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			Mário Hélio 
                                         
                                            
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
              
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            I (Formas) 
			 
			 
			vou deixar de fazer poema  
			para as estrelas. 
			hei de cantar as formas duras e abscônditas, 
			as formas brutas, 
			a fome e o desespero tão irmãos, 
			as pequeninas mortes, o imodelável, 
			as normas brancas. 
			o poema deve falar à alma e aos sentidos. 
			nós somos deuses: 
			deuses não destroem. 
			o mistério da imensidade não me ofusca, 
			talvez o mundo nem saiba, 
			e é isto o que me espanta e me exulta -- 
			a fonte que há dentro de mim. 
			nós somos deuses, mas ainda não 
			fizemos a descoberta. 
			diferente de todos semelhante a todos 
			sou mais poderoso 
			todas as coisas me servem eu sou as coisas 
			a dor não me espanta eu sou a dor. 
			o homem só é grande quando constrói. 
			 
			 
			não fiz mais poema para as estéreis estrelas. 
			desde a última vez que te vi em vaivém com a vida 
			não sabias da essência forte 
			que habitava o teu corpo nessas noites 
			naquelas noites em que te fiz tão minha 
			que era difícil conjugar quem eu era quem tu eras 
			já não éramos. 
			 
			 
			teu sorriso já não encherá as salas. 
			a palavra resiste a alturas ainda maiores. 
			mas que eram os ais mulher por quem te calas, 
			tu sabes que eram sinfonias de amores. 
			ah sagrada mulher, dorme em meu peito, 
			talvez o mundo te desperte amanhã. 
			o que é a vida sem o aroma do teu leito, 
			sem os hinos de afagos que me entoas no afã? 
			 
			 
			cantarei simplesmente o momento esgotado 
			como tributo. 
			neste mundo jamais conceberemos as formas puras. 
			são as impurezas que fazem as formas belas, 
			e as formas são sempre figuras 
			real ilusão 
			talvez não haja a negação da negação. 
			não é a dignidade moral que nos faz deuses, 
			é o ato de criar, nos lambusar nas formas. 
			o mundo é maravilhoso, a vida, a criação, 
			tudo é uma grande massa de modelar 
			na aparente harmonia que rege cada coisa. 
			a areia da praia é a parede celular, 
			o zumbidoecatombe é um sussurrotrovão 
			e todos são irmãos 
			nas divisas entrevalux intervalus. 
			fico pensando na alma das formigas, 
			nas mais diversas formas do criador. 
			deus é um grande artista plástico, 
			poeta músico seresteiro de noites não pensadas. 
			 
			 
			não farei mais versos às estrelas. 
			elas têm o seu vate. 
			cantarei as nossas formas 
			e mais a mais 
			existem gritos grifando a multidão, 
			é preciso perseguir as coisas e alcansá-las 
			mudá-las moldá-las mandálas acabálas. 
			nenhum halo se acendera em tua cabeça. 
			repito que a aparente sensação de vislumbre 
			é só visão. 
			através do atrazo destes anos atrozes 
			são como cem deuses sem ritos sem infinitos 
			sem eleuses 
			abaixo todos os mitos. 
			 
  
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