu sentia era
apenas fome de mim mesmo.
É dessa forma que eu convivo com a poesia, ou
melhor, é assim que a poesia convive comigo, uma vez que eu nem
sempre a compreendo, mas ela sempre sabe o que eu sinto.
Claro que outras poesias também falam comigo e
me compreendem: Vinícius de Morais, Ledo Ivo, Cecília Meireles, Cora
Coralina, Almada Negureiro... a poesia noturna de Mário de Sá
Carneiro e Florbela Espanca e muitas outras.
Admiro e me intriga o diálogo que tenho com a
poesia moderna, a poesia deita para se ler, ouvir e ver. Max Martins
e outros poetas ditos malditos me incitam ao confuso mundo das suas
palavras. As vezes gosto muito de não compreender o que os versos me
dizem, e ficar dias em busca de uma forma de contato com eles.
Viajei por quatro dias para Paraty e Curitiba e
levei comigo cinco poemas seus que eu copiei do site do Jornal de
Poesia e imprimi.
Nesses quatro dias dividi com eles a leitura
das páginas finais de “Cuba, tragédia da utopia” do Percival Puggina
e o início da leitura de “Confissões de um poeta” do mestre Ledo
Ivo.
Que me perdoe o Guimarães Rosa, mas por você,
pelo Ledo, pelo João Cabral de Melo Neto, pelo Ariano (sem
compará-los), eu sei que o sertão é bem maior que o mundo. É
infinito o universo lírico e poético que habita o mundo dos que
cumprem a arte de nascer por estas bandas de Brasil.
Desculpe-me o barrismo, eu que também sou
nordestino de nascimento, mas foi muito bom ler seus cinco poemas e
ver que mesmo compondo-os como um grafiteiro que colore o muro
branco do papel, há neles um lirismo e uma alma interiorana que
parece querer fugir da estrutura que você os coloca.
Mas neles não há resignação, nem tentativa de
fuga. Percebe-se claramente que não foram forçados, nem deslocados
do limbo. Você os conquistou, conviveu com eles e eles lhe revelaram
as mil faces ocultas... (desculpe a recorrência)
O desenho da sua poesia não é previsível. Ele
esconde uma saudade do nordeste, um gostinho de sol e mal e revela
muito mais que o que mostra as curvas tortas sob a página branca.
Neles habita um homem de Fortaleza, do Nordeste, do Brasil, com um
grande olho aberto para o resto do mundo.
Desculpe caro poeta a pobre análise (ou simples
impressão) que faço desse primeiro contato com a sua obra. Mas como
avisei no início, sou um leitor-poeta em construção e por hora só posso falar sobre o que a
poesia me conta.
Para muitos a poesia é um “dom”, nascemos
poetas. Para outros a poesia é uma construção, nos tornamos poeta.
Eu fico com a busca dos que pensam em fazerem-se poetas.
Abraços,
Celso Brito
1º email:
Caro Soares,
Que satisfação receber o seu e-mail... não sei como, mas eu não
precisei esperar um tempo, um longo tempo, para tirar o poeta das
suas "Mil e uma coisas para fazer" e responder meu e-mail.
E quanto a menina não se assuste, eu não sou profeta. E se profeta
fosse me negaria a profecia para salvar a surpresa do encontro.
Pois essa vida fica bem mais interessante quando os encontros e
desencontros não têm hora marcada.
Mas não sei se um dia o poeta terá a felicidade de ser
fotografado pela retina desses olhos assustados e tão enigmático
quanto o sorriso da Monalisa. É dela que estou falando, da Garota
Afegã que tem te deixado zonzo.
E se um dia viver essa experiência, por favor conte me em prosa ou
em versos...
Parabéns pelo site! Ontem comecei desvendar um pouco do universo
Soares Feitosa e perdi a hora de ir para a cama. Por isso hoje
acordei com cara de quem ainda está dormindo.
Aos poucos estou lendo as suas poesias e me encantando com essa sua
atribulada vida de poeta, consultor tributário, pai, marido e amigo
de tantos amigos da poesia.
Como lhe disse eu também escrevo, ou pelo menos tento. Não sei ainda
se o que faço é poesia, ou como disse o Max Martins, se é fome de
mim mesmo. Seja lá o que for, eu só sei que a vida sem poesia não
valeria a choro por ter nascido.
Por anos vivi na sombra das nuvens errantes que ousaram cobrir o meu
sol. Mas agora decidi que como centenas de anônimos e aventureiros
poetas que habitam essa chão brasileiro, "mimeografar" meus versos
para serem apreciados pelos amigos e por aqueles que gostam de
poesia.
Eu estou muito feliz com esse encontro com você e o Jornal de
Poesia. No fundo os poetas são seres de outro planeta que andam a
procura dos seus irmãos extra-terrestre para estabelecerem contato.
Um forte abraço daqui desse calor de Saquarema.
Celso Brito ou Du di Brito, como eu costumo assinar minhas poesias.
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