José Inácio Vieira de Melo
Joelhos & Mel
Sent: Sat, 8 DE MAIO DE
2004 01:31
Subject: SOBRE JOELHOS &
MEL
Ave Chico Soares, cantador das paragens
gerardianas, filhote de patativas (Calheiro e Assaré).
Doce, doce o chá que acabo de beber. Uma mistura
das boas: chapéu de couro, capim santo e alfazema, adoçado com o mel
das europas da Cerca de Pedra, minha roça, caatinga do sudoeste
baiano. Bebi o chá fumegante ao mesmo tempo em que lia a tua
molequice com o maná.
Rapaz, não entendi quase nada, mas senti assim
um aperto no coração, uma saudade medonha da minha infância, quando
me lambuzava de mel e farinha, nas baixadas da Ribeira do Traipu, lá
na nação Caeté, também chamada Alagoas – meu país.
Cabra véi, é isso mesmo, a tua fala de Zé
Limeira tá toda certa, timtim por timtim, Mãe é mel, mais mãe, mais
mel, mais Mãe, mais mel, e assim se funda o ritmo da harmonia. Não
sei bem o que tô dizendo, mas tudo o que digo é culpa tua. Foi tua
prosa que desembestou essas coisas em mim. Peraí, qu'eu vou lê
“Joelhos e mel” de novo.
O teu mel é melaço de cana, isso malembra dos
cochos cheios de melaço misturado com sal grosso pra vacaria lamber,
mas não era só a vacaria que se deleitava, a meninada toda também se
lambuza – e eu junto.
Tu, poeta de Salomão, esperavas tanto pelo dia
de poder provar o cobiçado angu, mas, como no Eclesiastes, tudo tem
seu tempo, e tu esperavas e esperavas. E tu eras menino,
chiqueirando carneiros, menino bola de gude, os banhos de açude, os
imbus inchados e o conseqüente travar dos dentes. Tanta espera.
Chegada a hora do angu de mel e farinha, da
sobremesa desejada, a inocência já não era mais, e toda aquela
doçura aparece pintada de amargo, e a terra já não parece ter a
firmeza dos primeiros anos azuis do menino do Sertão, do menino dono
do horizonte...
Sabe, Francisco Siarah, só bebendo mais um
caneco de chá...
José Inácio Vieira de Melo
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