José Inácio Vieira de Melo
CAVALEIRO DE FOGO
Sou de uma raça
Que procede do fogo.
Não podereis calar-me.
Carlos Nejar
Neste lusco-fusco aprilino
só enxergo o escarlate;
e digo “fogo” e me inauguro,
eu, filho do Sol.
Boneco de barro
regido pelo verbo incandescente,
me alimento com a força da água
e caminho nos braços do vento.
Fogueira encarnada,
dou testemunho dos meus dias:
cicatrizes no lombo,
na cara e pelos braços;
fogo no roçado,
trinta e cinco brasas incendiando,
torrando, apurando, purificando,
lavando o rubi do coração.
Eu, boneco de barro,
cozido nas labaredas do Sertão,
recebo o batismo da estrela rainha:
Ígneo – Ignácio – Inácio.
E um pássaro de prata,
prenhe de encantos e de signos,
vem me saudar com meu destino:
cavaleiro, corcel e dragão.
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