Giselda Medeiros
Ao poeta de Réquiem em Sol da Tarde
Poeta, Poeta! Ah, Poeta!
Réquiem em Sol de Tarde!
Antífona!
Os Jatobás querendo se apossar do ouro do crepúsculo !
Sol-menino
espreitando, à beiradinha,
durante o cochilo de mestre Sol,
os céus,
n’água,
os olhos...
d’ela.
Poeta, Poeta! Ah, Poeta!
O amor é sempre aflito
porque na peripécia do silêncio
ele desce,
esgueirando-se, neblina e perfume,
o fruto amanhecente,
numa aurora de ouro.
E ele não teme o ataque das formigas,
a fúria dos vendavais sobre o seu diáfano
corpo
é ter que molhar-se nos beirais da espuma.
É ter que beber no sal dos silêncios
submersos,
o explosivo e indisfarçável silêncio, amor...
Poeta, Poeta! Ah, Poeta!
A Intimidade é sutil
é sutil
quando estremece
e pousa.
Sempre !
E o medo
é o gesto das duas mãos,
as duas,
conchadas de pegar
em quase...
a alma do pássaro.
E ele carece de uma sombra cúmplice
por onde possa desenhar
o azul das asas livres.
Assim, Poeta, és
o pássaro voejante
bicando a Poesia,
fecundante e fecundado,
nas alvoradas de pólen e energia!
E, saciado de orvalhos,
vais pousar no ventre da palavra,
criador e criatura,
na imortal fecundação do Belo!
Mas, escuta, Poeta:
hás que saltar sobre o abismo,
para alcançar o vale,
e irrefutáveis serão a insônia, a fagulha, o incêndio.
No entanto, Poeta,
o importante é que sempre
haverá um amanhã.
E nele repousarás teu olho agônico,
porta e ferrolho,
enclausurado o eterno!
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