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Souza Santos

Entardecer, foto de Marcus Prado

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana

 

 

 

 

 

Delaroche, Hemiciclo da Escola de Belas Artes

 

 

 

 

 

Souza Santos


 

As Canções de Amor


Poema I

Amor,
porque te consigo imaginar
o gosto da boca,
a força dos braços,
o calor do corpo,

porque te consigo imaginar
a luz do olhar
o pulsar do peito
o faminto desejo

me dou,
em tremor profundo,
ainda que me desmanche
inteira
em seiva, gemidos, sussurros,
me tornando dessa maneira
em alguns versos do nosso
livro ...


Poema II

Em minhas mãos,
entregaste o corpo alvo
e nu,
de incenso e mirra esquecido,
permitindo tatuar o vale
com a lava do vulcão
amanhecido
juntos, derramados os pudores em
branda taça,
um torpor de vinhos nos cimos
duros, debruçado o grito em tua âncora,
meu espanto findo

Iniciando escrever o livro
transfiro em ti a minha força, vinda
do vermelho das ameixas
roxas,
quando teu corpo sobre o meu
derramado, calar a sede da serpente
hirta.

Na página primeira escrita
à memória do milenar gozo
no alvo corpo a escorrida lava
desmente a aridez da futura estrada.


Poema III

Porque te amo
me divido, e em mim se multiplica
o que antes sem saber
subtraído me havia.
Do cântaro no peito ressecado
renasceu a flor que não morrera,
pois que estava em nós, e não
sabíamos
pois que nos lambera, e não
sentíamos.
O teu rosto desconhecido perpetua a
chama , que no peito ainda ardia.

Porque te amo
louco me derramo, corajoso e vasto
entre as lavas do teu vulcão em
chamas,
e nos teus olhos me revejo
cálice, âmbula, patena e sacrário
inteira catedral de êxtase erguida

Nos teus braços
do cansaço me exilo,
ao longe numa curva do caminho,
vejo
o meu retrato de ontens pendurado,
do riso frouxo que da boca se me
expande,

o silêncio pleno de vidraças que se
abrem.
Em tua boca, gestamos nosso
vinho
no seio túmido, a flor que
embriaga,
em nosso gozo,
um poema de Hilda Hilst.


Poema IV

À sombra do pessegueiro,
aconchegada no meu peito
em silêncio, a solidão
urdia o caminho dos nossos passos
nos mails tímidos, travados
na virtual estrada descoberta

Tomei para mim o teu ardor
de fome de ontens tecida,
tomei toda a febre das tuas dores,
tomei-a em júbilo até o apagar
das tuas cinzas, de nomes esquecidas

Passo a passo ensaiei, cingir
em grilhões a desesperança
e nos dividimos para sermos únicos


Poema V - O Recado

Estarei ausente da tua ceia, mas deixo o pão em beijo transformado,
e mesmo que as minhas bússolas,
navegassem rotas,
encontrariam a sombra do
pessegueiro azul em teu corpo
refletido.

Dos astrolábios tantos
que nos guiaram os passos
de quilhas, conveses e tombadilhos
que nos encheram os sonhos,
estarei na milenar memória das tuas
mãos
na hora de cortares o pão,
e no cálice ausente, de vinhos e
ontens sorvido

Espera-me amor!
abre a janela e me deixa ver refletida
a tua luz.
A estrela que me guia os passos
enlouquecida de sombras,
haverá de reconhecer o teu sinal
e o advento estará em nossas mãos,
... lúdicas mãos,
de amanhãs tecida.


Poema VI

Chove lá fora,
na minha janela
a chuva insiste em dizer
que por um momento,
me exilei de você

Caiu a linha,
lá fora é noite fria
e sem estrelas onde vê-la

Nesse instante
carrego a solidão do mundo

lembro do teu riso
ao dizer-me manco
e lembro do teu pranto
ao incomentar a renda preta

Ainda chove lá fora
pe é estranho... não somos os
dois a sentir o frio.


Poema VII

Tens no seio nu
o segredo das minhas algemas
e do incansável galopar do meu
corcel
na busca embriagada do teu mel,
porque não me basta
a memória escrita do teu rosto,
nem me alcança
as janelas abertas
onde derramamos nossa solidão, e
ainda que por mil anos
galope a crina azul do meu cavalo,
o meu segredo
inatingível em tuas mãos,
escutará somente o arpejo
de correntes,
desandadas em tua busca.


Poema VIII

Porque me sabe a boca
o teu gosto, por dentro e fora
revelado,
em nuvens meus sentidos
se desfaz, enquanto sacralizo o vinho
amanhecido na tua concha pérola

Porque te descobri me deixei ficar
nas tuas ilhas, conquistado,
e me fiz pescador , dos teus silêncios,
dos frêmitos esquecidos
no tremor da carne nua, e
porque me sabe a boca o teu gosto,
te faço um poema com o sabor da lava
escorrida no meu peito.

Sinto o grito do vulcão
em minha língua enternecido,
e o rio desaflito em plena noite derramado
nas correntezas do prazer e da poesia

Me toma, conquistado por querer,
me leva, e me perde no teu canto,
deixe que sepulte o meu inferno
e esqueça a ira dos mares navegados,
renasça em mim o brilho do anjo e do demônio
igualmente opostos na carne da mesma carne,
me faça em carneiro e lã, ou musgo em cama macia,
me deite, me nine, ordene,
me ame, me ame, me ame.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Souza Santos


 

Libertação


Onde andará
quem um dia o meu passo transformou
e sutil e silenciosa e envolvente
acorrentada manteve-me a esperança

Nas insubmissas falanges do peito
em toda parte te busquei

Fiz-me do vento, das areias molhadas das praias,
dos clarões de lua que te viram nua,
dos raios de sol que te beijaram o dorso,
inimigos declarados porque cúmplices na tua fuga

De nada valeram as minhas dragonas
na tua busca
nem o rútilo da espada
tantas vezes entre os dosséis desembainhada
amedrontaram o tempo que implacável
te esconde e alcovita

Maldito para sempre
o tempo que em nós passou
qual ave de rapina, imensa,
erodiu o esvoaçar dos teus cabelos
transformou em ladeira abandonada
tuas curvas
antes precipício
onde o suicídio a cada instante eu cometia

Onde indescobertos ficaram
os altaneiros cimos de bicos acintosos
a desafiar a gravidade.

Onde o trigal às bordas do Vesúvio
em cinzas transformado

Onde a lassidão,
aquele sentimento enorme de morrer a dois
quando a maré entrechocada
confundia o sentimento e a razão

O tempo afugentou a sinuosidade do teu corpo
contido antes no leito de um vestido

Tempo, tempo, porque me obrigas
a ir buscá-la
montado na crina azul das minhas lembranças
se sabes a magia desfeita e desvanecido o encanto

Não te basta o sorver amargo
do veneno ensandecido
gota a gota
nos versos malditos
que cultivo

Arranque-a pedaço a pedaço
das minhas estrelas

Emudeça-me as mãos
petrifique-me a razão
faça-me calar no peito
a imagem que os meus galos madrugada
insistem envolver nos meus lençóis.

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Angels Rolling Away the Stone from the Sepulchre

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Anderson Braga Horta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Souza Santos


 

Na Janela


Veja essa moça na janela
repare bem nos olhos dela

Veja em seus olhos e leia
no verde daqueles campos
quanta esperança de luz

Veja como se aninha
lá em cima entre os cílios
um clarão de bem luzir

Veja essa moça na janela
repare bem nos olhos dela

Veja quantas serenatas
dançando em suas pupilas
e quantos nomes e datas
brincando de recordar

Veja essa moça na janela
não repare bem nos olhos dela

Veja suas mãos
um lírio pálido de aflição

Veja o seio que escorre
deslembrado

Veja os gestos
esquecidos e cansados

Veja aquele corpo
que se esconde na janela
e em nada se assemelha
à dona daqueles olhos

Quanto ingrato é o tempo meus Deus !
apagou toda a beleza naquela mulher
e para marcá-la mais ainda
plantou viva nos seus olhos
a semente das lembranças.
 

 

 

Da Vinci, Madona Litta_detalhe.jpg

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Pedro Nunes Filho

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

Souza Santos


 

O Romanceiro


Vinte e quatro sóis
acesos no meu caminho

um grito coagulado
na fuga desperto
e debruçada nos meus olhos
caminhaste o filho da noite
inteiro

Vinte e quatro sóis
acesos dentro de mim

um grito assassinado
no peito
deflorando o sono da fuga
nas imaturas distâncias
onde perdido deixei
o cântaro último da fé

Penetrando nos meus olhos
violentaste o aviso
da proibida entrada
perambulando
como se fosse quarta-feira
e colhendo
numa primavera de sonhos
nos jardins do que fui
vinte e quatro sóis azuis
que sem saber
p´ra você eu guardei

Na avenida de cantos
renasceste do meu peito no teu mundo
pisando as pedras do meu caminho


e lançaste o pregão ao vento :

- Ele está renascido
estive lá dentro dele
e vi flores e prantos
e notas e dores
e cantos
nos recantos escondidos
de não mostrar a ninguém
fui estranha em ruelas sem passado
conseguindo o norte encontrar
depois de caminhos tantos

- Sim, eu sei, tu descobriste
o grito há tanto escondido

Nasci em tempo de festival
meu mundo incompreendido
tem notas que são espinhos
tem flores embrutecidas
rebentadas no meu peito
tem cantos são sentidos
que às vezes eu mesmo sinto
ter tão estranho nascido

- Estranho, nasceste sim
estranho cantor eu sei
na estranheza do teu canto
existe um outro encanto
embora não saibas qual seja
é o encanto das flores mutiladas
na fronteira dos teus olhos
é a fuga dos teus lenços
num cais já vazio
é o grito acorrentado
no alagado do teu peito

O teu encanto é o gemido guardado
e nunca soluçado
nas tuas mãos de poeta !

- Sim, eu sei, tu descobriste
o meu grito
de vinte e quatro sóis
amanhecidos no peito,
e sei que nos limites
do que sou
ou nas amarras do meu verso
como pomba artesã
na minha lira te encontro

- Poeta, o meu nome é infortúnio
somos pó na mesma estrada
e nem assim nos encontramos
somos água de um só rio
que não corre o mesmo leito
no teu peito a esperança
é terra já amanhada
no meu corre a solidão
na roca do meu sonhar

- Teu suspiro não assino
nem teu pranto faço meu
no tear da esperança
há um riso que se alcança
quando o linho dá um nó
há um vento que levanta
do passado o areal
e um sol que o sepulta
quando o fuso entristecido
faz da curva o seu caminho


- A esperança rebentada no meu peito
poeta
é uma flor desesperada,
traz no seio o escarlate
das visões de fome e guerra,
nas veias abertas o choro
de crianças abandonadas
das farpas que me protegem
emanam dores e gritos
não há roca nem esperança
p´ra quem vive de amanhar
choro, dor, lamento e pranto


- Infortúnio, Infortúnio,
não há poço sem um fundo
nem túnel sem uma luz
a corda não é sempre
do enforcado o colar
nem a semente fenece
sem antes dela brotar
o fruto, a flor e a sombra
e mesmo nas mãos vermelhas
das abelhas lívidas
há um néctar
de esperança a ser sugado

- Poeta ! sonhas e deliras
quando esperanças alardeia
desespero é o cavalo
ao qual me encilhei
as abelhas de que falas
aninhadas se encontram
no ventre das minhas aranhas
minhas flores enlouquecidas
giram ao redor de um fuso
sem linha no meu tear


- Donde vens Infortúnio !
onde as sombras
que te abrigam

- Venho de longe e de perto
do tempo sou viajante
nas canaletas da dor
fui Sabra, Chatilla,
Treblinka, Sorbibor

Quem me viu Sabra
conhece o amontoado das minhas
fugas
e a profundidade da angústia
revelada na aspereza dos meus
cactos
mas sabia quanto eu era terna
e doce

Quem me conheceu Chatilla
sabia-me flor nascida em lodo,
de mãos desarmadas,
e vivendo como uma rosa
pelo espaço de uma manhã

Quando Sabra e Chatilla fui
tive os braços levantados
e os gestos inconclusos
e me vejo ainda nas flores
rebentadas
no peito daquelas mulheres

Não procures Poeta
o insondável com teu verso desvendar
somos do mesmo caminho as
pedras
e nem assim nos conhecemos
somos da mesma luz a cor
e nem assim tu me iluminas

- Infortúnio, Infortúnio !
há mil anos nossas palavras são sussurradas
e encalacradas ao peito
sem ouvidos a ouvi-las
e dizer que a tua voz me é conhecida
como a serra que me teve em berço,
e dizer que sei teu nome
embora de Infortúnio não a chamasse
nos meus sonhos, rota e triste
te chamava Liberdade ... Liberdade

- Morto o tempo Poeta
em que Liberdade fui chamada,
antes aurora brilhante
houve vácuo, mais nada,
daquela imagem altiva a sombra
se apagou
nem o eco, da solidão o amante,
guardou os meus passos, na poeira
desandados

- Infortúnio ou Liberdade
em dor também me vi envolto
passou como um vendaval
destruiu, arrancou,
renasci sem o riso
insensível ao pranto
e, com uma estrela
incrustada no peito
me fiz poeta do esquecimento

Como a fênix
das cinzas renascida
esbocei levantar-me do desespero
tentando esquecer as mãos que se estenderam
para apagar as minhas estrelas

As minhas asas
dilatadas
se enfunavam de sonho e fantasia
e no alto do meu horizonte
um rosto vagava, diluído

Eras tu Liberdade,
a pomba órfã
voluntária e sozinha
voando contra o Levante,
as esquecidas asas
não voavam em meu caminho
e o vento, meu irmão,
aprendeu a criar sombras e
nuvens de não ver

- E eu que queria uma luz acender
no ventre das estrelas
enlouquecidas de sombras
contentei-me em apagar a chama
que por meu nome o peito ardia

Cimentada nos meus passos
trago viva a esperança
de no galope azul do vento
nos quatro cantos do mundo
o meu nome ecoar .
Invadindo os teus olhos
percebi a antiga chama
e no gemido guardado
e nunca soluçado nas tuas mãos
de poeta
aninho a esperança de brilhar
a minha luz

- Sim, eu sei, tu descobriste
o meu grito
de vinte e quatro sóis
amanhecidos no peito

 

 

 

Soares Feitosa, dez anos

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Ruy Vasconcelos

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

Souza Santos




Cavalgada I


Ontem
te encontrei
nas minhas veredas anfíbias
de encantos e descaminhos
e de relance
vi o rosto
de trezentas rosas morenas
brincando de recordar

foi fugaz e relancino
o tempo meu inimigo
escondeu-a numa curva
e por mais que galopasse
a crina azul do meu cavalo
a distância ciumenta me roubava de você

mandei dizer pelo vento
velho companheiro
de brincar nos teus cabelos
te espero na guirlanda do meu verso
vamos cobrar do tempo
o saldo que ele nos deve
vamos no verde do musgo
brincar de cama macia
e o canto dos meus galos
em quatro corpetes cingidos
farão círios e dosséis
na roca do meu tear.


(do livro Estrelas Ausentes)
 

 

John William Godward (British, 1861-1922), Belleza Pompeiana

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Sergio Godoy

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Souza Santos



A tarde que me cabe


Eram quatro, as horas da manhã
quando nasci,
ainda não se havia completado
o meio-dia
quando os meus olhos se abeberaram
sôfregos,
de lembranças de nunca vistos pôr-do-sol,
de canelones que pela boca me desceram
sem lhes sentir o gosto,
de apaixonados beijos que os desejos
não me aplacaram,
e foi tão rápida a descoberta
de ter vivido somente o espaço de uma manhã
nos meus quarenta anos.

Ainda não se tinha completado
o meio-dia,
e náufrago em tábua de conveniência,
não me permitira
ver a luz que me tocara,
me lambera, me inundara.

e só pelas tuas mãos,
e pelo teu silêncio em grito de ausência
transformado,
hei de viver o período da tarde
que me cabe,
e vivê-lo tão intensamente, que os refúgios
em nossos corpos usados
inatingíveis hão de se tornar
no compassado ritmo do amor.

 

 

Allan Banks, USA, Hanna

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Regine Limaverde

 

 

 

 

 

Thomas Colle,  The Return, 1837

 

 

 

 

 

Souza Santos



O Desespero do Amante


Onde andará
quem um dia o meu passo transformou
e sutil e silenciosa e envolvente
acorrentada manteve-me a esperança

Nas insubmissas falanges do peito
em toda parte te busquei

Fiz-me do vento, das areias molhadas das praias,
dos clarões de lua que te viram nua,
dos raios de sol que te beijaram o dorso,
inimigos declarados porque cúmplices na tua fuga

De nada valeram as minhas dragonas
na tua busca
nem o rútilo da espada
tantas vezes entre os dosséis desembainhada
amedrontaram o tempo que implacável
te esconde e alcovita

Maldito para sempre
o tempo que em nós passou
qual ave de rapina, imensa,
erodiu o esvoaçar dos teus cabelos
transformou em ladeira abandonada
tuas curvas
antes precipício
onde o suicídio a cada instante eu cometia

Onde indescobertos ficaram
os altaneiros cimos de bicos acintosos
a desafiar a gravidade.


Onde o trigal às bordas do Vesúvio
em cinzas transformado

Onde a lassidão,
aquele sentimento enorme de morrer a dois
quando a maré entrechocada
confundia o sentimento e a razão

O tempo afugentou a sinuosidade do teu corpo
contido antes no leito de um vestido

Tempo, tempo, porque me obrigas
a ir buscá-la
montado na crina azul das minhas lembranças
se sabes a magia desfeita e desvanecido o encanto

Não te basta o sorver amargo
do veneno ensandecido
gota a gota
nos versos malditos
que cultivo


Arranque-a pedaço a pedaço
das minhas estrelas

Emudeça-me as mãos
petrifique-me a razão
faça-me calar no peito
a imagem que os meus galos madrugada
insistem envolver nos meus lençóis.
 

 

Alexander Ivanov. Priam Asking Achilles to Return Hector's Body

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Inez Figueredo

 

 

 

 

 

Andreas Achenbach, Germany (1815 - 1910), A Fishing Boat

 

 

 

 

 

Souza Santos



O Amor


Amor!
o que é o amor!

Não o creio,
imensurável e sempre
nem passageiro vento
de silêncio pleno
sei-o, lenho tosco
a crepitar desejos
vejo-o, teia de ontens
tecida
sei-o, ferida
que dói em revolvê-la
e revolvida
anseio ingente em sentir dor.

 

 

Michelangelo, 1475-1564, David, detalhe

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Adriana Zapparoli

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

 

 

 

 

 

Souza Santos


 

A Visão


Mirei-me na profundeza
dos teus olhos
negros
e desejei-me Senhor
do tempo


Vi-me alado nas tuas crinas
e o mar de desejos
por onde cavalgávamos
transformava cúmplice a branca espuma
em dossel carmin

 

 

 

Titian, Noli me tangere

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Roberto Gobatto

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Souza Santos


 

Poemeto I


Jamais eu ficaria quieto
exercendo o direito
de te olhar


a não ser
que aprisionássemos
o tempo

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Angels Rolling Away the Stone from the Sepulchre

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Anderson Braga Horta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Souza Santos


 

Moço Bonito


Chega mais perto
moço bonito,
chega mais...
chega junto dos meus olhos
quero ver a tua luz

Chega mais perto
moço bonito,
chega mais...
me deixe ver a poeira do caminho
trazida nas mãos e nos bolsos
e nos gestos cansados que percebo
por baixo
do verde nesses olhos tristes

Chega mais perto
moço bonito,
quero ver os signos tatuados
no teu rosto,
quero ver os caminhos desandados
enquanto não me alcançaste em tua busca

Me deixa tocar teu corpo
quero senti-lo, vibrar no toque
da minha mão renascida em você...moço bonito,
Me deixa roçar tua boca
do gosto de pêssego esquecida, pois
não me tinha revelado ainda em fruto, em mel
antes de me alcançar madura, para o teu gosto...
moço bonito.

Em troca disso tudo
te deixo renascer na seiva da minha lava,
te deixo amanhar o amanhã que descobristes
depois de caminhos tantos,
me faço em ouro negro nos olhos
p´ra combinar com a esperança
que vejo brilhar nos teus
moço bonito,

Me toma e me leva,
me vista de sonhos...moço bonito,
faça dos nossos passos
a asa de um passarinho,
me dê o canto da tua voz na minha floresta
nunca ouvido,
me diga palavras doces em sussurros de cachoeiras
murmuradas.

Chega mais perto
moço bonito,
chega mais...
 

 

 

Da Vinci, Madona Litta_detalhe.jpg

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Pedro Nunes Filho

 

 

 

 

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