Soares
Fina flor,
no alvorecer da movimentada roça Cearense, se é que és mesmo
daqui, deste lado de cá do mundo, habitado por nós, simples
mortais, [minhas dúvidas persistem] sim, pela tua
capacidade intracraniana, [esse negócio do mergulho no ser e de
falar da gente num simples quadro e suas versões do passado],
Quem nunca foi Teófilo? Louvo a tua capacidade escriturística e
poetística- invencionista! [sei lá se existem essas palavras!].
Mas pode ser que sejas simples viajante do espaço sideral com
capacidade de leitura das nossas histórias que vão passando num
telão lá em cima e refletidas nas estrelas próximas à tua
constelação e assim tu as remete a nós através dos códigos das
letras.
Sei que
na vida o que se tem de melhor é o buscar na mente o máximo que
ela de bom possa produzir, para marcar nas paredes do tempo a
nossa passagem pelo planeta e a nossa contribuição para os menos
favorecidos da mente e do coração, para não dizer da alma. Com
certeza são privilégios raros dados a escolhidos, como tu, que
sabes trabalhar um quadro misterioso como quem sabe fazer as
ligaduras das veias rompidas do coração sem causar nenhuma dor
aos sentimentos carcomidos pela desilusão de não saber
concatenar as lembranças de outrora com sonhos e desejos do
hoje, armazenados no profundo do ser, e, se confundindo até com
o antes, o durante e o depois, [será que ainda haverá de
acontecer?]. Mas intrigou-me a curiosidade do Teófilo de saber
como era ou seria [ sei lá ] a outra parte, a de baixo! da
fotografia! Me fez lembrar Marilene:
Passava
pela pequena rua
olhava a
face sua...
Era
Marilene, a linda!
O belo
rosto enquadrado
no quadro
feito do portal
da janela,
onde ela ficava
lindamente
debruçada.
[Todas as
manhãs... e tardes]
Um sorriso
muito mais
bonito e
suave do que o de
Monalisa,
de Leonardo!
Cabelos
longos, pretos,
[nada de
Rapunzel, pelo
amor de
Deus!],
olhos sem
definição,
[[Pela
distância que eu
os via]],
mas, olhar de
de quem
busca algo
no
infinito... bochechas
rosadas
como maçãs...
E eu a
pensar: como
seria
aquele “pedaço” do
corpo, [o
que eu não via],
pois
faltava no quadro!
Um dia me
atrevi, queria
conhecê-la. Cheguei
de
mansinho, perguntei
seu nome e
quis ficar
bem perto,
o suficiente
para vê-la
toda, e vi!!
Contou-me
sua vida,
e como
perdera as duas
pernas em
um terrível
acidente!
Estava ali,
agora,
presa a uma cadeira
de rodas,
pra sempre!
[ Cá estou
eu que nem o
Teófilo,
a me perguntar,
Afinal,
Marilene existiu,
Existe,
existirá ou é apenas
Fruto da
minha imaginação
Ou
pesadelo? Isso eu nunca
Vou
saber... ainda bem!]
É, meu
amigo, assim são os quadros! Quadros que pintamos, [na perna
bamba da ilusão do ser], que rabiscamos, [no espaço vazio da
alma] que imaginamos [na escuridão da parte clara do coração] e
que no fundo são apenas matérias para a fantasia da palavra,
porque essa sim, não podemos deixar de ter como objetivo
primordial para a [sobre] vivência do ser em sua essência, [se é
que tem alguma].
Coitado
do Teófilo! E isso porque era apenas um quadro! Pensando bem,
amigo, talvez, até, pra mim e pra você, mas na mente de quem
espera por um ser iluminado, belo e perfeito, [a busca é longa,
exaustivamente sufocante] faz muita diferença. E aí, claro, vai
importunar Deus e o mundo na tentativa de descobrir quem, como,
porque, onde, é, num é, vai, num vai, foi num foi... [haja sapo
boi ], oi, oi, oi!
E penso,
agora: quantas vezes eu fui Teófilo! Sem tirar nem botar! Vivia
fazendo os meus quadros...era Silma, Rosilda, Verônica, Maurícia,
Valdélia... todas bem emolduradas do lado esquerdo do peito!
Imaginação era o que não faltava, nunca!!!
Mas, num
posso ficá aqui me alembrando disso não, num sabe? O coração
fica arrebentadim e os ói chein d’agua, pru mode qui essa istóra
num tem e nunca terá fim!!!!! Ainda bem. E se tiver... Eu também
num conto, e pronto.
Um grande
abraço.
Poeta
Camilo Martins