Luiz Nogueira Barros
Réquiem para
Mayakovsky
(ou contra-poema do amor cativo)
Em homenagem a Eliseu Visconti
E foi dessas colunas, num certo dia flautas vertebradas,
Do poema “Flauta Vertebrada”, de Mayakovsky,
que de tantos cantos entoarem sobre as dores do amor
que o crânio do poeta se elevou em taça
e vinho aspergiu em honra das amantes mortas,
para a tristeza das Silfides ,
ainda vagueando soturnos e noturnos cemitérios.
E jamais daquelas outras, de Atlas –
– que sustentavam o mundo –
que entre os homens e mulheres
malgrados os triunfos e blasfêmias,
deitou raízes e floresceu o amor
nos bosques onde ninfas e faunos
ouviam sons de flautas mágicas.
E foi que Deus,
temeroso de blasfêmias mas prudente
fez do amor um cativeiro.
E fez do homem um Prometeu Acorrentado,
e fez da existência um penhasco sobre as águas,
e fez do calor de certos seios imprevistos
nos roteiros delirantes das paixões humanas,
fonte única do amor dos peregrinos dessa arte.
E disse:
– Carregarás o peso que te atormenta,
tal a leviandade com que pensaste e temeste
o verdadeiro e único amor !
E foi, também, e aí, que o poeta Maiakovski,
temente ao amor-único como fim último da existência,
blasfemo, insone, sem companhia na noite,
o peito ardendo tal o inferno
na noite fria de Nevski,
o pensamento incandescido,
pedindo a Deus ser amarrado à cauda de um cometa
para em seu giro se estraçalhar nos dentes das estrelas,
ou então ver na Via Látea a forca merecida
onde Deus o esquartejasse,
que o grito primitivo saiu do fundo
de uma alma amargurada pelo medo
e pela negação de um Ser Supremo:
– Mas afasta, Deus, de minha vida,
a que me escolheste como a verdadeira amada !...
|