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Celso Brito

celso.brito@web.de

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ticiano, O amor sagrafo e o profano, detalhe

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Celso Brito


Alguns email's

Do mais recente para o mais antigo:

 

5º e-mail:

 

Caro Poeta,

Obrigado pelo envelope que me enviastes, cheio de palavras.

Palavras em forma de prosa e de poesia. Marcadas com o ferro em brasa do seu estilo de escrever, onde se pode ler (no catálogo das artes e das letras): Soares Feitosa, poeta prosador, de um sertão de tantos personagens, tantos causos, memórias, imagens e histórias.

Lendo a sua poética prosa sertaneja - escrita no ritmo da fala, com as idas e vindas das conversas, com os disse e me disse das lembranças e muitas vezes marcada pela certeza de quem estava lá - é claro para mim o fato de que ela tem a sua assinatura de estilo gravada.

Essa assinatura está no ritmo impresso pela linguagem-dialeto que você usa, nos espaços vazios da sua narrativa (propositalmente deixados para a imaginação do leitor).

Escrever tão somente não lhe basta, contar a história não é suficiente. Você precisa ir além. E vai. E consegue falar com o seu leitor, consegue perguntá-lo, ouvi-lo, instigá-lo, convidá-lo para a sua história. Lendo seus textos parece ser possível compreender o seu processo de criação, um desaguar de idéias, que vem e sai quase pronto. Imaginar de onde veio o menino que se transformou no homem-poeta de agora.

Foi isso que senti no meu primeiro contato com a sua obra, e pude comprovar um pouco desse meu sentimento, lendo a sua biografia e entrevistas que destes falando do seu trabalho.

Os seus escritos tem uma assinatura de estilo tão marcante que torna desnecessário o seu nome no fim.

Por isso, no seu ensaio, que o Ledo Ivo diz ser sobre muitas artes: Estudos e Catálogos - Mãos, acrescente, por favor, a Escrita de Feitosa, como a arte de uma escrita de estilo própria, assinada.

Um forte abraço,

Celso Brito

 

Referências:

 


 

4º e-mail: 

 

Caro poeta,

Por um tempo pensei que os verdadeiros poetas não existiam, que eram seres inatigíveis flutuando sobre o limbo das academias. Mas sei que eles existem, usam Internet, escrevem e-mails e as vezes dormem.

Sobre o sono dos poetas eu escrevi uns tímidos versos um dia, isso foi por volta de 1995, mas eu nuca tinha visto um poeta dormindo.

Agora, alguns anos depois, navegando no universo do Jornal de Poesia, encontrei essa foto, que me fez lembrar de um poema escrito há tanto tempo:

 

O POETA NO SONO

 

Do silêncio

voam mariposas

(dúbia espera)

Vaza da boca

uma baba noturna.

Sêmen do sonho

que me copula

 

Referências:


 

3º e-mail:

 

Caro poeta Soares Feitosa,

Obrigado pela recepção a base de pipoca de micro-ondas e refresco de abacaxi com hortelã... mas que tal trocar por uma carne seca com macaxeira ou uma boa rapadura com um cachaça do Ceará?... :-)

Sobre os poemas, escolhi alguns seus ao acaso... imprimi-os porque fiquei curioso para ter logo um contato com a sua poesia... e como eu estava à beira de uma viagem, decidi levá-los comigo.

São eles: "Abismo em três dias"... do qual as duas estrofes iniciais me encantaram. Nesse poema você conseguiu saltar o abismo e alcançar o mistério que ronda os encontro e desencontros da vida. Esse sentimento de dois universos se encontrando e se descobrindo... se perdendo um no outro... me deixou com uma vontade danada de botar uma roupa e sair para um chop.

"Adolescíamos"... posso eu dizer que você nesse poema deixa uma fresta na parede da memória por onde podemos ver o poeta Soares Feitosa de alguns anos atrás?... ou não?

Para mim, ao ler Adolescíamos, foi como ouvir a mesma voz de "Infância" do Carlos Drummond de Andrade.

Os outros: "Nunca direi que te amo", "A lágrima súbita" e "Noite, dois excertos".

Agora estou envolvido com "Femina"... ou não seria melhor Felina?... que mulher é essa!!!!!

Um abraço amigo,

Celso Brito

 

Referências:


 

2º e-mail: 

 

Caro Soares Feitosa,

 

Cumprindo a promessa, estou te escrevendo um outro e-mail, depois de uma pequena viagem que fiz com e por dentro de seus poemas. 

O pouco que sei de poesia, sei de Drummond. Não por análise ou por convergência poética ou ideológica. Pois sou ainda um leitor, poeta em construção. Mas pelo simples fato de que a poesia do Drummond fala comigo, me compreende. 

Foi com o Drummond, através de um livro dele que recebi de um amigo em 23/06/1993, que descobri que as anotações na minha agenda era um prenúncio da poesia. Pensei ser poeta, mas anos mais tarde descobri, com o Max Martins, que o que eu sentia era apenas fome de mim mesmo. 

É dessa forma que eu convivo com a poesia, ou melhor, é assim que a poesia convive comigo, uma vez que eu nem sempre a compreendo, mas ela sempre sabe o que eu sinto. 

Claro que outras poesias também falam comigo e me compreendem: Vinícius de Morais, Ledo Ivo, Cecília Meireles, Cora Coralina, Almada Negureiro... a poesia noturna de Mário de Sá Carneiro e Florbela Espanca e muitas outras. 

Admiro e me intriga o diálogo que tenho com a poesia moderna, a poesia deita para se ler, ouvir e ver. Max Martins e outros poetas ditos malditos me incitam ao confuso mundo das suas palavras. As vezes gosto muito de não compreender o que os versos me dizem, e ficar dias em busca de uma forma de contato com eles. 

Viajei por quatro dias para Paraty e Curitiba e levei comigo cinco poemas seus que eu copiei do site do Jornal de Poesia e imprimi. 

Nesses quatro dias dividi com eles a leitura das páginas finais de “Cuba, tragédia da utopia” do Percival Puggina e o início da leitura de “Confissões de um poeta” do mestre Ledo Ivo. 

Que me perdoe o Guimarães Rosa, mas por você, pelo Ledo, pelo João Cabral de Melo Neto, pelo Ariano (sem compará-los), eu sei que o sertão é bem maior que o mundo. É infinito o universo lírico e poético que habita o mundo dos que cumprem a arte de nascer por estas bandas de Brasil. 

Desculpe-me o barrismo, eu que também sou nordestino de nascimento, mas foi muito bom ler seus cinco poemas e ver que mesmo compondo-os como um grafiteiro que colore o muro branco do papel, há neles um lirismo e uma alma interiorana que parece querer fugir da estrutura que você os coloca. 

Mas neles não há resignação, nem tentativa de fuga. Percebe-se claramente que não foram forçados, nem deslocados do limbo. Você os conquistou, conviveu com eles e eles lhe revelaram as mil faces ocultas... (desculpe a recorrência) 

O desenho da sua poesia não é previsível. Ele esconde uma saudade do nordeste, um gostinho de sol e mal e revela muito mais que o que mostra as curvas tortas sob a página branca. Neles habita um homem de Fortaleza, do Nordeste, do Brasil, com um grande olho aberto para o resto do mundo. 

Desculpe caro poeta a pobre análise (ou simples impressão) que faço desse primeiro contato com a sua obra. Mas como avisei no início, sou um leitor-poeta em construção e por hora só posso falar sobre o que a poesia me conta. 

Para muitos a poesia é um “dom”, nascemos poetas. Para outros a poesia é uma construção, nos tornamos poeta. Eu fico com a busca dos que pensam em fazerem-se poetas.

 

Abraços,

Celso Brito

 


1º email: 

 

Caro Soares,

Que satisfação receber o seu e-mail... não sei como, mas eu não precisei esperar um tempo, um longo tempo, para tirar o poeta das suas "Mil e uma coisas para fazer" e responder meu e-mail.

E quanto a menina não se assuste, eu não sou profeta. E se profeta fosse me negaria a profecia para salvar a surpresa do encontro. Pois essa vida fica bem mais interessante quando os encontros e desencontros não têm hora marcada.

Mas não sei se um dia o poeta terá a felicidade de serA menina afegã, de Steve McCurry fotografado pela retina desses olhos assustados e tão enigmático quanto o sorriso da Monalisa. É dela que estou falando, da Garota Afegã que tem te deixado zonzo.

E se um dia viver essa experiência, por favor conte me em prosa ou em versos...

Parabéns pelo site! Ontem comecei desvendar um pouco do universo Soares Feitosa e perdi a hora de ir para a cama. Por isso hoje acordei com cara de quem ainda está dormindo.

Aos poucos estou lendo as suas poesias e me encantando com essa sua atribulada vida de poeta, consultor tributário, pai, marido e amigo de tantos amigos da poesia.

Como lhe disse eu também escrevo, ou pelo menos tento. Não sei ainda se o que faço é poesia, ou como disse o Max Martins, se é fome de mim mesmo. Seja lá o que for, eu só sei que a vida sem poesia não valeria a choro por ter nascido.

Por anos vivi na sombra das nuvens errantes que ousaram cobrir o meu sol. Mas agora decidi que como centenas de anônimos e aventureiros poetas que habitam essa chão brasileiro, "mimeografar" meus versos para serem apreciados pelos amigos e por aqueles que gostam de poesia.

Eu estou muito feliz com esse encontro com você e o Jornal de Poesia. No fundo os poetas são seres de outro planeta que andam a procura dos seus irmãos extra-terrestre para estabelecerem contato.

Um forte abraço daqui desse calor de Saquarema.

Celso Brito ou Du di Brito, como eu costumo assinar minhas poesias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Celso Brito



Das fortunas e dos dotes


Caro poeta Feitosa,

 

Fortuna crítica, essa não tenho. Ao meu respeito se algo disseram foi escondido, pelas costas, obedecendo ao protocolo do Ariano Suassuna, que diz não ser de bom grado falar mal das pessoas pela frente, é constrangedor.

Mas minha avó, sobre mim, um dia disse, que “menino como esse puta nenhuma pare outro”. Tirando os encantamentos que tem toda avó diante dos netos – o que certamente interferiu no distanciamento do observador, minha avó, em relação ao objeto observado, eu - creio que alguma coisa resta de imparcial nessa máxima de dona Maria Etelvina de São Pedro, minha avó.

Mas ela partiu, sem antes explicar os fundamentos da sua análise. Sendo assim, não sei ao certo que qualidades ela quis destacar em mim ao proferir tal observação. Mas posso garantir que nada tem a ver com a minha poesia, ou o meu gosto por ela. Nessa época, eu, com 12 anos, ainda não conhecia o caminho da escola. Mesmo já alfabetizado, em casa, pela minha mãe, eu ainda não fazia as minhas anotações em versos nas agendas e cadernos da escola.

Esse elogio de minha avó é extensivo também a minha mãe. Devo dividir com ela as honras de tal pérola. É que, estando eu na qualidade de menino impossível de ser parido por uma outra puta, que não a minha mãe, cabe a ela um papel de destaque nessa avaliação de minha avó. Ela, minha mãe, figura como a única puta capaz de parir um menino como eu. E eu, o menino que só pode ser parido uma única vez e por uma única puta, minha mãe. Eu e ela somos fonte e produto especiais na visão da minha avó.

Tirando os trocadilhos da minha tentativa de análise, e esquecendo um pouco a sonoridade profana da palavra puta - características dos rompantes verbais de dona Maria - ela fez um grande elogio ao sue neto, o que considero uma fortuna. Obrigado, vó!

Outras fortunas também não possuo. Nem mesmo um Neruda ou disco do Roberto tenho. Neruda porque o simples soar do nome, o tanto ouvir falar, os poemas lidos, o filme “O carteiro e o poeta” duas vezes visto e o livro homônimo relido, já é poesia de amor suficiente para todos os meus encontros e desencontros. Roberto porque o pouco dele que me interessa ficou lá trás com a Jovem Guarda. Sendo assim, minha única posse é o desejo de ir além do lugar onde estou, mesmo estando sempre aqui.

Um forte abraço,

Celso Brito

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Celso Brito



Um pouco do que sei sobre mim

 

Caro Soares Feitosa,
 

Sobre minha bibliografia? Sou poeta de primeira jornada, poucos escritos e nenhuma publicação. Das anotações em versos, que eu fazia nas agendas e cadernos da escola, até os poemas intencionais de hoje, nada publiquei. Fiz poucos e esparsos registros da minha quase-poesia.

Muita coisa que escrevi não saiu das agendas, outras tantas se perderam com os cadernos da escola. Parte do que suportou uma segunda leitura, está sendo revista para a publicação no Jornal de Poesia.

Inicialmente a poesia para mim foi uma embriagues, que começava quase sempre à noite e terminava com a ressaca do dia seguinte.

Hoje eu já consigo suportar por mais tempo a dor de cabeça e o gosto de cabo de guarda-chuva na boca. Detenho-me mais sob o efeito da embriagues. Já sou capaz até de encontrar sentido, hoje, no que escrevi ontem. Alguma coisa já resiste a segunda leitura.

Mesmo assim, sinto que ainda hoje os meus poemas têm medo quando eu os apanho para ler de vez em quando. Quietos e amarelados se escondem no fundo da gaveta, parece fugir dos meus olhos e minhas mãos. É que sempre há um corte, um remendo possível, uma palavra a menos ou um verso a mais. Na maioria das vezes vigora mesmo é o despacho: pro cesto de papel. E lá se vai um quase-poema voltando para o limbo, de onde talvez nunca saiu.

Mas um ou outro poema tenho publicado, em veículos de circulação local como Jornal Opinião, Jornal Correio do Tocantins, revista Evidência e jornal Lítero-Cultural Estigmasia. Todos da cidade de Marabá, no Pará. Publiquei texto sobre educação e também poema no Jornal Mundo Jovem editado pela PUC-RS. Na época de faculdade editei, até a segunda edição, junto com colegas da Universidade Federal do Pará, Campus de Marabá, o jornal Farpas. O meu trabalho no site do Jornal de Poesia é por isso a página dois da minha produção literária. A primeira publicação que reúne parte dos meus escritos.

Biografia? Essa eu tenho, até porque biografia não depende da trajetória literária. Os poetas, os caminhoneiros, os executivos, os loucos, todos têm biografia. É inerente a pessoa. É só nascer a andar alguns passos na vida que a danada nos persegue, registrando os tropeços, marcando nas rugas do rosto os anos que ainda nos faltam, e mostrando, mesmo quando escondemos, os anos que temos.

Eu nasci baiano, em Itamarajú, 1973, e me criei paraense. Por isso sou baiano, mas comi meu primeiro acarajé só aos 31 anos. Antes, dos sabores da terra e das delícias da cozinha que eu conhecia era mesmo o açaí, a maniçoba, o tacacá e o pato no tucupi. Sou baiano só de nascimento. De cultura, coração e alma sou paraense. Deus salve o Pará!... e a Bahia também.

Filho de família nordestina - que veio para o norte na década de 70, em busca das riquezas, das terras e farturas anunciadas pelo governo - eu deixei a Bahia bem criança, sem ainda saber o que eu a baiana tinha. Desembarcamos no Pará, de pau-de-arara. Cumprindo a profecia que diz que “Quem vai ao Pará, parou. Tomou açaí, ficou”, nós ficamos. Só trinta anos mais tarde, os filhos de dona Erozina Vieira Neres e seu Valdemar Caciano Brito começaram a tomar novos rumos, buscar novas terras. Eu vim para aqui no Rio de Janeiro.

Escola, eu só fui conhecer aos 12 anos. Escola rural, um barraco no meio do pasto, lugar onde as vacas dormiam quando a aula terminava. Aos 15 anos deixei a casa dos meus pais e fui para a cidade, ou melhor, uma vila, Abel Figueiredo, na época Vila Abel Figueiredo. Lá fui trabalhar o dia e cursar a noite o Primeiro Grau Supletivo. O Segundo Grau também, num sistema de módulos, chamado Sistema Modular de Ensino. A faculdade veio logo em seguida, Matemática, e na seqüência o Mestrado, Sistemas de Conhecimento. Só daí então deixei o Pará e fui para Macapá, no Amapá, seis meses apenas.  De Macapá vim para o Rio de Janeiro, Saquarema, onde moro agora.

Profissão? Depois do trabalho na roça com o meu pai, roçando, goivando, plantando e colhendo, fui na maior parte da minha vida Professor. Foram nove anos de uma atividade, para mim gratificante, exercida com muito entusiasmo e decepções também. Foi um período muito bom da minha vida profissional. Apesar das decepções quanto à valorização da profissão, como professor, eu pude me sentir bem próximo dos sonhos e das vidas de muita gente. Pude participar de alguma forma dessas vidas e desses sonhos. Aprendi e ensinei muita coisa. Tenho saudades!

Mas também trabalhei como artesão, tecendo vassouras e cestos para ajudar meu pai sustentar a família, fui comerciário, estagiário do Banco do Brasil, caixa de restaurante e bilheteiro. Atualmente sou guia de turismo no Rio de Janeiro, onde também ajudo um amigo a tocar uma Agência de Turismo e uma Pousada.

Prazeres diários? Tenho. Além da literatura, gosto de música e de cinema, três coisas que na minha vida ocupa o espaço deixado pelo trabalho. Boa música, preferencialmente brasileira, e o cinema também, brasileiro.

E se sobra tempo e dinheiro? Gosto de viajar e de cozinhar, brincar de chef. Além disso, uma cerveja gelada no fim do dia, um bom vinho num momento apropriado, um bom papo com amigos, são coisas que na vida não pode faltar.


Um forte abraço,


Celso Brito

 

 

 

 

 

25/10/2006