Hilda Hilst
Bio-bibliografia
Um trabalho a cargo do Poesia Diária
PERSONALIDADE: HILDA HILST
"...e tudo é tão redondo e completo na hora da morte, pois aí sim é
que estás completamente acabado, inteirinho tu mesmo, nítido nítido,
preciso, exato como um magnífico teorema..."
HILDA HILST nasceu em Jaú, São Paulo, em 21 de Abril de 1930. O pai,
Apolônio de Almeida Prado Hilst, fazendeiro e poeta, era filho de
Eduardo Hilst, imigrante que veio da Alsácia-Lorena ao Brasil, e de
Maria do Carmo Ferraz de Almeida Prado. A mãe, Bedecilda Vaz
Cardoso, era filha de portugueses.
Depois de terminar o curso clássico na Escola Mackenzie, estudou na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Formada em 1952, a
jovem bacharel exerceu durante alguns meses a advocacia, profissão
que, segundo confessa, a deixou "apavorada".
Poeta, dramaturga e ficcionista, HILDA HILST escreve há quase
cinqüenta anos - publicou seu primeiro livro de poesias aos vinte
anos (Presságio) - tendo sido agraciada com os mais importantes
prêmios literários do país. Participa, desde 1982, do Programa do
Artista Residente, da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.
Em 1957 e 1961 HILDA HILST fez viagens maiores pela Europa,
demorando-se na França, Itália e Grécia.
Muito bonita, despertou grandes paixões, inclusive, do poeta
Vinicius de Moraes e foi namorada do ator Dean Martin. Casou-se em
1968 com o escultor Dante Casarini.
Seu arquivo pessoal foi comprado pelo Centro de Documentação
Alexandre Eulálio, Instituto de Estudos de linguagem, IEL, UNICAMP,
em 1995, estando aberto a pesquisadores do mundo inteiro.
Alguns de seus textos foram traduzidos para o francês, inglês,
italiano e alemão. Em março de 1997, seus textos Com os meus olhos
de cão e A obscena senhora D foram publicados pela Ed. Gallimard,
tradução de Maryvonne Lapouge, que também traduziu Grande Sertão:
Veredas, de Guimarães Rosa.
Desde 1966, HILDA HILST mora na Casa do Sol, uma chácara próxima a
Campinas-SP. Ali dedica todo seu tempo à criação literária. Quem
visitá-la em sua chácara, vai encontrá-la rodeada por pilhas de
livros, mas poucos deles tratam de literatura. Em sua maioria, são
leituras teóricas, relacionadas à física, à filosofia e à
matemática, com as quais ela procura refletir sobre questões como a
imortalidade da alma, "do ponto de vista científico, não apenas
metafísico", como ela diz. Por isso, Hilda vive mergulhada na obra
do físico Stephane Lupasco, que defende a idéia de que a alma é
feita de matéria quântica.
Foi a preocupação com a imortalidade da alma, aliás, que a levou, na
década de 70, a realizar uma série de experiências com o intuito de
gravar vozes de mortos. O estímulo surgiu a partir de pesquisas
semelhantes feitas pelo cientista sueco Friederich Yuergenson, cujos
resultados foram estudados pelo Instituto Max Planck, da Alemanha.
Sob o olhar incrédulo, mas interessado, de físicos respeitados, como
César Lattes, Mário Schenberg e Newton Bernardes, Hilda passou a
esparramar gravadores de rolo pela sua chácara, deixando-os ligados.
Trocou-os depois por gravadores cassetes acoplados a rádios
sintonizados entre duas estações. Foi assim que captou e gravou
vozes enigmáticas pronunciando palavras e fragmentos de frases,
algumas, segundo ela, com até 12 vocábulos. Não foi levada a sério e
suas experiências acabaram postas de lado. "Fosse hoje, com os
cientistas buscando novos paradigmas, eu não passaria por louca",
ironiza.
Na literatura, Hilda viveu a situação contrária: foi sempre levada a
sério. Até demais. Carregou durante toda a sua carreira literária a
fama de escritora difícil e de poucos leitores. Resolveu acabar com
a pecha seis anos atrás, ao publicar uma trilogia pornográfica,
iniciada com "O Caderno Rosa de Lory Lambi", que deixou os críticos
de cabelos em pé. Conseguiu o que queria: chamar a atenção sobre o
seu trabalho.
Hoje, de volta à literatura "séria", ela se divide entre o novo
livro e a idéia de transformar sua chácara num centro de estudos
psíquicos, filosóficos e científicos, que promova a integração entre
diversas áreas do conhecimento.
Embora preocupada com a morte e a finitude das coisas, Hilda não
perde, na vida e na arte, a sua conhecida irreverência. Talvez seja
esta a sua principal marca, que um episódio acontecido anos atrás
ilustra bem. Durante uma aula na Unicamp, ao lado de Mário Schenberg,
Hilda falava para uma platéia de físicos e estudantes. No meio da
exposição, notou que um físico presente caçoava de suas idéias, ao
mesmo tempo em que insistia em coçar as virilhas. Lá pelas tantas,
ele torpedeou: "Quer dizer que a senhora acredita realmente na
imortalidade da alma?" E Hilda, rápida: "Eu acredito na imortalidade
da minha alma, porque se o senhor continuar apenas rindo e coçando o
saco, sequer constituirá uma alma."
OBRA
POESIA
- Presságio - SP: Revista dos Tribunais, 1950.
- Balada de Alzira - SP: Edições Alarico, 1951.
- Balada do festival - RJ: Jornal de Letras, 1955.
- Roteiro do Silêncio - SP: Anhambi, 1959.
- Trovas de Muito Amor Para um Amado Senhor - SP: Anhambi, 1959. SP:
Massao Ohno,
1961.
- Ode Fragmentária - SP: Anhambi, 1961.
- Sete cantos do Poeta Para o Anjo - SP: Massao Ohno, 1962.
- Poesia (1959/1967) - SP: Editora Sal, 1967.
- Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão - SP: Massao Ohno, 1974.
- Poesia (1959/1979) - SP: Quíron/INL, 1980.
- Da Morte. Odes Mínimas - SP: Massao Ohno, Roswitha Kempf, 1980.
- Da Morte. Odes Mínimas - SP: Nankin/Montréal: Noroît, 1998.
(Edição bilíngüe,
francês-português.)
- Cantares de Perda e Predileção - SP: Massao Ohno/Lídia Pires e
Albuquerque Editores,
1980.
- Poemas Malditos, Gozosos e Devotos - SP: Massao Ohno/Ismael
Guarnelli Editores,
1984.
- Sobre a Tua Grande Face - SP: Massao Ohno, 1986.
- Alcoólicas - SP: Maison de vins, 1990.
- Amavisse - SP: Massao Ohno, 1989.
- Bufólicas - SP: Massao Ohno, 1992.
- Do Desejo - Campinas, Pontes, 1992.
- Cantares do Sem Nome e de Partidas - SP: Massao Ohno, 1995.
- Do Amor - SP: Massao Ohno, 1999.
PROSA
- Fluxo - Floema - SP: Perspectiva, 1970.
- Qadós - SP: Edart, 1973.
- Ficções - SP: Quíron, 1977.
- Tu Não te Moves de Ti - SP: Cultura, 1980.
- A Obscena Senhora D - SP: Massao Ohno, 1982.
- Com Meus Olhos de Cão e Outras Novelas - SP: Brasiliense, 1986.
- O Caderno Rosa de Lory Lambi - SP: Massao Ohno, 1990.
- Contos D'Escárnio/Textos Grotescos - SP: Siciliano, 1990.
- Cartas de Um Sedutor - SP: Paulicéia, 1991.
- Rútilo Nada - Campinas: Pontes, 1993.
- Estar Sendo Ter Sido - SP: Nankin, 1997.
- Cascos e Carícias - crônicas reunidas (1992-1995) - SP: Nankin,
1998.
TEATRO
- A Possessa - 1967.
- O Rato no Muro - 1967.
- O Visitante - 1968.
- Auto da Barca de Camiri - 1968.
- O Novo Sistema - 1968.
- Aves da Noite - 1968.
- O Verdugo - 1969 (Prêmio Anchieta)
- A Morte de Patriarca - 1969.
NOTA: Todas as peças, à execeção de "O Verdugo", são inéditas.
PRÊMIOS
HILDA HILST recebeu sete prêmios literários. Em 1962, o Prêmio PEN
Clube de São Paulo, por "Sete Cantos do Poeta para o Anjo" (Massao
Ohno Editor, 1962). Em 1969, a peça "O Verdugo" arrebata o prêmio
Anchieta, um dos mais importantes do país na época. A Associação
Paulista dos Críticos de Arte (Prêmio APCA) considera "Ficções"
(Edições Quíron, 1977) o melhor livro do ano. Em 1981, Hilda Hilst
recebe o Grande Prêmio da Crítica para o Conjunto da Obra, pela
mesma APCA. Em 1984, a Câmara Brasileira do Livro concede o Prêmio
Jabuti a "Cantares de Perda e Predileção" (Massao Ohno - M. Lydia
Pires e Albuquerque editores, 1983). No ano seguinte, a mesma obra
recebe o Prêmio Cassiano Ricardo (Clube de Poesia de São Paulo). Por
último, "Rútilo Nada", publicado em 1993, pela editora Pontes, leva
o Prêmio Jabuti como melhor conto.
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